quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Stan Douglas | Interregnum
CCB Museu Coleção Berardo
De 21 de Outubro a 14 de Fevereiro

Stan Douglas (Vancouver,1960) traz ao Museu Coleção Berardo a exposição Interregnum, um conjunto de três trabalhos recentes, Disco Angola (2012), Luanda-Kinshasa (2013) e The Secret Agent (2015), relacionados com um período histórico, os anos setenta, onde “diferentes expectativas do mundo emergem”, como escreve Pedro Lapa, o curador da exposição.
É de realçar, desde logo, o facto de se tratar de uma exposição com trabalhos bastante recentes. The Secret Agent foi, inclusivamente, criado para esta exposição, dando ao público português a oportunidade de ver, em primeira mão, o trabalho de um autor da dimensão internacional de Stan Douglas. Apenas este fato já seria suficiente para justificar uma visita ao Museu Coleção Berardo e a esta exposição em particular.
A exposição ocupa três salas, uma para cada uma das obras apresentada, com boas condições de visualização e audição, como é já costume no Museu Coleção Berardo.
O título, Interregnum, aponta para esse intervalo na década de 70, em que um horizonte de novas possibilidades de expressão pessoal e cultural pareciam abrir-se numa proposta de multiculturalismo que outras formas de poder viriam, mais tarde, fechar.


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 Stan Douglas, Kung-Fu Fighting, 1975, série Disco Angola, 2012


      
Stan Douglas, Kung-Fu Fighting, 1975, série Disco Angola, 2012

Disco Angola são duas séries de fotografias aparentemente distintas. Encontram um elo de ligação numa personagem fictícia, um repórter norte-americano que estuda essa realidade multicultural que emerge em Nova Iorque e que é a chamado para uma reportagem da mesma situação em Angola. Uma das séries mostra-nos o surgimento do disco sound em Nova Iorque, como movimento de fusão de várias culturas que virão a ser transformadas num produto mercantil, e outra que mostra o fim do colonialismo português em Angola e o início da guerra civil que veio depois. O resultado são duas séries de quatro fotografias cada, em formatos variados, onde se vê o intervalo entre dois sistemas de poder e as possibilidades abertas.

          
                                                   Stan Douglas, Luanda-Kinshasa, 2013


Luanda-Kinshasa é uma vídeo-projeção. Vemos uma banda de jazz de fusão que combina o free-jazz, o rock, o funk e o afrobeat nos famosos estúdios da Culumbia Records, também conhecidos como The Church. O vídeo leva-nos ao princípio dos anos 70 e ao início de uma fusão de linguagens musicais a que Miles Davis, cuja imagem alimenta todo o vídeo, deu origem.
A banda, de músicos atores convidados, toca duas músicas e de cada vez que se repetem, a ordem dos segmentos de filme e de som é alterada aleatoriamente – Douglas concebeu um dispositivo computorizado que que altera essa ordem ao transmitir o filme, participando, assim, diretamente na composição da música como se também fosse músico.

 
Stan Douglas, The Secret Agent, 2015


The Secret Agent é uma longa metragem de 52 minutos, apresentada em seis ecrãs, divididos em duas filas de três, alinhadas frente a frente. O espetador senta-se no meio, o que provoca uma imersão na ação, assim como uma ideia de controlo sobre o desenrolar da história, pelo acesso a diferentes perspetivas. No entanto, há uma sensação de desconforto que cresce com a proliferação de imagens insignificantes e o espetador passa a sentir que perdeu esse controlo sobre o filme e os seus protagonistas. 
Assim, Douglas mostra a forma como a abertura dada pelo fim da ditadura se foi fechando, também, fugindo do controlo dos protagonistas como o filme foge do controlo do espetador. 



   Stan Douglas, The Secret Agent, 2015

Ao mostrar sempre estes períodos de criatividade e libertação entre dois sistemas de poder, Douglas chama a nossa atenção para a forma como o poder pode fechar-nos em estruturas de comportamento e de expectativa muito mais limitados do que o que a nossa condição humana pode permitir. 

O cuidado a que o Museu Coleção Berardo já nos habituou na montagem e nas condições de apreciação das obras que expõe, aliada à importância e contemporaneidade – relembre-se que uma das obras estreia aqui e as outras são desta década - dos temas abordados por Stan Douglas e à qualidade com que este os aborda fazem desta exposição um evento a não perder. A exposição inaugurou em Outubro do ano passado e fica até 14 de Fevereiro.




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