sábado, 22 de novembro de 2025

A24, do independente ao influente

Em pouco mais de uma década, a A24 deixou de ser apenas uma distribuidora nicho para se transformar numa verdadeira força cultural. Provando que o cinema independente pode não só sobreviver no meio do domínio dos grandes estúdios, como também definir tendências, criar comunidade e gerar impacto global. 



Fundada em 2012 por Daniel Katz, David Fenkel e John Hodges, a A24 nasceu com uma missão simples e quase romântica, dar espaço a cineastas que queriam contar histórias fora dos modelos convencionais de Hollywood. No início, dedicaram-se apenas à distribuição, escolhendo filmes com uma voz autoral forte, obras pequenas, mas distintas.

Esta curadoria cuidadosa criou o primeiro pilar da identidade A24: a confiança. Cineastas independentes viram no estúdio um aliado que não só acreditava no seu trabalho, como sabia promovê-lo de forma criativa, entre o público, o nome A24 começou a funcionar como garantia de qualidade, ou, pelo menos, de originalidade.

O verdadeiro salto aconteceu quando a A24 se tornou também produtora. Nessa fase surgiram títulos que rapidamente entraram no imaginário cinéfilo global: MoonlightLady BirdHereditaryThe WitchThe Florida Project. De repente, a crítica falava da A24 como o novo farol do cinema de autor americano. Com Moonlight a conquistar o Oscar de Melhor Filme, ficou claro que o estúdio não era apenas “indie” , era relevante. E com Everything Everywhere All at Once a dominar a temporada de prémios, a A24 confirmou que podia competir, e vencer.




Hoje, a expressão “parece um filme da A24” já diz quase tudo. Há uma estética reconhecível, personagens vulneráveis, atmosfera densa, estranheza calculada, humor seco, risco criativo, liberdade formal. Mas mais do que isso, existe um ecossistema cultural em torno da marca, desde campanhas de marketing criativas, muitas vezes irónicas ou experimentais a presença digital forte, com humor inteligente e uma linguagem próxima do público jovem. Um filme da A24 não é apenas um filme, torna-se um símbolo de pertença, especialmente entre espectadores que querem escapar à lógica das franquias.




Com crescimento vem inevitavelmente debate. A A24 já recebeu investimento significativo, ampliou equipas, diversificou produtos, comprou espaços culturais e até explora tecnologias emergentes. Tendo isso em conta, muitos questionam se a A24 ainda é verdadeiramente “indie”, ou se se tornou uma “marca” que capitaliza o imaginário indie. É possível escalar sem perder autenticidade?

A independência pode já não ser a mesma de 2012, mas a influência nunca foi tão grande.