terça-feira, 29 de outubro de 2019

Xerox Book#1 de Ian Burn


A segunda metade do século XX foi marcada por mudança, em particular a década de sessenta. O movimento contracultural, com toda a sua mobilização e contestação social, teve um impacto muito significativo no mundo artístico com novos movimentos que procuravam opor-se aos valores tradicionalistas da arte.

Em 1969, Ian Burn, estando a trabalhar em Nova York já desde 1967, embarca para numa direcção na sua abordagem artística e cria o Xerox Book#1, a primeira de uma série de obras com a mesma premissa. Burn começou com um folha em branco que fotocopiou numa máquina Xerox. A cópia resultante foi utilizada para fazer uma terceira cópia e assim em diante até acabar com cem páginas. Ao longo das páginas a estática electrónica da máquina vai aumentando progressivamente o ruído visual. A composição final é determinada não pela ação do artista, mas sim as pelas imperfeições da máquina. O processo e a ideia do projecto acabam por ser mais importantes do que as páginas em si e esta é a chave que está por de trás de todo o movimento conceptualista.




A Arte Conceptual representa uma total desmaterialização da obra de arte, preferindo valorizar o seu conceito. Tendo raizes no movimento DADA, o conceptualismo toma partido do carácter aleatório de aspectos simples do quotidiano, colocando-os de forma quase desemocionada sobre uma nova perspectiva. 

"In conceptual art the idea or concept is the most important aspect of the work. When an artist uses a conceptual form of art, it means that all of the planning and decisions are made beforehand and the execution is a perfunctory affair. The idea becomes a machine that makes the art. This kind of art is not theoretical or illustrative of theories; it is intuitive, it is involved with all types of mental processes and it is purposeless. It is usually free from the dependence on the skill of the artist as a craftsman. It is the objective of the artist who is concerned with conceptual art to make his work mentally interesting to the spectator, and therefore usually he would want it to become emotionally dry."
Sol Lewitt, Paragraphs on Conceptual Art, 1967

Com um caracter muitas vezes efémero, na maior parte dos casos o que sobra de uma determinada obra conceptual é o seu registo: fotos, descrições ou instruções para a reproduzir. Neste aspecto, a Arte conceptual também pode ter um caracter emancipador para o espectador. Na sua essência, o Xerox Book é um conjunto de instruções que, quando executados correctamente, resultam sempre na obra de arte. Em teoria, qualquer um de nós com acesso a a uma impressora Xerox pode fazer o seu próprio Xerox Book. Seriam todos diferentes em termos de aspecto ou até de materiais, mas o seu conceito seria idêntico. Isto é muito diferente do paradigma do mestre no seu atelier que cria a obra com o seu domínio técnico que depois acaba num museu ou galeria para ser admirado por um público. Tal como o Pop Art, a Arte Conceptual pode representar uma reação perante a sociedade de consumo e os avanços tecnológicos sentidos pela comunidade artística no começo da segunda metade do século XX. 

Isto não quer dizer que nunca encontremos uma peça de Arte Conceptual num museu numa galeria, mas uma obra verdadeiramente conceptual consegue ter autonomia para viver fora deles e assim transformar o seu caracter efémero em algo infinitamente duradouro. Museus abrem e fecham, paradigmas mudam mas ideias duram para sempre.


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