Saudações
ao povo cubano! Ao cinema e a todos interessados em conhecer através das lentes
o fenômeno da revolução socialista cubana liderada por Fidel Castro. A cineasta
belga radicada na França - Agnés Varda, compõe em seu documentário o retrato de
uma Cuba recém revolucionária, cheia de entusiasmo, alegria e efervescência que
atraía intelectuais, artistas e simpatizantes esquerdistas de várias regiões do
mundo. Olhos atentos e maravilhados diante de um país que, apesar de ainda
estar em contínua luta para estabelecer seus ideais contra o capitalismo
imperialista americano, já celebrava orgulhosamente sua resistência, sua
vitória! E exaltava sua nova identidade socialista ao compasso caliente da
salsa, do mambo, da conga, do merengue e da rumba, em meio a fumaça dos famosos
charutos, tragos de rum e algodão doce.
Cuba
neste contexto já havia sido visitada pelos intelectuais franceses Jean-Paul
Sartre e Simone Beauvoir; o fotógrafo Henry-Cartier Bresson e Chris Marker; cineasta
e amigo pessoal de Varda que a influenciou com o método fotográfico narrativo
de sua obra La Jetée, além de lhe
conceder algumas indicações sobre sua viagem fotográfica pela sociedade e
cultura cubana. Dessa maneira a cineasta relata também que optou por fazer um
filme com imagens fixas para não ter que carregar os equipamentos de cinema de
16 mm e lidar com o som ruim da tecnologia da época. A escolha feliz dá fruto
ao documentário de 30 minutos de duração que ilumina as telas com a técnica de
fotomontagem que conta com 1800 fotografias, narradas tal qual suas impressões
estrangeiras que divide com o espectador e conta com a participação do ator Michel
Piccoli.
Varda
não se preparou para sua viagem através de leituras, ela declara — “Não sou uma intelectual”. No entanto,
confiava nos valiosos endereços e ideias concedidos por Marker e falava o
idioma espanhol o suficiente para iniciar uma conversa com quem quer que
encontrasse. Assim caracteriza o tom espontâneo e cantante do filme, que não
deixa de pontuar observações astutas sobre o que vê escapando de um senso comum do que seriam os
estereótipos da ilha. Sim, existem os homens de barba, aliás, para cada homem
uma barba diferente e também existem os charutos cubanos, que dispensam
apresentações. Mas Varda vai além e sabe, por meio da fotografia, transmitir
com muita sensibilidade e um olhar atento e íntimo a seus personagens, as
particularidades e sutilezas. Observa por exemplo o costume dos homens
colocarem a mão sobre os ombros de suas mulheres quando caminham juntos e
também o fato de meninas gostarem de bonecas diferentes de sua própria cor. É
importante pontuar que Varda também passeia com sua câmera pelo ambiente rural
onde fotografa o trabalho voluntário nas lavouras de cana de açúcar, assim a
alfabetização de crianças e adultos. Em suas palavras — “ Eu não era nenhum um
pouco politizada ... Gosto de ser curiosa e aprender com as pessoas ... Eu
tentei descobrir tudo sobre Cuba apenas estando lá’’.
A
cineasta queria que suas imagens dançassem e assim o faz meticulosamente
ajustando suas fotografias ao tempo da trilha sonora da música cubana. Um dos
pontos altos do filme é a performance de Benny Moré em um restaurante vazio em
meio a carrinhos lotados de garrafas de vidro cantando a canção “Carícias
cubanas”; a reverência à dança e a música, que mistura a herança da melodia
espanhola com os diversos ritmos africanos, saltam das imagens, é a intenção de
Varda retratada no sentimento da figura caricata do artista, também conhecido
como “El Rey”.
Em
um processo que não está isento de contradições e nem de erros, a Revolução
Cubana projetou suas políticas em direção à integração cultural da nação,
incentivando para que desaparecessem as fobias raciais, regionais e de camadas
culturais, como o desaparecimento entre o que se denomina música “culta” e
música popular. A Revolução foi extremamente musical!
As
imagens do documentário expressam a contradição de um lugar de prosperidade e
falta, idealismo e pobreza. Sobre suas escolhas, que diminuem o tom político em
sobreposição a imagens que exaltam a euforia do povo e a espontaneidade, Varda
diz que seu filme é uma espécie de “Socialismo cha cha cha”. “Não havia comida
e nem ração para as galinhas,” diz ela. “Mas haviam exibições, filmes, balés,
poemas. Era uma explosão cultural.”
O
filme foi exibido 4 anos depois da queda do ditador pró Estados Unidos
Fulgêncio Baptista e é uma carta de amor endereçada á uma Cuba que não existe
mais, e que no entanto deve ser rememorada. No ano de 2016 as fotografias da
viagem de Agnés Varda foram exibidas em exposição no Centre Pompidou em Paris.
Referências:
Site
– https://www.theguardian.com/photography Socialism and cha-cha-cha: Agnés Varda`s photos of Cuba forgotten for 50 years.
Link do Filme no Vimeo: https://vimeo.com/17217039
Sem comentários:
Enviar um comentário