terça-feira, 9 de novembro de 2021

O que é o silêncio?

O silêncio é complexo, é um ambiente que habitamos e que nos habita. Consegue ser assustador tanto quanto é tranquilizador. Assim, a dicotomia entre o silêncio cheio e o silêncio vazio serve um contraste tão forte como a dicotomia vida vs morte. 
    
Segundo o dicionário, o silêncio é definido como o estado de quem se abstém ou pára de falar; cessação de som ou ruído; sossego, quietude, calma. Portanto, a perceção comum é de que o silêncio é positivo e traz plenitude. E quando a ausência de ruído exterior nos ensurdece no interior? É possível habitar o silêncio absoluto? Não será preciso morrer? A mente produz o próprio ruído, que é mais poluidor e invasivo que o exterior. O silêncio do cheio para o vazio é reconfortante, pacífico, tranquilizador, necessário; o que vai do vazio para o cheio torna-se impossível de suportar. São extremos, não existe concordância ou neutralidade. 

Qual a relação entre o silêncio e os sentidos? Sabemos que após um dia stressante, quando nos deitamos e fechamos os olhos, todos os nossos sentidos ficam mais apurados, estamos em comunhão com o ambiente e a nossa perceção do que nos rodeia é significativamente maior. Podemos associar isto à vida, o que nos faz ter consciência de que estamos vivos. Por outro lado, os sentidos podem matar este silêncio vivo. A visão, o olfato, o tato, a audição e o paladar desaparecem e só existe o nada, o tudo morreu. Como representar o silêncio, o cheio, o vazio, a morte e a vida? O que seria uma sequência cujo destino é o silêncio absoluto? Que paisagens definem o silêncio? Que memórias? Que momentos? Que sensações? Que obras? Que objetos? Que pessoas? Que elementos? Que cores?...

 

Marina Abramovic, The Artist is Present, 2010

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