terça-feira, 28 de maio de 2024

Twenty Two Less Two, Michelangelo Pistoletto

 Twenty Two Less Two, de Michelangelo Pistoletto


Na cerimónia de abertura da Bienal de Veneza de 2009, Michelangelo Pistoletto apresentou uma performance na sua instalação Twenty-Two Less Two. Ao longo das paredes de uma grande sala situada no início do percurso pelo Arsenale, foram colocados 22 grandes espelhos de 3 por 2 metros perante uma multidão de visitantes e fotógrafos que registavam  a ação e que, por sua vez, se viam reflectidos nos espelhos.  Pistoletto começou então a bater e a estilhaçar os espelhos com um grande martelo, criando grandes buracos negros de diferentes formas nas suas superfícies.  A perspectiva de quem o observa mudou a partir do momento em que os espelhos eram partidos com o golpe do martelo. O som e a visualidade entraram em jogo. Uma vez que com o martelo, o artista retira da obra o reflexo do espectador ao criar estas “fendas” que não são nada mais nada menos que buracos vazios, negros, com formas. 

A relação da performance com o ato de pintar são explícitas. Numa tela o pintor acrescenta a mancha de tinta, aqui, Michelangelo está também a pintar,  perfurando a tela. As formas que constrói não são com um pincel mas com um martelo. Para o espectador, o seu reflexo começa a ser coberto por uma mancha negra. No contexto italiano da Arte Povera dos anos 60 e sobretudo desde o surgimento da obra urinol de Duchamp, "é fácil jogar com a identidade entre realidade-objecto e arte-objecto. Uma 'coisa' não é arte, a ideia dessa mesma 'coisa' pode ser arte.”1 (...) Um conceito válido, também, no caso de uma pintura que representa o seu reverso. “2

Michelangelo Pistoletto acredita que a primeira experiência figurativa real do homem é o reconhecimento da sua própria imagem no espelho: a ficção que mais se aproxima da realidade. Mas que não demora muito para que o reflexo comece a desenvolver as mesmas incógnitas, as mesmas perguntas e os mesmos problemas que a própria realidade."Na pintura de espelho temos uma imagem fotográfica fixa, que não muda, mas que coexiste com o presente em contínua mudança. [...] Em Veneza o espelho estava só, sem figura fixa, isto é, sem memória, um presente que se expandia ad infinitum. Este presente precisava de memória. Ao "esmagar" o espelho, introduzi nele um elemento, o preto que estava atrás. Este assumiu instantaneamente uma forma fixa que tinha o mesmo valor que a fotografia. A obra documenta um ato que foi o presente e que permanece como memória: uma fotografia gestual."

No final da ação, os espelhos e os pedaços partidos que caíram no chão foram deixados em exposição como uma instalação. A relação que se criou em cada espelho partido entre a superfície reflectora remanescente e a superfície negra produzida pela quebra propôs desafiar a dinâmica entre uma imagem (refletida) e imagem real. 

PISTOLETTO, Michelangelo. I plexiglass. Turin: Galleria Sperone, 1964

Ibidem.

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