Entre os dias 3 de abril de 2025 e
10 de abril de 2025, a Galeria da Faculdade de Belas Artes da
Universidade de Lisboa apresentou a exposição “Fragmentos Híbridos”,
a qual se situa no corredor interior da entrada das Belas Artes. A
Faculdade é por si um espaço fragmentado pelo tempo -1217, 1858, 1932, 1980,
2025 - pedras gastas pelas pegadas onde se tenta unir a fissura do passado com
o presente. A pedra invade luz bege,
paredes expondo azulejos que escondem portas. Se não estiver atento à pequena
placa da galeria, mergulha num espaço fragmentado de pedras, portas, degraus e
esculturas de gesso. Subindo alguns degraus, do lado esquerdo, o espanto
encontrou na parede uma abertura branca e lisa. A profundidade predominou, o
vazio surpreendeu até ao vislumbre dos objetos.
Sentiu-se a simplicidade de uma exposição intimista e
delicada, onde o espaço foi amplo para o tamanho pequeno dos desenhos, fotos,
pinturas e instalações de pequenos objetos, fragmentos e experiências
sensoriais. A luz vem de 3 janelas, de alguns pequenos holofotes acentuando o
brilho refletido nas paredes e nas composições. No fundo mais escuro,
desenhou-se um círculo de luz que destacou um misterioso espaço. Os
artistas participantes foram: Carlos Henriques, Catarina Reis, o
grupo: João Pedro Costa, Ana Mena, Helena Elias e João Castro Silva; Jorge
Forero, Lui Avallos, Marta Lucas, Pedro Ângelo, e os coletivos ARTiVIS
e ÉBANO, “as composições plasmam diferentes temporalidades e estágios
matéricos, colapsando planos visuais que evocam tanto a teoria “da
matéria vibrante” de Jane Bennett, como o “conhecimento
situado” de Donna Haraway e “o sujeito nómada” de Rosi
Braidotti.”
Os
folhetos da exposição ressaltavam ao olhar pela imagem ilustrativa da capa e a e a sua relação com o título, Fragmentos Híbridos. Acompanhou bem a
visita e a reflexão sobre os conteúdos teóricos e informativos. Continha um QR code para aceder à Realidade
Aumentada, Artivive, uma ferramenta revolucionária que ajudou a transformar
a maneira de olhar a exposição. O acompanhamento foi contínuo no descobrir dos
fragmentos correspondentes que formavam, assim, um todo. “Através de uma
seleção de imagens e objetos de diversos artistas, a exposição apresenta fragmentos
que ora se manifestam como documentos, ora se reconfiguram como “imagens
sobreviventes” de Georges Didi-Huberman, surgindo em novas
materialidades e ambientes digitais que mantêm a latência das suas aparições
anteriores.” As imagens fantasmas, as que “sobrevivem nas fotografias”. O
folheto foi dando a conhecer a exposição, através do mapa da galeria, e a possibilidade
de ler e pesquisar para aprofundar e conhecer os diversos projetos. Um bom guia
informativo e didático, para quem não é desta área “A exposição Fragmentos
Híbridos, emerge no âmbito das materialidades híbridas e de processos
artísticos baseados na prática. Explora-se assim a potencialidade especulativa
do fragmento como conceito operativo nas artes e como recurso para a formação
em investigação artística no ensino superior.” Partindo da ideia de que uma
porção de algo pode renascer e recriar qualquer outra “coisa”, a
mostra propõe situações experimentais que articulam diferentes corpos materiais
no continuum da realidade-virtualidade. Este processo visa
promover o diálogo entre sujeitos e materiais, que também podem ser sujeitos.”
A organização do espaço foi fluida
no seu percurso, sendo este contínuo. A disposição das obras ajudou na
compreensão da intenção dos conteúdos. As ferramentas digitais ou virtuais estiveram
disponibilizadas na exposição. Num fluxo grande, houve sempre a possibilidade
de aceder ao QR code e utilizar a ferramenta Realidade Aumentada
no telemóvel. Deu a ideia de que os materiais não são meros recipientes
passivos de experiências, mas entidades ativas, portadoras de histórias. Há uma
energia latente em tudo o que existe: uma potência que vibra, embora invisível,
presenteia o mundo com uma presença além da humana. O percurso iniciou por um pequeno desenho de um fragmento
arqueológico, com o nº1, no qual foi utilizada a Realidade Aumentada.
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Planta e título das obras |



Continuando
por 3 composições sem título pode-se, assim, ver dois mundos, duas visões, nas
quais se deixou a perceção divagar e surpreender-nos.
As emoções evadiram e tudo se
transformou num percurso de espanto e curiosidade. O espaço começou a ser mais
pequeno, mas os objetos continuaram a contar a sua história e memórias
fantasmas. A mostra propôs situações experimentais, as quais interagiram fragmentadas
com o corpo e o espaço. A RA desvendou essas memórias interiores.

“Inspirando-se na noção de tessera
da crítica literária de Harold Bloom, (1973), e no conceito
de constelação enquanto processo criativo dinâmico de Helena Elias,
(2019), que resgata a complexidade, significado e autonomia do
fragmento de Luísa Perienes 2010), Fragmentos Híbridos expande
o conceito de “fragmento nómada” proposto por Helena Elias,
Mónica Mendes, Pedro Ângelo e Marta Lucas (2024)”. “Numa progressão de
texturas, espaços e materializações híbridas, a exposição é um convite à
imersão através de experiências multissensoriais, do desenho e da pintura aos
fragmentos de múltiplas proveniências, aos conteúdos em Realidade Aumentada
e Realidade Virtual.” 

https://www.belasartes.ulisboa.pt/o-fragmento-nomada-workshop-
do-projecto-caphe/


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projeto CAPHE |
A Curadoria da exposição foi da Helena Elias (professora auxiliar a tempo inteiro no departamento de escultura da FBAUL, coordenadora da unidade curricular de cerâmica e coordenadora da linha de investigação no fazer artístico e científico no VICARTE, supervisionando 3 bolseiros de doutoramento de investigação artística da FCT e liderando o projeto ARcTic South e ela é membro do projeto de pesquisa artística Memory) e da Mónica Mendes (artista de media digitais, designer e professora no Departamento de Arte Multimédia. É também investigadora no ITI/LARSYS - Instituto de Tecnologias Interativas, colaboradora no CIEBA – Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes, da FBAUL, membro fundadora do hackerspace altLab do AZ Labs. Interessada em projetar para um mundo mais sustentável, criou o projeto ARTiVIS, explorando sistemas interativos em tempo real na intersecção entre Arte, Ciência e Tecnologia.). A Curadoria foi eficaz, deu coerência entre as composições e o tema. As curadoras estiveram envolvidas, foram participantes, investigadoras e organizadoras, conseguindo que os conteúdos e os resultados fossem mais coesos. A Exposição relacionou-se bem com as tendências contemporâneas na Arte e na Sociedade, refletindo as diversas preocupações, e tentando uma aplicação mais consistente ao nível da Realidade Virtual e da Inteligência Artificial. Uma exposição com um teor didático devido às práticas de Workshops com outras Faculdades (Quénia) e na própria FBAUL, com alunos. Novas metodologias em escultura com ações criativas em 3 ambientes: sala de aula, atelier, residência artística; as dinâmicas foram decorrentes da prática/reflexão; o conceito de constelação como processo dinâmico criativo: imagem migrante, mesa de montagem/ tessera. “As experiências resultantes abrem caminho para novas abordagens na educação artística, especialmente no que respeita à investigação artística e à sua transferência de conhecimento.“Em particular, a exposição dá a conhecer o trabalho de investigação artística desenvolvido por doutorandos da FBAUL no âmbito das atividades do projeto CAPHE…Neste enquadramento, incluem-se conteúdos documentais realizados durante as mobilidades efectuadas aos países dos seus parceiros, nomeadamente as explorações artísticas assumidas no treino de investigação ao nível do 3º ciclo FBAUL.” Foi uma experiência Híbrida, enriquecedora culturalmente, lúdica, experimentalista nas diversas realidades em que andámos (atual, passada, do sonho, digital, virtual, aumentada…) e importante para a Educação Artística ao nível da formação dos professores. Sem dúvida que foi uma exposição inesquecível para quem a fruiu, principalmente nas Salas Fechadas Virtuais - Os Quatros Elementos, e na visita à Sala da Exposição Virtual - Avatares,sem faltar o normal “AAAH!”