terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Salut les cubains. Filme documentário (1963), Agnés Varda


Saudações ao povo cubano! Ao cinema e a todos interessados em conhecer através das lentes o fenômeno da revolução socialista cubana liderada por Fidel Castro. A cineasta belga radicada na França - Agnés Varda, compõe em seu documentário o retrato de uma Cuba recém revolucionária, cheia de entusiasmo, alegria e efervescência que atraía intelectuais, artistas e simpatizantes esquerdistas de várias regiões do mundo. Olhos atentos e maravilhados diante de um país que, apesar de ainda estar em contínua luta para estabelecer seus ideais contra o capitalismo imperialista americano, já celebrava orgulhosamente sua resistência, sua vitória! E exaltava sua nova identidade socialista ao compasso caliente da salsa, do mambo, da conga, do merengue e da rumba, em meio a fumaça dos famosos charutos, tragos de rum e algodão doce.





















Cuba neste contexto já havia sido visitada pelos intelectuais franceses Jean-Paul Sartre e Simone Beauvoir; o fotógrafo Henry-Cartier Bresson e Chris Marker; cineasta e amigo pessoal de Varda que a influenciou com o método fotográfico narrativo de sua obra La Jetée, além de lhe conceder algumas indicações sobre sua viagem fotográfica pela sociedade e cultura cubana. Dessa maneira a cineasta relata também que optou por fazer um filme com imagens fixas para não ter que carregar os equipamentos de cinema de 16 mm e lidar com o som ruim da tecnologia da época. A escolha feliz dá fruto ao documentário de 30 minutos de duração que ilumina as telas com a técnica de fotomontagem que conta com 1800 fotografias, narradas tal qual suas impressões estrangeiras que divide com o espectador  e conta com a participação do ator Michel Piccoli.





Varda não se preparou para sua viagem através de leituras, ela declara  — “Não sou uma intelectual”. No entanto, confiava nos valiosos endereços e ideias concedidos por Marker e falava o idioma espanhol o suficiente para iniciar uma conversa com quem quer que encontrasse. Assim caracteriza o tom espontâneo e cantante do filme, que não deixa de pontuar observações astutas sobre o que vê  escapando de um senso comum do que seriam os estereótipos da ilha. Sim, existem os homens de barba, aliás, para cada homem uma barba diferente e também existem os charutos cubanos, que dispensam apresentações. Mas Varda vai além e sabe, por meio da fotografia, transmitir com muita sensibilidade e um olhar atento e íntimo a seus personagens, as particularidades e sutilezas. Observa por exemplo o costume dos homens colocarem a mão sobre os ombros de suas mulheres quando caminham juntos e também o fato de meninas gostarem de bonecas diferentes de sua própria cor. É importante pontuar que Varda também passeia com sua câmera pelo ambiente rural onde fotografa o trabalho voluntário nas lavouras de cana de açúcar, assim a alfabetização de crianças e adultos. Em suas palavras — “ Eu não era nenhum um pouco politizada ... Gosto de ser curiosa e aprender com as pessoas ... Eu tentei descobrir tudo sobre Cuba apenas estando lá’’.


    

A cineasta queria que suas imagens dançassem e assim o faz meticulosamente ajustando suas fotografias ao tempo da trilha sonora da música cubana. Um dos pontos altos do filme é a performance de Benny Moré em um restaurante vazio em meio a carrinhos lotados de garrafas de vidro cantando a canção “Carícias cubanas”; a reverência à dança e a música, que mistura a herança da melodia espanhola com os diversos ritmos africanos, saltam das imagens, é a intenção de Varda retratada no sentimento da figura caricata do artista, também conhecido como “El Rey”.

Em um processo que não está isento de contradições e nem de erros, a Revolução Cubana projetou suas políticas em direção à integração cultural da nação, incentivando para que desaparecessem as fobias raciais, regionais e de camadas culturais, como o desaparecimento entre o que se denomina música “culta” e música popular. A Revolução foi extremamente musical!

As imagens do documentário expressam a contradição de um lugar de prosperidade e falta, idealismo e pobreza. Sobre suas escolhas, que diminuem o tom político em sobreposição a imagens que exaltam a euforia do povo e a espontaneidade, Varda diz que seu filme é uma espécie de “Socialismo cha cha cha”. “Não havia comida e nem ração para as galinhas,” diz ela. “Mas haviam exibições, filmes, balés, poemas. Era uma explosão cultural.”

O filme foi exibido 4 anos depois da queda do ditador pró Estados Unidos Fulgêncio Baptista e é uma carta de amor endereçada á uma Cuba que não existe mais, e que no entanto deve ser rememorada. No ano de 2016 as fotografias da viagem de Agnés Varda foram exibidas em exposição no Centre Pompidou em Paris.

Referências:
Site – https://www.theguardian.com/photography Socialism and cha-cha-cha: Agnés  Varda`s photos of Cuba forgotten for 50 years.
Link do Filme no Vimeo: https://vimeo.com/17217039 

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