domingo, 27 de abril de 2025

Musical Rent – Teatro Variedades, Parque Mayer em Lisboa

Em cena de 26 de Março a 27 de Abril de 2025

Texto, Música e Letras por Jonathan Larson

Encenação: Sissi Martins



 “Five hundred twenty-five thousand, six hundred minutes (…)” é como se conta um ano, segundo a canção “Seasons of Love” do Musical Rent. E centro e trinta e cinco mil destes minutos são passados a dançar, a cantar e a aprender o que é Amor nesta peça. 

No passado dia 4 de Abril, tive o privilégio de assistir ao Musical “Rent” no Teatro Variedades no Parque Mayer em Lisboa. Tendo nascido na cabeça de Jonathan Larson, autor do texto, música e letras, este conta a história de um ano na vida de um grupo de amigos queer, artistas e com poucos recursos económicos, nos anos 90 em East Village, Nova Iorque nos Estados Unidos, durante a epidemia do HIV/SIDA. De autoria americana, este Musical estreou pela primeira vez em Janeiro do ano de 1996 no New York Theatre Workshop em Nova Iorque sob a direção de Michael Greif. Encontra-se agora em Portugal, pela primeira vez em cena, quase 30 anos depois da sua estreia. É uma produção da Music Theater Lisbon sob a encenação de Sissi Martins, que também interpreta um dos papéis da peça. 

Esta adaptação portuguesa, em pouco difere da original, sendo que transparece a colaboração do encenador original (Michael Greif) com Sissi Martins. Com um elenco composto com um grupo de atores de destaque (Bruno Huca, Carlos Martins, Diogo Leite, Dennis Correia, Gonçalo Martins, Inês Ramos, Margarida Martins, Marta Lys, Rafaela Monteiro, Marta Mota, Nuno Martins, Pedro Fontes, Pedro Paz, Sara Claro, Sissi Martins), as performances transpiram vida e energia, sendo que a tradução portuguesa das músicas, não fez muita diferença, algo que receava, visto conhecer bastante do material original. Relativamente ao design da peça, o cenário (Pedro Morim) transporta-nos imediatamente para os anos 90 em Nova Iorque, repleto de vários cartazes, de todos os tamanhos, a anunciar rendas de casa, fazendo assim alusão ao título da peça. Sinais de trânsito e estruturas de ferro, que vão sendo movidas no espaço ao longo da peça para servir vários cenários, fazem lembrar assim o ambiente acelerador e citadino das ruas nova iorquinas. 

 


Duma forma minimalista, são destacados alguns elementos da cidade, sendo que estes acabam por ser os elementos essenciais para compor o cenário das várias cenas que vão ocorrendo ao longo da peça. Com aqueles elementos, ficamos enquadrados relativamente ao espaço onde o musical vai ocorrer, sendo que as mudanças de ambiente são apenas anunciadas com alguns adereços diferentes, sabemos o essencial sobre o ambiente em que as personagens vivem nos anos 90, para mergulharmos na história. Outro pormenor interessante, é que a banda (Pedro Alvadia, Diogo Soares, David Campos, André Soares) sob direção musical de Pedro Alvadia, encontra-se no lado esquerdo do palco, sempre presente ao longo da peça, fazendo lembrar o Coro no Teatro da Grécia Antiga. O guarda roupa (Pedro Morim), repleto de verdes, vermelhos e azuis, na minha opinião, ficou um pouco aquém para nos transportar para a época. Relativamente a outros aspetos mais técnicos, o jogo de luzes (João Fontes) foi bastante positivo, cumprindo o seu propósito e ajudando a criar dinamismo e tensão em vários momentos da peça. O som (Daniel Fernandes) estava bastante sólido, ouvindo-se perfeitamente os atores. 

De sala praticamente cheia, preenchido por cabeças e ouvidos atentos tanto na plateia como nos balcões, a audiência respondeu de forma positiva ao espetáculo. Assisti ao Musical no Balcão do lado direito do palco, e apesar de ter a vista ligeiramente obstruída, tinha um lugar privilegiado para as reações do público. A plateia encontrava-se emocionalmente investida pois havia uma tentativa de batida de palmas depois de quase todas as músicas e vários lenços começaram a aparecer nos momentos mais tristes da peça. Mexiam-se no lugar e sorriam quando vários atores estavam em palco com grandes números musicais e de dança e jogos de luzes. Algumas piadas não resultaram tão bem, devido a uma tradução do texto de inglês para português, certas referências muito especificas ao contexto americano acabavam por passar ao lado. 

Achei no geral uma produção muito bem conseguida, sendo que destaco principalmente a performance dos atores e a cenografia, ambos elementos transportam-nos para o tempo e espaço em que as personagens viviam, algo difícil de alcançar visto passar-se numa realidade mais distante e num contexto diferente do português. Com um especial destaque para a performance de Dennis Correia, que interpreta a personagem de Angel, comandou cada cena em que participou, com a sua linguagem corporal e presença em palco com os seus companheiros de cena. Ocupou o espaço e foi a primeira personagem que me fez ficar investida no enredo, no Primeiro Ato do Musical. Este musical que conta as histórias de várias personagens queer, estabeleceu um papel importante na cultura americana do final dos anos 90 como também estabelece esse papel hoje em dia, em que vemos os direitos da comunidade LGBTI+ novamente atacados em vários países. O contexto em que este musical ocorreu foi diferente, sendo que Jonathan Larson escreveu sobre a vida dos seus amigos, no entanto, não deixa de continuar a ser relevante, ver vidas queer a bold e a cores, a serem as personagens principais enquanto cantam a alto e bom som para todo o mundo ouvir, sob os seus receios, vitórias, alegrias, medos e frustrações.