segunda-feira, 28 de abril de 2025

Fragmentos Híbridos no continuum da realidade - virtualidade



Entre os dias 3 de abril de 2025 e 10 de abril de 2025, a Galeria da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa apresentou a exposição “Fragmentos Híbridos”, a qual se situa no corredor interior da entrada das Belas Artes. A Faculdade é por si um espaço fragmentado pelo tempo -1217, 1858, 1932, 1980, 2025 - pedras gastas pelas pegadas onde se tenta unir a fissura do passado com o presente.  A pedra invade luz bege, paredes expondo azulejos que escondem portas. Se não estiver atento à pequena placa da galeria, mergulha num espaço fragmentado de pedras, portas, degraus e esculturas de gesso. Subindo alguns degraus, do lado esquerdo, o espanto encontrou na parede uma abertura branca e lisa. A profundidade predominou, o vazio surpreendeu até ao vislumbre dos objetos.    
 

Sentiu-se a simplicidade de uma exposição intimista e delicada, onde o espaço foi amplo para o tamanho pequeno dos desenhos, fotos, pinturas e instalações de pequenos objetos, fragmentos e experiências sensoriais. A luz vem de 3 janelas, de alguns pequenos holofotes acentuando o brilho refletido nas paredes e nas composições. No fundo mais escuro, desenhou-se um círculo de luz que destacou um misterioso espaço. Os artistas participantes foram: Carlos Henriques, Catarina Reis, o grupo: João Pedro Costa, Ana Mena, Helena Elias e João Castro Silva; Jorge Forero, Lui Avallos, Marta Lucas, Pedro Ângelo, e os coletivos ARTiVIS e ÉBANO, “as composições plasmam diferentes temporalidades e estágios matéricos, colapsando planos visuais que evocam tanto a teoria “da matéria vibrante de Jane Bennett, como o “conhecimento situado de Donna Haraway e “o sujeito nómada de Rosi Braidotti.”

Os folhetos da exposição ressaltavam ao olhar pela imagem ilustrativa da capa e a e a sua relação com o título, Fragmentos Híbridos. Acompanhou bem a visita e a reflexão sobre os conteúdos teóricos e informativos.  Continha um QR code para aceder à Realidade Aumentada, Artivive, uma ferramenta revolucionária que ajudou a transformar a maneira de olhar a exposição. O acompanhamento foi contínuo no descobrir dos fragmentos correspondentes que formavam, assim, um todo. “Através de uma seleção de imagens e objetos de diversos artistas, a exposição apresenta fragmentos que ora se manifestam como documentos, ora se reconfiguram como “imagens sobreviventes” de Georges Didi-Huberman, surgindo em novas materialidades e ambientes digitais que mantêm a latência das suas aparições anteriores.” As imagens fantasmas, as que “sobrevivem nas fotografias”. O folheto foi dando a conhecer a exposição, através do mapa da galeria, e a possibilidade de ler e pesquisar para aprofundar e conhecer os diversos projetos. Um bom guia informativo e didático, para quem não é desta área “A exposição Fragmentos Híbridos, emerge no âmbito das materialidades híbridas e de processos artísticos baseados na prática. Explora-se assim a potencialidade especulativa do fragmento como conceito operativo nas artes e como recurso para a formação em investigação artística no ensino superior.” Partindo da ideia de que uma porção de algo pode renascer e recriar qualquer outra “coisa”, a mostra propõe situações experimentais que articulam diferentes corpos materiais no continuum da realidade-virtualidade. Este processo visa promover o diálogo entre sujeitos e materiais, que também podem ser sujeitos.”
A organização do espaço foi fluida no seu percurso, sendo este contínuo. A disposição das obras ajudou na compreensão da intenção dos conteúdos. As ferramentas digitais ou virtuais estiveram disponibilizadas na exposição. Num fluxo grande, houve sempre a possibilidade de aceder ao QR code e utilizar a ferramenta Realidade Aumentada no telemóvel. Deu a ideia de que os materiais não são meros recipientes passivos de experiências, mas entidades ativas, portadoras de histórias. Há uma energia latente em tudo o que existe: uma potência que vibra, embora invisível, presenteia o mundo com uma presença além da humana. O percurso iniciou  por um pequeno desenho de um fragmento arqueológico, com o nº1, no qual foi utilizada a Realidade Aumentada.
Planta e título das obras

  
      
                                                        


                 

Continuando por 3 composições sem título pode-se, assim, ver dois mundos, duas visões, nas quais se deixou a perceção divagar e surpreender-nos.




As emoções evadiram e tudo se transformou num percurso de espanto e curiosidade. O espaço começou a ser mais pequeno, mas os objetos continuaram a contar a sua história e memórias fantasmas. A mostra propôs situações experimentais, as quais interagiram fragmentadas com o corpo e o espaço. A RA desvendou essas memórias interiores.                                                              



“Inspirando-se na noção de tessera da crítica literária de Harold Bloom, (1973), e no conceito de constelação enquanto processo criativo dinâmico de Helena Elias, (2019), que resgata a complexidade, significado e autonomia do fragmento de Luísa Perienes 2010), Fragmentos Híbridos expande o conceito de “fragmento nómada proposto por Helena Elias, Mónica Mendes, Pedro Ângelo e Marta Lucas (2024)”. “Numa progressão de texturas, espaços e materializações híbridas, a exposição é um convite à imersão através de experiências multissensoriais, do desenho e da pintura aos fragmentos de múltiplas proveniências, aos conteúdos em Realidade Aumentada e Realidade Virtual.”                                                                       

 

  https://www.belasartes.ulisboa.pt/o-fragmento-nomada-workshop- do-projecto-caphe/


 projeto CAPHE
                                                                    A Curadoria da exposição foi da Helena Elias (professora auxiliar a tempo inteiro no departamento de escultura da FBAUL, coordenadora da unidade curricular de cerâmica e coordenadora da linha de investigação no fazer artístico e científico no VICARTE, supervisionando 3 bolseiros de doutoramento de investigação artística da FCT e liderando o projeto ARcTic South e ela é membro do projeto de pesquisa artística Memory) e da Mónica Mendes (artista de media digitais, designer e professora no Departamento de Arte Multimédia. É também investigadora no ITI/LARSYS - Instituto de Tecnologias Interativas, colaboradora no CIEBA – Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes, da FBAUL, membro fundadora do hackerspace altLab do AZ Labs. Interessada em projetar para um mundo mais sustentável, criou o projeto ARTiVIS, explorando sistemas interativos em tempo real na intersecção entre Arte, Ciência e Tecnologia.). A Curadoria foi eficaz, deu coerência entre as composições e o tema. As curadoras estiveram envolvidas, foram participantes, investigadoras e organizadoras, conseguindo que os conteúdos e os resultados fossem mais coesos. A Exposição relacionou-se bem com as tendências contemporâneas na Arte e na Sociedade, refletindo as diversas preocupações, e tentando uma aplicação mais consistente ao nível da Realidade Virtual e da Inteligência Artificial. Uma exposição com um teor didático devido às práticas de Workshops com outras Faculdades (Quénia) e na própria FBAUL, com alunos. Novas metodologias em escultura com ações criativas em 3 ambientes: sala de aula, atelier, residência artística; as dinâmicas foram decorrentes da prática/reflexão; o conceito de constelação como processo dinâmico criativo: imagem migrante, mesa de montagem/ tessera. “As experiências resultantes abrem caminho para novas abordagens na educação artística, especialmente no que respeita à investigação artística e à sua transferência de conhecimento.“Em particular, a exposição dá a conhecer o trabalho de investigação artística desenvolvido por doutorandos da FBAUL no âmbito das atividades do projeto CAPHE…Neste enquadramento, incluem-se conteúdos documentais realizados durante as mobilidades efectuadas aos países dos seus parceiros, nomeadamente as explorações artísticas assumidas no treino de investigação ao nível do 3º ciclo FBAUL.” Foi uma experiência Híbrida, enriquecedora culturalmente, lúdica, experimentalista nas diversas realidades em que andámos (atual, passada, do sonho, digital, virtual, aumentada…) e importante para a Educação Artística ao nível da formação dos professores. Sem dúvida que foi uma exposição inesquecível para quem a fruiu, principalmente nas Salas Fechadas Virtuais - Os Quatros Elementos, e na visita à Sala da Exposição Virtual -  Avatares,sem faltar o normal “AAAH!”

Apoios de ITI/LARSYS, VICARTE e LiDA – (ESAD.CR/ IPL) com a parceria da CAPHE©2025 - COMMUNITIES AND ARTISTIC PARTICIPATION IN HYBRID ENVIRONMENTS – HORIZON EUROPE PROGRAM UNDER GRANT – AGREEMENT NO. 101086391

https://iti.larsys.pt/project/artivis/                                                                      https://iti.larsys.pt/                https://www.artivive.com/                                                       https://www.ebanocollective.org/team/ 

http://artivis.net/about/                                                                         https://vicarte.org/projects/

https://lida.pt/pt-pt/about/