segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Sharon Lockhart – Meus pequenos amores / My little loves



O Museu Coleção Berardo inaugurou no dia 18 de outubro a exposição Meus Pequenos Amores de Sharon Lockhart, com a curadoria de Pedro Lapa. Esta exposição reúne obras em fotografia, filme e outros objetos que retratam uma comunidade particular de crianças e raparigas adolescentes residentes no Centro Juvenil de Socioterapia de Rudzienko, na Polónia.

O ponto de partida para esta exposição é feito através do filme Rudzienko (2016). As ações, as experiências e as vozes dos jovens são o assunto principal, e é onde no primeiro momento da trilogia, Podwórka (2009), que Lockhart conhece Milena, e mais tarde as outras raparigas. Este convívio levou-a a criar com as jovens filmes que exploram interações sociais pessoais e coletivas.


A relação íntima que Lockhart partilha com os jovens permite-lhe filmar e fotografar as singularidades de cada individuo através de composições meticulosamente estudadas e coreografadas. O conjunto de obras apresentadas nesta exposição resulta do envolvimento da artista com a infância e a adolescência dos jovens que participam, obtendo uma confiança daquelas que permite correr de olhos fechados e ser-se livre no escuro.


Os trabalhos selecionados abrangem os anos 1999 até 2017, em que a artista desenvolve ideias relacionadas com os direitos das crianças, o efémero e a emancipação. Inspirada pelo pedagogo Korczak, Lockhart queria dar voz às crianças e sentimos isso ao longo desta exposição. Os jovens manifestam-se abertamente e em nenhuma altura sentimos que a sua privacidade foi invadida. Uma vez que a relação que existia entre as participantes e a artista não surgiu através de linguagem falada mas, através de brincadeiras e imagens trocadas, podemos observar essa conexão pelo movimento corporal e através das suas atividades, captadas por uma camera com planos fixos, explorando a interação pessoal e coletiva.


Esta exposição é uma documentação das jovens residentes do Centro Juvenil, composta por momentos efémeros e por outros objetos como uma edição em braille do livro “Como amar uma criança” de Korczak (1919) e uma monoprint recriada por Lockhart e as adolescentes, chamada “The Little Review”. São apresentados ao visitante exemplares gratuitos com edições em inglês e em português.



Ao caminhar pelo acolhedor corredor de espaços iguais e tetos baixos podemos ouvir o som de crianças a brincarem. A meio deste deparamo-nos com um tríptico que quebra a leitura das salas até ali. São três fotografias de Milena, em que nos apresenta um olhar tímido e divertido. As imagens são instaladas em três volumes arquitetónicos e dispostos de forma a não nos ser permitido ver as três fotografias em simultâneo, obrigando o observador a mover-se, criando uma espécie de coreografia.



Têm se uma sensação de intimidade e evolução. O crescimento destas crianças é documentado, mas é com Milena que cumprimos a derradeira corrida até ao mar. Entramos e saímos do universo infantil e de jovens adolescentes, do registo da vitalidade e da densidade poética destas pessoas.


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