segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Louise Bourgeois - “Ode ao Esquecimento”

 

Louise Bourgeois, 1911-2010 

A escultora surrealista foi uma das mais importantes artistas americanas do final do séc. XX e do séc. XXI. Semelhante a outros artistas surrealistas, ela canalizou a sua dor para os conceitos criativos da sua arte.

A família da mãe veio de Aubusson, região da tapeçaria francesa, e os seus pais eram proprietários de uma galeria de tapeçaria na época do seu nascimento. Louise enquanto criança viveu a maior parte do ano, num apartamento por cima da loja onde os seus pais vendiam tapeçarias, e aos fins de semana iam para a galeria onde restauravam tapeçarias antigas, e aí ajudava a lavar, a reparar, costurar e a desenhar, sempre supervisionada pela sua mãe, com quem tinha uma proximidade muito grande.

Louise foi muito influenciada pelos acontecimentos traumáticos da sua infância, pela infidelidade do seu pai com a sua ama, e pela ida do pai para a guerra, deixando a mãe muito ansiosa. São estes acontecimentos que mais tarde viriam a formar a sua arte altamente autobiográfica.

Louise Bourgeois é conhecida pelo seu conteúdo temático altamente pessoal envolvendo o desejo inconsciente, sexual e do corpo. As suas emoções eram usadas como matéria-prima para a sua obra, a temática era baseada em eventos da sua infância e ao apropriar-se da arte realizou um processo terapêutico e de libertação, as suas experiências foram transformadas numa linguagem muito visual através de imagens mitológicas, utilizando espirais, gaiolas e utensílios médicos.

As suas famosas esculturas de aranhas simbolizavam a psique feminina e a dor psicológica.

Numa entrevista, a artista explicou a existência de um duplo tema no caso das obras que representa a aranha: “A aranha é protetora, a nossa protetora contra os mosquitos. […] A outra metáfora é que a aranha representa a mãe. A minha mãe era a minha melhor amiga. Ela era inteligente, paciente, tranquilizadora, delicada, trabalhadora, indispensável e, sobretudo, ela era tecelã – como a aranha. Para mim as aranhas não são aterradoras.”

Embora seja mais conhecida pelas suas esculturas, desenhos e gravuras, Bourgeois também fez livros ilustrados a partir do final de 1940, incorporando textos seus e de outros autores. O tecido teve sempre uma profunda associação pessoal, devido ao seu grande contacto durante toda a sua infância, e assim durante anos empregou essa matéria-prima no seu trabalho artístico.

No início de sua década de 90, Louise Bourgeois criou o seu livro de artista – “Ode à L’ Oubli” -uma encadernação em linho, as páginas são feitas das toalhas de mão que ela tinha mandado bordar o monograma de 60 anos do seu casamento. Homenagem ao longo casamento que conseguiram ter, ao contrário de seus pais.


  
Ode à L’Oubli / Ode ao esquecimento, 2002

Livro de tecido ilustrado com 35 composições: 32 colagens em tecido, 2 com acréscimos de tinta, e 3 litografias (incluindo a capa)/32,5x29 cm (fechado)/ 68 páginas sem numeração, assinatura impressa em litografia vermelha na quarta capa/ exemplar único. Para montar o livro, Bourgeois trabalhou durante seis meses com Mercedes Katz (costureira) e o SOLO Impression imprimiu a capa litografada e as duas páginas dentro do volume.

Em 2004, Bourgeois lançou uma edição de “Ode à L’Oubli”, que foi publicada pela Peter Blum Edition e foi produzida de 2003 a 2004 pelo workshop SOLO Impression. Para criar esta edição, os tecidos exclusivos do livro foram reproduzidos usando técnicas de litografia, impressão digital, tingimento, costura e bordados. Em alguns casos, novos tecidos foram comprados e depois modificados para se parecerem com os tecidos originais. Edição de 25 exemplares.

Seu assistente, Jerry Gorovoy, conta que um acento circunflexo foi erradamente impresso no “A” da capa e da lombada na versão única de 2002. Quando a capa para a versão editada foi feita em 2004, decidiu-se que o título seria impresso com todas as letras maiúsculas, sem o acento e sem itálico.

Estas composições eram compostas por retalhos costurados e palavras impressas, são 32 páginas compostas inteiramente de peças de tecido que ela usou ou guardou desde 1920, incluindo camisolas, lenços, toalhas de mão e guardanapos de mesa com monograma de suas iniciais. As páginas do volume apresentam uma variedade de técnicas – bordados, tecelagem - onde ecoam muitas das formas que a artista usou ao longo da sua carreira, círculos e quadrados concêntricos e formas orgânicas redondas.


Algumas páginas do miolo de "Ode à L’Oubli":


















































Os tecidos de Louise, fragmentados e reconfigurados são objetos pessoais que tanto queriam ser lembrados como esquecidos. Os tecidos usados saíam da sua função prática e eram reaproveitados em texturas, cor e composição. Enquanto ela organizava os elementos do livro, cortando e cozendo os fragmentos, ela removia todas as memórias que nele estavam contidas, assim, o resultado é uma ausência enigmática das suas histórias verdadeiras. Desta forma, o livro pode ser entendido como uma homenagem ao esquecimento. Daí, o título deste livro ser “Ode ao esquecimento”.




É inspirador que ela tenha feito arte até aos seus 90 anos de idade, faleceu em 2010.

 

“My luck was that I became famous so late that fame could not destroy me.”

          Louise Bourgeois


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