quinta-feira, 24 de abril de 2025

Febre dos Fenos de Noël Coward





"Febre dos Fenos"

Escola de Atores Inimpetus, Campolide, Lisboa – 10 de abril de 2025



   A comédia Febre dos Fenos, da autoria de Noël Coward e encenada por Jorge Balça, promete charme, sarcasmo e emoção — e, de facto, oferece um espectáculo envolvente e dinâmico, que capta facilmente a atenção do público.

   Desde os primeiros momentos, nota-se uma diferença evidente entre os actores: alguns parecem ainda estar a ganhar confiança em palco, enquanto outros revelam já segurança e à-vontade, como é o caso da actriz Shoral, cuja interpretação destaca-se pela naturalidade e presença. Em contraste, alguns actores masculinos exageram nas expressões e movimentos — o que poderá ter sido uma escolha deliberada para reforçar o lado cómico da peça, mas nem sempre resultou da melhor forma.

   O cenário, embora simples, é eficaz e ajuda a criar o ambiente sofisticado da alta sociedade britânica, sendo esse um dos principais objetivos da peça. No entanto, certas opções de encenação levantam algumas dúvidas — como a utilização repetida da parte frontal do palco (boca de cena) sem motivo aparente, ou os momentos em que os actores projectam demasiado a voz, quase como se estivessem a cantar, o que quebra o realismo da cena, ou ainda as interpretações exageradas bastante marcadas pou um surrealismo estético.



   O humor, no geral, é bem conseguido, embora algumas vezes torne-se exagerado ou mesmo com uma perda de ritmo. Um exemplo disso é uma cena entre duas actrizes que começa com graça, mas acaba por se prolongar demasiado. A personagem do criado Manuel é particularmente carismática e provoca várias gargalhadas no público, mas nota-se que o ator está demasiado consciente do impacto que causa, o que retira alguma naturalidade à sua interpretação e mesmo o impacto cómico que era suposto conseguir. 

   No segundo acto, há uma mudança brusca na narrativa e nos figurinos, o que pode confundir o espectador. A reviravolta é interessante, mas a forma como é apresentada — com trocas de roupa drásticas e o foco em “jogos teatrais” — levanta mais questões do que aquelas que responde.



   Do ponto de vista técnico, destaca-se a direcção de Jorge Balça, marcada por diálogos rápidos e um ritmo acelerado, que para quem conhece bem o seu trabalho percebe ser uma característica comum. No entanto, essa intensidade, aliada ao visível cansaço dos atores, dificulta por vezes a compreensão do texto.

   Em suma, Febre dos Fenos é um espectáculo ambicioso, com momentos de grande qualidade e humor eficaz, mas que sofre algumas interpretações desequilibradas e escolhas criativas que, por vezes, prejudicam a fluidez da narrativa. Ainda assim, destaca-se pela entrega dos actores e pela ousadia em explorar o absurdo e a crítica social de forma original.