Recordo-me com nitidez dos tempos de escola primária, quando aprendíamos o abecedário e líamos pequenos livros, muitas vezes apresentados pelos próprios autores que, em visitas às escolas, procuravam partilhar as suas histórias. Enquanto criança, estes pequenos encontros pareciam apenas momentos de aprendizagem, como uma aula casual, não imaginando a importância que essas figuras tinham no panorama literário português. Hoje, com um olhar já amadurecido, percebi o valor e influência que carregavam. Esta reflexão surgiu quando me debrucei sobre o universo da ilustração já na faculdade, onde tive a oportunidade de relembrar e estudar a editora que constantemente se promovia na minha escola: O Planeta Tangerina, reconhecida como uma das mais inovadoras e premiadas editorar da Europa na área dos livros infantis.
Fundada em 2004, por Isabel Minhós Martins, Bernardo Carvalho, Inês Meireles e Francisco Fernandes, o Planeta Tangerina transformou significativamente o desenvolvimento dos livros infantis em Portugal. Desde os seus primórdios, o projeto estabeleceu-se pela sua liberdade criativa, recusando modelos convencionais de edição, onde o texto e a imagem ocupavam papeis rígidos, hierarquizados e previsíveis. Cada publicação é pensada para um formato de álbum narrativo, onde o texto e a ilustração coexistem num diálogo constante, convidado o leitor a “ler” além das palavras, mas também as imagens, os espaços em branco, as pausas e os silêncios que preenchem cada página. As publicações evidenciam uma clara atenção minuciosa ao detalhe sobre o público, tema, formato, materiais, textura do papel e tipografia, conferindo a cada livro uma identidade única, ou seja, a atenção dada à história equivale precisamente à atenção atribuída ao restante, transformando assim o editorial num suporte de criação artística autónoma.
Um livro é um
lugar. Com dentro e fora,
esquerda e
direita, perto e longe, princípio e fim.
Entramos por um portão: a capa.
Atravessamos
montes e vales: as páginas.
Espreitamos o
lado de lá: a página seguinte.
Avançamos até à
saída: a contracapa.
Nesta nova
coleção, fazemos do “objeto livro” um lugar verdadeiro,
onde os
leitores participam na construção de cada aventura, jogando,
brincando,
produzindo sons e movimentos.
Livros em papel
interativos e digitais?
Nem mais.