quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Livro de Artista como Acto Performativo

Em que medida o livro de artista, em si, é performativo? 
Que ações ou processos performativos incorpora? 


O livro de artista está relacionado com o livro convencional na sua forma, quer pelo seu formato, materialidade ou função. Como um todo, o livro manifesta uma estrutura conceitual, que é baseada na intenção do respectivo artista, destacando-se como uma obra de arte autónoma. É criado através de um processo de conceptualização artística que não poderia ter outra expressão senão aquela. O livro de artista não é portador da mensagem artística mas sim um medium. 

O termo ‘performativo’ foi criado por John L. Austin no âmbito das suas aulas sobre a teoria do acto da fala. O termo provém do verbo ‘to perform’ no sentido de ‘executar’, ou seja, realizar uma ação. Austin concluiu que as ações também são executadas por enunciados linguísticos, isto é, enunciados performativos. 

De forma geral os livros de artistas são performativos, em si, pelo facto de ao serem manuseados estarem em constante transformação, bem como por provocarem ações no leitor. Contêm diversos espaços que são percepcionados em momentos diferentes. As páginas são únicas e cada palavra existe como um elemento estrutural. Com todos estes componentes, o leitor torna-se protagonista, transforma a cada instante o objeto. O livro de artista pode ser visualizado de trás para a frente, do interior para o exterior, ou de qualquer outra forma. Espalha-se no espaço e no tempo, e desta forma, produz o acto performativo pretendido pelo artista. 

Nos livros de Axel Heibel é possível observar uma performance espacial, conseguida através da conjugação das páginas / desdobráveis / elementos gráficos. A experimentação visível na série Buchobjekt gera para além do espaço tridimensional um evento visual de pintura. 

Axel Heibel, Buchobjekt G / 94, 1994

O livro Every Building on the Sunset Strip, de Edward Ruscha, também implica esta performance espacial. O desdobramento em contínuo das páginas permite visualizar tanto a parte como o todo, criar novas perspectivas visuais, eliminar e compor elementos.

Edward Ruscha, Every Building on the Sunset Strip, 1966

Já o livro Ich bin ein Buch, kaufe mich jetzt (Eu sou um livro, compra-me agora) de A. R. Penck evidencia a performance textual. Neste caso, o acto de seguir a instrução do título produz por si a ação de que ele fala.


O livro de artista distingue-se do livro convencional não só pela sua estrutura, concepção e intenção artística, como também pelo seu lado performativo. Esta última característica gera ações (os actos performativos) que colocam o leitor, enquanto leitor, mas também como performer. É manuseado conforme a atenção que cada elemento lhe desperta. Existe uma interação entre a intenção do artista e a interpretação do leitor.

Sem comentários:

Enviar um comentário