Na inquietação com a questão do tempo, dos momentos que temos no tempo, em como guardar o caminho ou o tempo, acordo com a lembrança da imagem de uma fotografia de minha infância com data de setembro de 1979, aniversário de 2 anos, no bairro situado na zona leste da cidade de São Paulo, Brasil. Inspirada no texto de Etienne Samain - Antropologia de uma imagem, reflito em qual a importância de uma imagem, o que contam, que outras imagens uma imagem pode evocar, o que acentua e que novas imagens esta cria.
Na fotografia, vê-se um enorme bolo de duas alturas coberto com lascas de coco, tradicionais nas festinhas de criança da época, a vela é a Mônica da turma de Maurício de Souza cartunista e escritor brasileiro, no canto esquerdo vemos os “cabelos rosa” do papel crepom que envolve as balas de coco, sobre a mesa copos cada um com seu guardanapo e brigadeiros numa bandeja. Ao fundo tudo era azul, a geladeira baixa, não é oponente como as que vemos hoje, sobre ela há frutas acomodadas e também alguns balões de aniversário, ao lado um clássico armário de ferro azul, digo que ele durou uns bons 18 anos, tivemos até um hamster que andava por ele, vejo os enfeites que alguns reconheço e outros não, uma planta que cresce e contorna o armário e bem ali avisto um galo português, este ou outros destes vi por todas as casas de minha infância, seja na minha mãe portuguesa ou nos meus avós paternos também portugueses — o galo português ou o galo do tempo eram presentes em todas as casas.
Para além do que se vê de fato, é possível ver nas expressões, nos gestos — são mais imagens que nos contam do que é íntimo…a mulher ao lado da menina, a mãe que está perto, próxima, ela orienta os festejos e a canção do “parabéns a você nesta data querida…e viva 2 anos de sua primeira filha” mãe e filha presentes neste momento sorriem de maneira radiante e parecem esperar uma pela outra, vê-se emoção, alegria, sintonia — quiçá tivesse sido sempre assim.
A fotografia inaugura uma paragem do tempo, ela frisa-o, congela-o. Ela captura um instante, é flagrante de uma cena vivida, experienciada. Notável que mesmo, nesse suspense do tempo, ela tem o poder de continuar a dizer e, o que diz, está sempre em movimento a depender do olhar de quem a vê, da conexão ou vinculação que acontece entre espectador e imagem.
Agora, diga-me, qual a sua leitura — O que esta imagem te conta?
O que esta imagem te lembra? O que você vê?
Referências
Samain, Etienne. Antropologia de uma imagem sem importância. Publicado em: Ilha. Revista de Antropologia,UFSC, vol.5, n.1, p. 47-63, 2003.
Sim, muito do que contou, pensei igualmente. Aniversário de 2 aninhos da Paula, junto à mãe cantando parabéns. Bolo com lascas de Coco (daí, seu gosto para tal fruta), bala de Coco embrulhada em papel cor de rosa, brigadeiros, copinhos com guarda-napo, típico da época. Ao fundo, um armário de fórmica (o de casa era parecido)... retrato de uma época única, que registra a celebração da infância pura, feliz e saudosa!!!!!
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