segunda-feira, 5 de junho de 2023

Viagem no tempo através de fotografias tridimensionais

A exposição ‘A Dimensão Imersiva’ foi criada a partir do espólio do médico cirurgião e fotógrafo amador, Jorge Marçal da Silva e propõe uma experiência imersiva em torno da sua prática fotográfica. É um projeto que nasce de uma doação de familiares e destaca a sua produção fotográfica na vertente da estereoscopia, proporcionando o visionamento destas imagens através de dispositivos históricos e atuais, incluindo ainda a apresentação de provas de época, de livros de registo das suas fotografias e de outros objetos pessoais. Está presente no Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico de 18 de abril a 31 de agosto de 2023 e tem curadoria de Sofia Castro e Vitor Gens. Trata-se de uma experiência imersiva à história pessoal deste cirurgião e fotógrafo amador e a oportunidade de descobrir uma prática fotográfica fascinante e pouco divulgada.

Jorge Marçal da Silva (1878-1929) estudou na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, onde teve o seu primeiro contacto com a estereoscopia (1909), técnica que surgiu no século XIX a par do estudo ocular na medicina com o objetivo de melhorar problemas de visão, tendo sido também adotada para ensinar técnicas cirúrgicas. A estereoscopia cria a ilusão de profundidade tridimensional em imagens bidimensionais. É baseada no princípio da visão estereoscópica humana, que é a capacidade do nosso cérebro de perceber a profundidade a partir da diferença de perspectiva entre as duas imagens captadas pelos nossos olhos.

Fonte: Gabinete de comunicação do Arquivo Municipal de Lisboa

Uma máquina fotográfica estereoscópica possui duas lentes posicionadas lado a lado, com uma distância entre elas semelhante à distância entre os olhos humanos. Cada lente captura uma imagem ligeiramente diferente da mesma cena, simulando a perspectiva binocular dos nossos olhos. Quando o obturador é acionado, ambas as lentes capturam, simultaneamente, a imagem. Após a captura, as duas imagens resultantes são chamadas de "par estereoscópico" e, geralmente, são impressas ou exibidas lado a lado. Para visualizar a imagem estereoscópica, são necessários óculos estereoscópicos; cada lente dos óculos permite que cada olho veja apenas uma das imagens do par, possibilitando que o cérebro combine as duas numa única imagem tridimensional com ilusão de profundidade.

A exposição estende-se ao longo de dois andares, onde percorremos um caminho pela história de José Marçal da Silva, no qual nos são apresentadas imagens em oito visores estereoscópicos das três primeiras décadas de 1900.

Fonte: Arlei Lima, TimeOut

Também nos apresentam outro dos métodos de visionamento de imagens com profundidade através de anaglifos, que são imagens estereoscópicas que utilizam um método de codificação de cores para criar a ilusão de profundidade quando visualizadas com os conhecidos óculos anaglíficos com lentes vermelhas e azuis popularizados nos anos 1950.

Fonte: Própria

Para além disso, os curadores preocuparam-se em encontrar outras formas de o público chegar ao 3D, uma vez que, segundo a curadora Sofia Castro, "há pessoas que não conseguem ver as imagens dos visores estereoscópicos ou os anaglifos, e há mesmo até quem se sinta maldisposto", sendo um exercício difícil que se exige ao cérebro. Solucionaram esse problema com o tratamento de sobreposição das imagens de forma digital e apresentação das mesmas através de ecrãs onde apenas é necessário o uso de óculos estereoscópicos.

Pelas diferentes salas da exposição é possível seguir o itinerário de Jorge Marçal da Silva e perceber as suas tendências fotográficas no período compreendido entre 1906 e 1927 onde se destacam fotografias da família, dos amigos, dos colegas e doentes, da sua casa, do património, edificado e natural, e da cultura imaterial, bem como dos passeios e viagens que fazia; fotografava sobretudo em férias e como hobbie. As imagens são documentais e descritivas, como é próprio da opção pela fotografia estereoscópica, sem a intenção romântica da fotografia pictorialista do seu tempo. O espólio inclui, também, cadernos de registo e de apontamentos manuscritos, um conjunto diversificado de caixas comerciais, armários e caixas de acondicionamento e arquivamento de vidros e papel fotográfico.

Fonte: Desconhecida

Acredito que a exposição ‘A Dimensão Imersiva’ é uma viagem no tempo que proporciona uma oportunidade rara de aprender acerca de uma técnica fotográfica criada no século XIX, a estereoscopia — que continua, hoje-em-dia, a ser utilizada em diversas áreas como na realidade virtual, no cinema 3D, no design e arquitetura, na medicina — através da experimentação em visores da época, o que nos permite mergulhar profundamente no universo de Jorge Marçal da Silva e no retrato de um património histórico, sociológico, etnográfico e cultural, acedendo a um testemunho de uma época, há um século, de um país muito diferente nas suas diversas realidades e contrastes. Aconselho o visionamento da exposição em visita guiada pelos curadores para uma compreensão mais aprofundada das técnicas, materiais, processos e história desta prática.




Jorge Marçal da Silva - A Dimensão Imersiva

Exposição de fotografia estereoscópica

Curadoria Sofia Castro e Vitor Gens

18 abr - 31 ago 2023

Encerra aos domingos e feriados

10h - 18h

Entrada livre

Visitas guiadas pelos curadores: 6 mai, 3 jun, 8 jul e 5 ago, 10h e 15h







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