segunda-feira, 19 de maio de 2025

"Lowlands"

Fórum Cultural do Seixal, 27 de abril de 2025 às 17h

Duração: 1h30

Produção: Instável – Centro Coreográfico

Conceito, Direção e Coreografia: Helder Seabra

Interpretação: Afonso Cunha, Dinis Duarte, Joana Couto, Mário Araújo, Lea Siebrecht, Pedro Matias e Sara Santervás

Cenografia: Israel Pimenta

© Pedro Sardinha/TMP / “Lowlands”

    Em comemoração do Dia Mundial da Dança, surge “Lowlands”, uma performance de dança realizada no Porto e no Seixal que promete mexer com o público e com a sua perspetiva sobre a mente humana.

    Mesmo antes de entrar para levantar os bilhetes, na porta de entrada, existe um aviso sobre luzes fotossensíveis e sobre não ser permitido captar qualquer tipo de registo visual, suscitando curiosidade e expectativa sobre o que se está prestes a assistir. Apesar da lotação do Auditório Municipal não ter esgotado a sua capacidade máxima de 345 pessoas, a pequena sala de espera antes da entrada do auditório estava lotada, sem grande espaço para movimento, sendo a principal razão da aglomeração a escolha dos lugares, feita por ordem de chegada.

    Esta performance tem como tema a comparação da mente humana com um iceberg, por apenas conhecermos uma pequena parte dela, sendo então apresentado o espetáculo como uma representação dessa secção oculta da nossa mente, e dos sentimentos e emoções que por lá circulam.

    Assim que se entra no Auditório o que salta à vista é um andaime que ocupa praticamente todo o fundo do palco e, no seu topo estava um dos intérpretes, com o papel de narrador, e com uma mesa de mistura à sua frente, dando a entender que é ele quem vai controlar o som do espetáculo.

    A peça inicia com três dos intérpretes a criar o efeito de ondas do mar, debaixo do que parecia uma lona a tapar os corpos em movimento, e outros três por cima do efeito de ondas como se estivessem a lutar contra a força do mar. Apesar de serem poucos os momentos em que o sétimo intérprete com papel de narrador fala, este segmento inicial é acompanhado por um discurso em inglês declamado por ele, o único elemento que se expressava exclusivamente através de palavras, sendo a comunicação desta performance de dança contemporânea feita maioritariamente através da expressão corporal, da música e dos sons por eles produzidos. Os performers começam a peça com poucas peças de roupa de cor bege e, com o decorrer da mesma, estes começam a vestir peças de roupa de cores progressivamente mais vibrantes, chamado à atenção do público para tentar perceber o que estas representam. Sem muitas explicações sobre o porquê das mudanças de roupa, apenas se adicionou um novo estímulo visual entre tantos outros, aumentando a curiosidade sobre o significado de todos os elementos presentes no espetáculo.

© Pedro Sardinha/TMP / “Lowlands”

    Durante a performance existe a perceção de que a mesma está sempre a começar e a parar, devido aos movimentos que começam calmos e serenos e que, com o tempo, se iam tornando movimentos acelerados e ofegantes, acompanhados pela música e pelas luzes que abrandavam e paravam de acordo com a dança e que davam a sensação de cansaço, ansiedade e desconforto, devido às mudanças no ritmo geral da peça.

    Existem algumas paragens onde cada um dos intérpretes parece ter o seu protagonismo, onde são ditas expressões repetidamente como “Lembras-te de mim?” ou “És feliz?”, que são acentuados de acordo com o ritmo da música, como anteriormente referido, assim como aumentam a música e os movimentos, os artistas aumentam também a voz e a entoação. Em algumas dessas paragens, existem elementos como fogo ou uma bebida vermelha misturada por um dos protagonistas e oferecida como um soro libertador da mente, que os restantes resistem a ingerir.


© Pedro Sardinha/TMP / “Lowlands”

    A representação nesta performance procura explorar os limites da condição humana através da mescla de temas muitas vezes considerados tabu como a sexualidade, a religião, a psicose e o consumo de drogas, todas abordadas tanto isoladamente, como enquanto junções do todo que é o ser humano.

    A peça terminou de forma algo abrupta ligeiramente antes do tempo previsto, não parecendo um fim propriamente dito, apenas mais uma das paragens sentidas durante a peça após cada mudança de ritmo natural que foram acontecendo durante a mesma. Esta paragem repentina dá uma sensação de dúvidas acerca do objetivo e do significado da peça e inquietude por deixar a pensar se esta realmente acabou e qual a sua finalidade.