Poucos curtametragens possuem uma vida tão longa quanto o
clássico de ficção científica de Chris Marker, La Jetée (1963). Simplesmente sobrevivendo e acumulando
seguidores cults ao decorrer dos anos o filme de 28 minutos atinge um grande feito apesar de ser considerado um
desafio para a maioria dos espectadores. A história do filme é narrada em uma
montagem de fotografias, não possui atores renomados, não possui diálogo e
muito menos um final feliz. Ainda assim La Jetée é um daqueles filmes que
atraem a atenção do espectador desde o princípio.
O filme conta a história de um garoto que testemunha uma
morte no aeroporto. Pouco tempo depois toda a civilização é destruída pela
Terceira Guerra Mundial. Jean Négroni, narrador do filme nos conta: “ Acima de
nós, Paris, como quase o mundo todo, está inabitável pela radioatividade. Os
vencedores montam guarda sobre um reino de ratos.” O garoto se torna um homem
neste ninho de ratos e cientistas o usam em experiências sobre viagem no tempo.
Assim, ele retorna no tempo e conhece uma mulher pela qual se apaixona e no
entanto os cientistas o enviam em direção ao futuro onde ele encontra outro
grupo de cientistas que concedem a ele os meios para reparar o mundo.
Quando retorna ao seu
tempo os que comandam o reino dos ratos não oferecem a ele nenhuma recompensa,
pelo contrário, eles pretendem matá-lo. Cientistas do futuro oferecem salvá-lo
oferecendo a ele um lugar no futuro mas ele deseja ser enviado de volta ao
passado junto da mulher que ama. Ele retorna, encontra seu amor e conforme
corre em direção à ela ele avista um dos cientistas que o submeteram às
experiências. Ele é atingido por um tiro e surge a voz do narrador: “Quando ele
reconheceu um dos homens, percebeu que não havia escapatória do tempo e naquele
momento, foi concedido a ele que pudesse enxergar como uma criança o momento de
sua própria morte”.
Chris Marker talvez seja uma das figuras menos conhecidas do
cinema New Wave francês. Na realidade o cineasta não produzia filmes de ficção,
sua especialidade era documentários e filmes ensaio de forte cunho político. La
Jetée é um filme que não possui semelhanças com outros trabalhos do cineasta e
isso ressalta o caráter cult da obra já que é o trabalho mais conhecido de um diretor
que costuma fazer outros tipos de filme. Ainda assim, a consciência política do
diretor é facilmente perceptível também em La
Jetée. Marker propõe um mundo controlado pela ciência e pelo fascismo. O
personagem principal, conhecido apenas como “O homem” e representado nas
fotografias por Davos Hanich, tenta escapar do confinamento opressivo do mundo.
Ele não encontra conforto no futuro distópico e deseja apenas voltar ao
passado. No entanto acaba por descobrir que nunca temos o devido entendimento das
coisas em seu tempo e que por mais que tente, ninguém consegue escapar das
condições de seu próprio tempo, do aqui e agora, e esta acaba por ser a principal
mensagem do diretor à seus espectadores.
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