quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A Propaganda na Segunda Guerra Mundial

Durante a 2ª Grande Guerra, o design gráfico revelou ser uma importante ferramenta de proliferação de ideais, alteração das percepções públicas, mobilização de forças, e difamação da imagem dos opositores e dos seus ideais. Entre as forças aliadas e forças do eixo denotam-se diferentes abordagem à propaganda aplicada nos diferentes regimes.

A propaganda é uma forma de comunicação e persuasão em massa. Conforme Steven Luckert e Susan Bachrach (State of Deception: The Power of Nazi Propaganda, 2009) propaganda opõe-se à razão, verdade e objetividade, uma definição que se aplica desafiadoramente aos regimes politicos extremos como a Alemanha Nazi, Itália Fascista e União Soviética.


Nas forças Aliadas, o design e a arte eram proximamente controladas por Adolf Hitler e demonstravam uma abordagem com base na arte clássica grega e romana, em que era procurada a melhor representação da beleza, que personificava os ideais de uma etnia perfeita. Estes objetos gráficos tinham que ser de carácter tanto heróico como romântico para que a mensagem fosse facilmente assimilada, usando linguagens visuais que suscitavam o pathos e emoções, para assim manipular o público. O modernismo e todos os seus subsequentes foram suprimidos. No design, as forças nazis usaram os objetos gráficos como um meio de denegrir as outras culturas e opositores apresentado-os como povos conspiradores, bélicos e gananciosos, incitando à sua destruição e enquanto criava ilusões de uma raça ariana perfeita e imortal.


Na Alemanha, só a propaganda nazi é que permanecia nas ruas e nos meios de comunicação, todas as restantes mensagens que se mostrassem contraditórias eram eliminadas, mantendo os valores e a imagem nazi uma constante na sociedade alemã. Não só foi a omnipresença destas imagens que educava os alemães, mas também a simplicidade e facilidade de compreensão da mensagem que eram transmitidas pela propaganda.


No cartaz alemão (Fig.1) deparamo-nos com uma representação de um homem judeu, com um aspeto conspirador, uma forma grotesca, e com uma estrela de David em ouro (representando a ideia de ganância) por detrás das bandeiras das forças de eixo e com a frase: “Por trás das forças inimigas, o judeu”.


Por outro lado, a cidade de Nova Iorque foi-se afirmando como um centro da arte moderna e da crítica de arte devido ao influxo de refugiados que trazia tanto artistas como críticos à cidade. Como meio propagandístico, as forças do eixo demonstravam uma abordagem mais caricaturada e positiva, pois procuravam recrutar mais forças e educar o público contra o regime Nazi, humorizando e criando eufemismos de uma realidade terrível e perturbadora.


No exemplo da propaganda americana (Fig.2), o cartaz deveria encorajar os trabalhadores industriais americanos a persistirem no seu trabalho para continuar a produzir as armas necessárias para a guerra. O poster representa Hitler como um homem desajeitado e incapaz, enquanto este ainda veste a farda nazi e roupa interior com suásticas, como forma de minimizar e menosprezar o poder que estes símbolos apresentam. 


“A pilha de tanques Panzer e veículos blindados aos seus pés serve para aumentar a moral dos aliados através da elevada quantidade deles e do modo como estão empilhados, inferindo que destruir o regime nazi é tão fácil quanto debilitar seus tanques e atirá-los numa pilha.” (Nicky Hope, Discuss the role that Graphic Design can play during periods of political and/or social upheaval, p.3)


Fig.1

Hinter den Feindmächten: der Jude (1940)


Fig. 2

Let's Catch Him With His ‘Panzers' Down!
We Will-If We Keep 'em Firing! (cerca de 1942-1943)

























O mais distinto elemento do design gráfico da Segunda Guerra mundial é, claramente, a Suástica, ou como os alemães a chamavam, haken-kreuz (cruz em forma de gancho). A suástica é um símbolo místico de várias culturas por todo o mundo. Foram encontrados diversos vestígios deste símbolo em cerâmicas e moedas de diversas culturas, desde tribos pré-colombianas até à Índia. Em muitas culturas orientais é visto como um símbolo de sorte pois, literalmente, o termo “suástica”, significa  “objeto promissor”. Embora estas religiões tenham exibido os primeiros usos do símbolo, diversos arqueólogos descobriram o mesmo símbolo na Ucrânia, podendo possuir cerca de 10000 anos. A persistência e permanência da associação do símbolo aos seus valores impostos pelas forças nazis deve muito à omnipresença deste mesmo durante a segunda grande guerra, encontrava-se em todo o lado: nos edifícios, nas bandeiras, nos uniformes, nos veículos e, é claro, em todos os elementos de propaganda. Esta estratégia de constante aparição e valorização do símbolo foi aplicada por Adolf Hitler, pois este acreditava que uma das grandes razões que levou à Alemanha não sair vencedora da primeira guerra mundial, foi a falta de propaganda e imagem consistente e que apelasse e ensinasse os valores ao seu povo.


Hitler, como veterano da primeira guerra mundial, esteve em contacto com a suástica alemã pertencente ao Grupo de Juventude militar alemã, um grupo de jovens nacionalistas que partilhavam das mesmas opiniões que o ditador.


“Como socialistas-nacionalistas, vemos o nosso programa na nossa bandeira’, continuou Hitler, ‘no vermelho vemos a ideia social do movimento, no branco a ideia nacional, na suástica a missão da luta pela vitória da ideia, do trabalho criativo, que em si é e sempre será anti-semita’.” (Scott Boylston, Case Study Two- Visual Propaganda In Germany, p.4)


Conforme o funcionalismo, este é um símbolo, ou uma peça de design gráfico que conseguiu corresponder à sua necessidade essencial, subordinar-se à sua função, e mantendo intemporalidade da associação deste mesmo aos valores que pretendia representar. Mas, a carga negativa à qual este símbolo é claramente associado faz-nos questionar a qualidade do objeto de design. Poderá este ser uma símbolo de qualidade, porque corresponde nitidamente ao problema levantado? Ou as pesadas repercussões deste objeto influenciam também as propriedades gráficas que poderá ter? Atualmente o uso da Suástica na Alemanha é punida por lei, excepto em contextos com fins educativos ou didáticos. Steven Heller acredita que este símbolo não deveria ser permitido em qualquer contexto, não tendo este oportunidade de redenção, especialmente em qualquer contexto politico, pois torna-se perigoso. Assim, Heller defende também que a suástica não deverá ser analisada como um objeto de design gráfico, acusando-a então de mau design. Erika Nooney apresenta uma perspetiva oposta, em que este símbolo deveria ser confrontado com todas as questões que se colocam a todo o tipo de objetos gráficos, questionando o que realmente é bom e mau design, e que função do símbolo gráfico é verdadeiramente boa ou má.


Bibliografia:


https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/history-of-the-swastika


https://www.smithsonianmag.com/history/man-who-brought-swastika-germany-and-how-nazis-stole-it-180962812/


Hope,Nicky. Discuss the role that Graphic Design can play during periods of political and/or social upheaval 

Boylston, Scott. Case Study Two- Visual Propaganda In Germany 

Hirsh, Jennifer. Visual Culture and the Holocaust Nazi Anti-Semitic Propaganda- Historic Visual Survey (2007) 

Heller, Steven. The Swastika: Symbol beyond Redemption? (2000) 

Sampson, Catherine. Visual Propaganda of the Nazi Era (2011)


Rita da Cruz Tavares
13124

Sem comentários:

Enviar um comentário