quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

The Gibson Girl


The Gibson Girl, Charles Dana Gibson

No final do século XIX e início do século XX, surgiu a primeira onda do feminismo, marcada pela defesa do direito das mulheres à educação, à independência e individualidade e principalmente, do direito ao voto. Deste modo, começa a emergir na América uma “Nova Mulher” (New Woman), que veio a alterar os padrões da imagem feminina conhecidos até então, valorizando a sua liberdade, a sua autonomia, a sua educação e cultura. O conceito da “Nova Mulher” foi primeiramente apresentado por uma escritora irlandesa, Sarah Grand, no seu artigo The New Aspect of the Woman Question, publicado na revista literária North America Review, em 1894, e mais tarde popularizado pelo escritor Henry James que introduziu à literatura norte-americana a figura da heroína, mulher capaz e independente.

Em plena Belle Époque, viviam-se tempos de inquietação e efervescência politico-cultural. Com o desenvolvimento dos cabarés e com a popularização das viagens sobre o atlântico, crescia cada vez mais o desejo de liberdade e euforia na população, permitindo o crescimento do ideal da “Nova Mulher”, que começava a questionar cada vez mais o papel tradicional do género feminino. Foi também nesta época que surgiram as primeiras grandes revistas de moda e entretenimento, como a Harper’s Bazaar e a Vogue, onde eram expostos cartoons e ilustrações sobre a nova maneira de pensar e viver o quotidiano. Deste modo, foi neste contexto, de grande criação e valorização da cultura e da liberdade feminina, que Charles Dana Gibson cria a Gibson Girl, a representação da “Nova Mulher” e considerado, o primeiro ideal de beleza americano.


Serious Business, Charles Dana Gibson

Charles Dana Gibson foi um artista, ilustrador e editor americano. Ao longo da sua carreira, desenhou cartoons e ilustrações para várias revistas da época, nomeadamente a Vogue, a Women’s Wear Daily, a Harper’s Bazaar e a Life, onde mais tarde veio a assumir o papel de editor. No entanto, no final da Primeira Grande Guerra, retirou-se e demitiu-se desta última, passando a dedicar-se à pintura a óleo. Dono de um estilo próprio, caracterizado pela linha e pela sua expressão, ganhou popularidade através do desenho da Gibson Girl, símbolo das transformações sociais e culturais que se faziam sentir na altura.

Fascinado pelo movimento feminista e pela emancipação da Mulher, Charles Dana Gibson procurou retratar a “Nova Mulher”, e traduzir esse perfil numa imagem que refletisse esse novo estilo de vida e beleza que marcava a época. Deste modo, nasceu a Gibson Girl. A Gibson Girl é retratada como uma jovem esclarecida e culta, atenta ao que a rodeia e com uma grande paixão pela arte e pela cultura. Membro da alta-sociedade e ávida frequentadora de círculos literários e escolas de arte, era retratada como uma mulher multifacetada, determinada e aventureira, que procurava acima de tudo, realização pessoal. Fisicamente, a Gibson Girl apresentava um corpo atlético e cuidado. Era alta e elegante, apresentava uma silhueta delgada, ombros e quadris largos, cintura e pescoço finos, cabelo volumoso e apanhado em estilo pompadour e silhueta marcada pela forma da letra “S”. Sempre elegante, tinha um guarda-roupa invejável, apresentando um vestido para cada ocasião.

Art Lesson, Charles Dana Gibson

Apesar de inspirada nas sufragistas da época, a Gibson Girl, não apresentava ter algum tipo de compromisso em relação às ideias feministas defendidas na altura, no entanto manifestava a sua posição através da defesa da igualdade política, da cultura do consumo e de diversas reformas sociais. Porém, preferia manter as suas ideias nos bastidores. Esta apresentava algumas semelhanças com as ativistas, era independente e tinha uma postura dominante, no entanto, Charles Gibson procurou retratá-la de uma forma mais “romântica”, procurando o lado feminino e sedutor destas figuras, tendo por isso se inspirado também não só na sua mulher, Irene Langhorne, e nas suas quatro irmãs, mas também
em personalidades do mundo do espetáculo, como a atriz Camille Clifford e a modelo Evelyn Nesbit. Deste modo, conseguiu popularizar e credibilizar a Gibson Girl, e fazer com que esta se tornasse uma figura presente no quotidiano de todas americanas que a viam nas revistas.

A ilustração de Gibson ganhou notoriedade e rapidamente se propagou por grande parte do mundo, criando um novo ideal de beleza que muitas mulheres tentavam alcançar. Era frequente encontrar a sua imagem retratada em merchandising, sob a forma de fronhas, souvenirs, pires, ventoinhas, leques e cinzeiros. No mundo da ficção foi também retratada em filmes e em livros.

Assim, a ilustração de Charles Gibson inaugurou o primeiro ideal da beleza feminina americana, no entanto, mais do que um ícone da moda feminina e uma figura superficial presente nas revistas, a Gibson Girl representa a alteração do papel da Mulher na sociedade da época, as mudanças dos costumes e maneiras, e acima de tudo, a evolução e caminho trilhado pela Mulher moderna na luta pelos seus direitos e igualdade.

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Referências:
Testoni, Marcelo (2019). Gibson Girls: Surge a Mulher Moderna. AH Aventuras na História

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