terça-feira, 19 de outubro de 2021

pensar o livro


Segundo o dicionário, o livro é um objeto composto por um conjunto de folhas manuscritas ou impressas, que são reunidas de modo a formar um volume, geralmente protegido por uma capa de material resistente. Tem sua origem do latim liber, “livro, papel, pergaminho”, originalmente “parte interna da casca das árvores”, que por sua vez teve origem no Indo-Europeu lewb, “descascar, retirar uma camada”.


Quando pensamos em livro primeiramente o consideramos na sua presença física, mas é vero que com a era digital muitas edições impressas deram lugar aos livros digitais, o que me faz [re]pensar no tátil, no livro como um corpo, que as mãos podem tocar, folhear, sentir a textura ou lisura das folhas, perceber a encadernação, bem como o tecido ou papel que envolve a capa. O livro é um objeto que se toca, é construído folha a folha e é nessa ação de manusear, uma após a outra, que experienciamos o livro, que encontramos significados que ecoam em nós no contato com sua história, imagens, palavras conexas ou desconexas, fotografias, objetos, fios e colagens que compõem sua construção.


Para de fato ver um livro é preciso tocá-lo, manter um olhar profundo para nele adentrar e por ele ser capturado por meio do que nos conta, do que percebemos nas entrelinhas, do que parece ter sido dito somente a nós, — é pertencer a ele, é ter um outro corpo físico que envelhece conosco.

A artista Marcia Sousa, em sua dissertação de mestrado “o livro como lugar tátil" analisa diferentes conceitos e definições do livro de artista, pensa o livro como este lugar tátil, também reflete acerca de sua experiência pessoal ao folhear livros, fala sobre “o livro de artista como lugar fundado pelo artista e fruído pelo folheador, um espaço de encontro entre corpo e livro, onde as páginas são consideradas territórios para a experimentação de sensações táteis intensificadas”.


Segundo Paulo Silveira, o livro de artista é uma obra de arte concebida inteiramente pelo artista em formato de livro e pensarmos a obra como livro, amplia o contato do espectador com a obra de arte, pois agora é possível tocá-la, manuseá-la, desdobrá-la, redobra-la, etc. A obra de arte, livro de artista, é um espaço a ser percorrido, um lugar com o qual nos conectamos, é como adentrar e percorrer uma casa, quando esta é nova, não se sabe ao certo onde está, nada lhe é familiar. Mas é certo que quanto mais a percorre, mais dela se ocupa e apropria, mais conhece seus espaços — significam-se tu e ela, em um mesmo corpo —, já ela diz de ti e tu diz dela.



extraído da dissertação de Marcia Sousa

Da esquerda para a direita, de cima para baixo:

Francine Goudel, Proposições artísticas sobre o cotidiano, 2008.

Priscilla Menezes, Pela passagem de um outono, 2008.

Juliana Crispe, Alice e a rosa - Amor às vezes sufoca, 2008.

Gabriela Caetano, sem título, 2008. 

Exposição Ideário para Livros, Galeria de Arte UFSC


 

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