Rafael Bordalo Pinheiro (1846–1905) é uma das figuras mais marcantes da cultura portuguesa da segunda metade do século XIX. Nascido em Lisboa, de obra vasta dispersa por largas dezenas de livros e publicações, precursor do cartaz artístico em Portugal, seu nome está intimamente ligado a caricatura portuguesa, entre seus irmãos estava o pintor Columbano Bordalo Pinheiro, também ele um importante artista, com quem partilhou a tradição familiar dedicada às artes.
Bordalo Pinheiro destacou-se pelo seu percurso singular e inovador, um artista multifacetado trabalhou nas artes gráficas, plásticas, cerâmica, desenho de objetos e decoração, criando uma obra vasta e profundamente crítica do quotidiano político, social e cultural do seu tempo.
Viveu num contexto de profundas transformações sociais e tecnológicas, marcadas pelo período do Fontismo, período que impulsionou o desenvolvimento industrial e modernizou diversos setores da sociedade portuguesa. Rafael Bordalo Pinheiro contribuiu muito para a consolidação do desenho humorístico e do cartoon enquanto formas artísticas legítimas e influentes. Consciente do poder da imprensa e meios de comunicação, usava a caricatura como veículo de crítica social e política, numa linguagem acessível a todos, mantem-se atual até os dias de hoje.
Criador do símbolo da cultura popular portuguesa, Zé Povinho, apresenta-nos um retrato fiel e irônico da sociedade oitocentistas
O Museu Bordalo Pinheiro, encontra-se localizado no Campo Grande, em Lisboa. Logo na Avenida do Campo Grande somos recepcionados por um dos elementos mais curiosos e emblemáticos: uma escultura de grande dimensão do artista e um gato, obra de Rafael Bordalo Pinheiro, que se destaca na avenida. A escultura funciona como um marco visual que sinaliza, com humor e originalidade, o universo do artista. Apesar disso, o museu permanece discretamente escondido entre edifícios altos e a vegetação do bairro.
Localizada entre a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e os altos edifícios da zona, a sua entrada é quase secreta: um pequeno portão esverdeado, discreto é que marca a entrada para ao museu. o visitante é imediatamente surpreendido por um pátio animado por pequenas andorinhas de cerâmica que "voam" pelo céu, suspensas por fios quase invisíveis, criando um efeito visual poético e inesperado. Espalhadas pelo pátio, encontram-se também outras peças em cerâmica que vamos descobrindo aos poucos, à medida que nos deslocamos. A entrada no museu propriamente dito é feita por um conjunto de portas, devidamente sinalizadas por letreiros, que nos conduzem até a recepção e à loja do museu, integradas no mesmo espaço. Ao todo o museu encontra-se dividido em 3 espaços, após a aquisição dos bilhetes, inicia-se a visita às exposições,
O Museu Bordalo Pinheiro conta com um acervo muito rico, distribuídos por diversas categorias, desde de Jornais, publicações fundadas ou ilustradas por Bordalo, que refletem a sua intervenção na imprensa e na crítica social; Desenhos, como esboços, caricaturas e ilustrações; Gravuras; Pintura; Fotografia: Registos visuais que documentam a época e o ambiente em que o artista viveu; Azulejaria; Cerâmica; Documentação, arquivos e materiais que contextualizam a vida e a obra do artista; Equipamentos e Utensílios, objetos que refletem o quotidiano e os costumes da sociedade oitocentista e Escultura, Mobiliário e Têxteis que complementam a compreensão do universo artístico de Bordalo Pinheiro.
No rés-do-chão, na exposição temporária Bordalo em Trânsito, somos apresentados em três núcleos os trabalhos do artista são esses: Bordalo ao espelho, Zé Povinho, Identidade e Política e Bordalo à Mesa. Esses núcleos incluem desde caricaturas, desenhos políticos a ilustrações para menus de eventos oficiais de relevância, alguns deles relacionados até à antiga colónia do Brasil Ao final desta secção, surgem as primeiras peças de cerâmica, assim como objetos pessoais e fotografias do artista, que contextualizam a sua vida e obra, revelando uma faceta mais íntima de Bordalo. Neste primeiro contacto com o artista, já somos apresentados, as suas diversas facetas, assim como o seu lado politico, irônico e social, que se reflete nas suas obras, sejam elas gravura ou esculturas
A transição para o primeiro andar é marcada por uma pintura de Columbano Bordalo Pinheiro, irmão do artista, retrata Rafael de forma imponente e sensível, acompanhando-nos escada acima. No primeiro piso, seguimos a trajetória do icônico personagem Zé Povinho, desde sua concepção gráfica até sua materialização em cerâmica, passando por várias representações críticas da sociedade portuguesa da época. Esta sala reúne algumas das obras mais emblemáticas e politicamente carregadas do artista. É também neste piso que se encontra a sala de mediação cultural, onde acontecem atividades educativas e interativas voltadas para diferentes públicos, reforçando o compromisso do museu com a educação artística.

Ao sair do primeiro bloco expositivo, somos conduzidos a outra área do museu, que abriga a biblioteca e uma vasta coleção de cerâmica decorativa, mobiliário e objetos efémeros. Nessa secção, observamos peças com uma impressionante sobrecarga ornamental: azulejaria, mobiliário ricamente trabalhado e composições que demonstram o virtuosismo técnico e estético de Bordalo, revelando seu interesse pela decoração total e pelos detalhes exuberantes.
Por fim, visitamos a sala de exposições temporárias. Atualmente, está em exibição a mostra "Assemblages" de Júlio Pomar, criada em diálogo com a obra de Bordalo Pinheiro. Esta exposição, concebida para assinalar o centenário da morte de Rafael Bordalo Pinheiro, é uma celebração à altura do artista. Júlio Pomar deslocou-se à Fábrica Bordallo Pinheiro para criar, com base nos moldes originais de Bordalo, um conjunto único de peças de cerâmica que agora estão expostas. A mostra estabelece uma ponte criativa entre dois grandes nomes da arte portuguesa, promovendo um diálogo visual intenso e repleto de significados, agora expostas nesta exposição rica em detalhes e conceitos.
O Museu Bordalo Pinheiro revela-se não apenas com um espaço de memória, mas também um local de criação, experimentação, educação e acessibilidade. Com um espaço arquitetonicamente acolhedor e uma programação cultural ativa, o museu destaca-se como uma instituição fundamental para a compreensão da fatia importante da cultura visual portuguesa. Ao combinar humor, crítica social e beleza estética, a obra de Bordalo Pinheiro continua a dialogar com os desafios contemporâneos. O museu transforma-se em muito mais do que apenas uma experiencia estética mas também um mergulho histórico em uma época marcada por intensas transformações sociais.