terça-feira, 19 de outubro de 2021

ON KAWARA, artista, 29771 dias entre o fim de dezembro de 1932 e o fim de junho de 2014

 Daniel Buren escreveu no seu ensaio: “On Kawara was not born on such and such day and such and such year like everyone else. Rather, as he would have it, he indicates on August 31, 2002, he was aged 25,453 days.” in https://theconversation.com/on-kawara-silence-at-the-guggenheim-reviewed-37639



Filho de engenheiro, On Kawara nasceu em Kariya, perto de Nagoya, no Japão. 
O termo da 2ª Guerra Mundial, com o bombardeamento de Hiroshima e Nagazaki, teve um profundo impacto na sua formação enquanto artista. Em Tokyo, no início da década de 50, criou uma série de desenhos figurativos que integram imagens grotescas. Em 1953, expôs a “Bathroom series” (1st Nippon Exhibition, Tokyo Metropolitan Art Museum) – desenhos a lápis, que retratam figuras nuas, em vários estados de mutilação, onde a casa de banho é um espaço distorcido, claustrofóbico e sangrento.

On Kawara construiu toda a sua obra como uma homenagem humanista ao tempo de vida coletivo e individual, bem como ao confronto entre estas escalas. in https://www.culturgest.pt/pt/programacao/kawara-one-million-years/

Em 1960, mudou-se para Nova Iorque. Numa prática artística que combina pinturas, telegramas e postais, Kawara desejou tornar os seus observadores conscientes do seu lugar na história e tornar material a passagem do tempo.

A 4 de janeiro de 1966, iniciou a “Today series” (1966-2014), uma sequência onde cada tela regista o dia em que é pintada. Everyday or epic? Cosmic or mundane? Kawara’s date paintings are both – a perpetual abstraction, but also a system of self-portraits; a calendar, but also a diary; dates, but also days. It’s that indeterminacy, that constant oscillation between the quotidian and the universal, that gives his reticent art such force.


On Kawara, FEB.27,2000 New York, 2000. Liquitex on canvas. 20.3 x 26.7 cm


Durante onze anos, Kawara desenvolveu trabalhos de auto-observação, que mapeiam as dimensões temporais, locais e sociais da sua vida. Entre 1968 e 1979, desenvolveu a “I Got Up series”, nas quais enviou frequentemente postais a amigos ou sócios, carimbados com a hora a que acordou (normalmente entre as 10h e as 11h). Na “I Met series”, datilografou e arquivou todas as pessoas com quem falou, todos os dias, desde 1968 a 1979. Também durante esse tempo, mapeou as suas coordenadas com uma linha vermelha num mapa, numa série que chamou de “I Went”.
Desta forma, através do seu trabalho, existem não só pinturas de muitos dos dias da vida do artista, como também registos da hora a que acordou, das pessoas que conheceu, do que leu e de onde foi. E, apesar de toda esta informação, On Kawara permanece incognoscível. Não existem entrevistas, nem fotografias suas depois de 1965. É como se esta data marcasse o seu renascimento enquanto entidade geradora de dados, que incessantemente se mapeia a si mesma através do espaço e do tempo.

On Kawara, April 1, 1969. From I Got Up, 1968–79. Stamped ink on postcard, 15.2 x 23 cm. MTM Collection, Japan.

Em 1969, começou a enviar telegramas onde declarava “I am not going to commit suicide don’t worry”. A 20 de janeiro de 1970, transformou a mensagem numa mais positiva, afirmando “I am still alive”. Continuou a enviar telegramas a amigos, colecionadores de arte, curadores e outros artistas, como Sol Lewitt, irregularmente, até 2000. A reafirmação de “I am still alive” é inevitavelmente um memento mori, um lembrete da morte.

On Kawara, Telegram to Sol LeWitt, February 5, 1970. From I Am Still Alive, 1970–2000. Telegram, 14.6 x 20.3 cm. LeWitt Collection, Chester, Connecticut.


O interesse de Kawara em como a sociedade utiliza as datas para compreender a ambiguidade do tempo pode ser testemunhado no livro One Million Years, de dois volumes.
One Million Years Past (1969) é dedicado a “todos quantos já viveram” e inclui os anos de 998 031 AC até 1969 DC. One Million Years Future (1981) é dedicado ao “último de nós que existir” e compreende os anos entre 1993 DC e 1 001 995 DC. O trabalho relembra-nos de que o nosso tempo é efémero no esquema universal das coisas, não só como indivíduos, mas também como espécies. O ano do primeiro volume foi o ano do festival de música Woodstock, dos protestos massivos contra Guerra do Vietname e do Homem a pisar a lua. Nos livros, a vida média de uma pessoa equivale a apenas umas linhas e a história da humanidade a algumas páginas.


On Kawara, One Million Years Past, 1999. Black leather cover on 400g carton. 2000 pages, 144 mm x 105 mm. Authentic bible paper 32g, ivory. Edition of 570.


Houve já várias leituras públicas dos livros One Million Years, podendo destacar a de Documenta, em 2002 e a de Trafalgar Square, em 2004. A leitura de One Million Years em Trafalgar Square, um trabalho épico da arte concetual, durou sete dias e noites, de 29 de março a 5 de abril de 2004. Realizou-se numa estrutura de vidro, onde um homem e uma mulher se sentaram lado a lado numa secretária.

Installation view of On Kawara: Reading One Million Years (Trafalgar Square).




Bibliografia
The Conversation (2015). On Kawara – Silence, at the Guggenheim, reviewed. Retirado em outubro 2, 2021 de https://theconversation.com/on-kawara-silence-at-the-guggenheim-reviewed-37639
History (2018). Woodstock. Retirado em outubro 2, 2021 de https://www.history.com/topics/1960s/woodstock https://www.history.com/topics/1960s/woodstock
The Guardian (2015). On Kawara: Silence review – bringing cosmic time to a human scale. Retirado em outubro 2, 2021 de https://www.theguardian.com/artanddesign/2015/feb/06/on-kawara-silence-review-date-paintings
The Guardian (2014). On Kawara obituary. Retirado em outubro 2, 2021 de https://www.theguardian.com/artanddesign/2014/jul/24/on-kawara
MoMA (s.d). On Kawara One Million Years 1999. Retirado em outubro 2, 2021 de https://www.moma.org/collection/works/88213
SLG (2004). On Kawara: Reading One Million Years. Retirado em outubro 2, 2021 de https://www.southlondongallery.org/exhibitions/on-kawara-reading-one-million-years/
David Zwirner (s.d). On Kawara. One Million Years (Past and Future). Retirado em outubro 2, 2021 de https://www.davidzwirner.com/exhibitions/2001/one-million-years-past-and-future#/explore
Simon Lee (s.d). One Million Years Past, 1999. Retirado em outubro 2, 2021 de https://www.simonleegallery.com/store/artworks/8409/
Guggenheim (s.d). Lists: I Met. Retirado em outubro 2, 2021 de https://www.guggenheim.org/teaching-materials/on-kawara-silence/lists-i-met
On Kawara (s.d). 1970 (2). Retirado em outubro 2, 2021 de https://onkawara.co.uk/styled-12/

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