quarta-feira, 28 de outubro de 2020

                                                          MINI BOOK / MICRO HOMES

 
O livro miniatura é uma ferramenta imprescindível no trabalho de Irma Boom (designer gráfica holandesa - especializada na criação de livros), como um processo de trabalho e de construção. "Arquitectura do Livro", como a designer lhe chama, é a elaboração de uma maquete, de um modelo, tal e como um arquitecto faz para um edifício. O livro, tal como uma casa, é um espaço que se cria - para se habitar. Para os arquitectos tudo é sobre o espaço, e, se fazemos um livro, se construímos um livro, acabamos por descobrir a mesma linha de pensamento, o mesmo conceito: o livro como espaço habitável - trocas - possibilidades. Um espaço possível de existência e de vida.

Além de ser uma imagem impressionante vermos um livro com as dimensões de 38 x 50 mm, e com 704 páginas (portanto, um trabalho minucioso de impressão, com uma apurada sensibilidade vinda de  um olhar afiado), o livro miniatura pode levar-se para todo o lado, pode acompanhar-nos e viver connosco. 
Vivemos em ecrãs e tudo é digital, mas ainda importa - e vai importar sempre - procurar desvendar as barreiras e tentar compreender o que é um livro, ou melhor- o que pode ser um livro. Irma Boom sente-se encorajada para explorar as características intrínsecas do livro impresso, do livro como objecto, ainda mais intensa e criativamente- o livro como entidade única, como corpo inimitável. Porque sim, ainda importa fazer livros.

Fazer um livro é trazer um novo corpo ao mundo, é trazer uma nova identidade. Para ficar. A vitalidade do livro impresso estende-se e ultrapassa as possibilidades de um ecrã. Cria espaço de intimidade, cria encontros, cria relações entre eu-outro, corpo-mundo. Propõe uma experiência física, a qual acredito profundamente ser precisa, necessária e vital. 
 
O livro como objecto de desejo, como lugar activo de trocas possíveis, algo relacionável.
 
Uma das suas miniaturas, que acaba por ser um livro de artista, é por ela assim explicado: "This book is about the minimum scale of observation of the work carried out -like the micro homes that MIT predicts will be the future of housing- and also about colour (in red with its immediate power of attraction" . 
Este livro representa "Boom’s heart and the heartbeat of the books that will remain in our hands".
 
Mini books/Micro homes quer dizer exactamente o que já fui desvendando- que as miniaturas de Irma Boom são como pequenas casas. Casas como moradas, como lugares de passagem, de vivência, de descoberta; como direcções e caminhos possíveis. Casas como oportunidades de construção, de conhecimento, de interligação. Ao criar livros temos a capacidade de distribuir ideias/imagens/textos como quisermos, dependendo das relações e conversas que queremos fazer germinar, dependendo do que queremos experimentar; e é uma fusão de susto com excitação formularmos essas infinitas possibilidades. O conceito de arquitectura do livro é fascinante por isso - criamos casas com espaços e com disposições, com aberturas, portas, janelas, corredores, caminhos, ligações; e criamos livros exactamente a partir do mesmo. 
 
 
 
 
"Oh, as casas, as casas, as casas, 
mudas testemunhas da vida 
(...)
Só as casas explicam que exista uma 
palavra como intimidade
(...)
Oh, as casas, as casas, as casas..." 
(Ruy Belo)
 
 
 
 
Filipa Almeida
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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