Michael Mapes é um artista contemporâneo norte-americano reconhecido pelos seus retratos fragmentados que combinam práticas artísticas com processos inspirados na ciência. Formado em design, desenvolveu um interesse precoce pela relação entre sistematização visual e narrativa pessoal. Ao apropriar-se de métodos científicos, tais como catalogação, taxonomia, análise laboratorial ou técnicas de arquivo, cria retratos que se situam em territórios entre a arte, a ciência e a antropologia.
Cada obra assenta no conceito de “ADN biográfico” e apresenta-se como uma “autópsia visual” da identidade, como método de exposição das múltiplas camadas que compõem um indivíduo. Mapes desafia a noção tradicional de retrato enquanto representação unificada, mostrando um corpo de fragmentos que o espectador é convidado a reconstruir.
Mapes desconstrói e reconstrói identidades. Dedica-se à investigação da forma como percebemos a memória, os dados pessoais e a representação do indivíduo. Inspirando-se em procedimentos forenses e biológicos, reinterpreta retratos históricos, transformando-os em arquivos visuais complexos. Reunindo pequenos fragmentos, desde fotografias, recortes, cápsulas, etiquetas, fios de cabelo, entre outros elementos simbólicos, cada fragmento é organizado como se fosse uma grande amostra laboratorial.
Nos Human Studies, o artista desmonta fotografias e reorganiza-as em centenas de pequenos elementos (frascos, alfinetes entomológicos, etiquetas e objetos diversos), que evocam práticas laboratoriais. Estes fragmentos, organizados com precisão, sugerem que a identidade é um conjunto de dados, memórias e vestígios que nunca se apresentam na sua totalidade.
Na série Dutch Masters, Mapes revisita retratos históricos da pintura holandesa. Em vez de os reproduzir fielmente, analisa e reconstrói a imagem original para revelar aquilo que a tradição pictórica esconde. A desconstrução de obras canónicas permite questionar a própria história da arte, salientando como cada retrato transporta consigo convenções, escolhas e omissões.
Nos Specimen Portraits reforça a ideia de identidade como objeto de estudo. Cada retrato funciona como uma caixa-arquivo, onde a pessoa é transformada num conjunto de indícios cuidadosamente organizados. Trata-se de um processo que ultrapassa a superfície da imagem para explorar os mecanismos sociais, biográficos, materiais e simbólicos que contribuem para a construção do eu. Assim, Mapes não apenas questiona o que vemos, mas sobretudo o que não vemos quando olhamos para um retrato.
“Blauw Girl” (2018), pinning foam, insect pins, photographs, specimen containers, glass vials, fabric samples, acrylic paint, beads, human hair, doll hair, gelatin capsules, canvas, cotton thread, and rope
“Dutch Agatha” (2019), photographs, fabric samples, painted photographs, botanical specimens, spices, tea, tobacco, coffee, cast resin, clay, thread, hair, insect pins, capsules, specimen bags, and magnifying boxes
Detail of “Still Life specimens P4” (2021), archival prints, insect pins, map pins, magnifying boxes, specimen bags, dried fruit, and seeds