quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A Gogmagog Press e a obra de Morris Cox


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Morris Cox, inglês nascido em 1903, com formação em artes e literatura, aos cinquenta e quatro anos, cansado de ter seus trabalhos – por vezes linguisticamente demasiado experimentais – recusados por editoras, decidiu fundar a sua própria private press, a Gogmagog, A partir daí, passou a publicar ele mesmo os seus escritos. Nesse primeiro momento, no qual ainda se familiarizava com a sua nova máquina de impressão em letterpress, lançou títulos que misturavam textos e imagens de forma tradicional, ou seja, fazendo do livro apenas um veículo para a expressão de um conteúdo e não o conteúdo em si.

Essa história mudou quando, em 1960, Cox acidentalmente descobriu que a tinta poderia ser transferida de uma matriz de impressão por métodos bastante diferentes daqueles que lhe haviam sido ensinados na escola de artes, o que ele veio, mais tarde, a chamar de action printing. Nesse mesmo ano publicou The Curtain, livro que traz um poema de sua autoria ilustrado com gravuras feitas a partir de pedaços de estopa, trapos de tecido, folhas secas, penas, tinta diluída com gasolina, e até mesmo um crânio de passarinho. A partir daí os processos de impressão de suas publicações se tornaram eles próprios a essência das mesmas, perdendo suas atribuições meramente funcionais para se tornarem parte do processo criativo.

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Após o lançamento do The Curtain, a Gogmagog Press disparou a experimentar radicalmente diferentes formas de impressão e materiais na composição dos seus livros. Concepção e execução passaram a não se apresentar como processos distintos, mas cooperativos e indissociáveis. Morris Cox misturou técnicas e tintas, resgatou processos históricos e subverteu-os, fez do texto imagem, do paratexto texto. Utilizou objetos efêmeros e descartáveis, alheios ao mundo da impressão, para imprimir em papéis refinados, bem como construiu suas próprias máquinas para aperfeiçoar o sistema de impressão indireta que estava a desenvolver.






Outro trabalho interessante de Cox, realizado em 1963, quando ele estava com sessenta anos, é o livro Crash!, que pode ser considerado uma espécie de manifesto gráfico do autor, que descreve, nas páginas finais,  as técnicas utilizadas por ele para a impressão de cada uma das imagens ali presentes. Nessa altura a Gogmagog Press já estava a transcender a sua primeira missão de simplesmente publicar os trabalhos de seu idealizador para se transformar ela mesma na própria obra de Morris Cox. Cada livro era uma aventura de produção, uma soma de texto, imagem e produção que não se encaixava em nenhuma categoria preexistente. Todos encadernados manualmente pelo autor.





Ao se aproximar dos oitenta anos, quando o trabalho de impressão começou a se tornar mais penoso para seu corpo, Cox trocou o letterpress e as máquinas de impressão indireta que criou por uma máquina de xerox, na qual seguiu produzindo seus livros até os oitenta e seis anos.




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Morris Cox morreu em 1998, aos noventa e quatro anos. Seu trabalho segue até hoje relativamente pouco conhecido, mas seu vigor é ímpar.



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Referências Bibliográficas:
PIQUEIRA, Gustavo. Morris Cox e sua Gogmagog Press. Editora Lote 42: São Paulo, 2017.



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