segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Indústria, Arte e Letras. 250 Anos da Imprensa Nacional



A exposição Indústria, Arte e Letras: 250 Anos da Imprensa Nacional a decorrer até 24 novembro  no Picadeiro Real do Antigo Colégio dos Nobres em Lisboa enquadra-se no programa das comemorações de dois séculos e meio da Imprensa Nacional promovido pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM).

Dividida temporalmente em dez núcleos divididos temporalmente (Régia Oficina Tipográfica [1768-1801]; Da Impressão Régia à Imprensa Nacional [1802-1838]; A Era Dourada [1839-1870]; Entre Ideias de Progresso e Sinais de Alarme [1871-1910]; Impressão Republicana [1910-1926]; Da Ditadura ao Estado Novo [1926-1945]; Reorganização [1945-1968]; Empresa Pública e Fusão [1969-1974]; Democracia [1974- ]; Do Presente e Futuro) é possível viajar da Impressão Régia (1768) aos nossos dias. Uma narrativa cronológica da história da editora pública e simultaneamente de Portugal, com coordenação científica de Inês Queiroz, num projeto expositivo de autoria do Atelier Aires Mateus, Bianca Salmoiraghi; Gloria Binato e da FBA: João Bicker e Rita Marquito que reproduz as antigas caixas tipográficas.
Ao longo do percurso expositivo (muito semelhante a um labirinto) através da infografia, livros, documentos históricos, litografias, gravuras, utensílios (punções) e máquinas de produção (p. ex. prensas de impressão; gravação; encadernação), caixas tipográficas, etc. é possível descobrir como se desenhavam e faziam as letras, como se fundiam tipos, as linhas da história institucional, da escola/formação e o seu papel enquanto agente promotor da cultura e do acesso ao conhecimento.
O design do projeto expositivo (disposição em labirinto) apesar de facilitar a disponibilização de mais área de parede para suporte da informação, torna-se um pouco claustrofóbico principalmente nos núcleos cuja área expositiva, que também inclui vitrinas (p. ex. núcleo 2, 4, 6, 9), se torna muito pequena para um grupo de quatro ou mais visitantes. No entanto é interessante reconhecer as semelhanças entre as áreas ocupadas pelas épocas relevantes desta editora e a dimensão dos caixotins das letras de maior ocorrência na produção de texto.
Os vários níveis de informação disponibilizada (título, texto informativo, citações, legendas, etc.) estão grafados em fontes diversas, serifadas e não serifadas, cuja identificação ocorre na vertical, imediatamente antes do respetivo texto permitindo visualizar os seus traços, identificar as suas características, testar a sua legibilidade e conhecer os seus criadores nacionais e estrangeiros. Do conjunto de fontes escolhidas, verifica-se, ao longo da exposição, a opção de utilização da mesma fonte para grafar dois níveis de informação diferentes. É o caso da tábua cronológica em fonte Trade Gothic, de Jackson Burke, incluída no grupo das fontes não serifadas cujos traços pouco contrastados (grupo das Linéales de Maximilien Vox) que lhe conferem boa legibilidade. O mesmo se verifica nas citações que aparecem grafadas em Azo Sans, fonte desenhada, em 2013, por Rui Abreu, neste caso com destaque a vermelho, pormenor que poderia ter sido aproveitado em outras cores, para distinguir diferente informação, garantindo sempre uma harmonia visual.
De destacar também algumas das outras fontes disponíveis por serem consideradas de referência ou porque as suas subtilezas estilísticas guiam o olhar para a mensagem a transmitir. No grupo das serifadas, as fontes: Rockwel (1934) de F. H. Pierpont; Minion (1990) de Robert Slimbach, a Filosofia (1996) de Zuzana Licko e no grupo das contemporâneas, a fonte Antwerp (2011) de Henrik Kubel cujo design denuncia os traços tipográficos do séc xvi de Christophe Plantin. Nas fontes não serifadas o destaque para que conferem boa legibilidade aos títulos e respetivos textos. As fontes: Ribeira (2013) de Carlos Daniel Santos; a Marcian Antique (2010) de Mário Feliciano; e a Usual (2015) de Rui Abreu. Ainda a respeito das fontes escolhidas para esta exposição e à localização da informação disponibilizada, é de salientar o pormenor da localização escolhida para as legendas dos núcleos (parte inferior de uma das paredes de cada núcleo) que, apesar de grafadas em Bebas Neue (caraterizada por traços finos, limpos, formas elegantes e boa legibilidade) e da sua grandeza materializada no corpo escolhido, a localização das mesmas não facilita a sua visualização imediata o que de certa forma se poderia refletir no correto percurso a fazer apenas salvaguardado pela orientação do circuito em labirinto.
Em síntese, viajar por esta exposição, para além proporcionar a oportunidade de conhecer a história da INCM ao longo dos últimos 250 anos de atividade, revela-se um excelente exercício de aprendizagem sobre tipografia, fontes tipográficas, suas características estilísticas, leiturabilidade e legibilidade.

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