quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Despite Intensions

John Divola 
24 Sep - 21 Nov 2015
Galeria Pedro Alfacinha - Lisboa
Rua de São Mamede, 25 C. Tel: 21 1359220
3ª a Sábado das 15h às 21h.


“Despite Intensions”, 1983, 12x24 0n 20x24, fotografia Cibachrome 


Despite Intensions é primeira exposição individual do fotógrafo californiano, John Divola, em Portugal. Reúne nove dípticos inéditos, produzidos entre 1983 e 1984, que podem ser vistos na galeria Pedro Alfacinha, uma galeria inaugurada em Setembro 2014 e exclusivamente dedicada à fotografia.

Este trabalho remete-nos para a relação entre a escultura (muitas delas construídas pelo próprio artista) e a fotografia, através da associação entre pessoas e objectos, reiterando a sua relação com a experimentação e sua possibilidade de documentação através da fotografia. 

As imagens saturadas de cor, conjuntamente com sua apresentação díptica, convida-nos a uma leitura gestáltica de ambas. Porquê o uso desta forma de cor (com impressões em cibacrome que produzem cores artificiais) e a associação destas imagens? São questões que se nos colocam durante a exposição. 


“Despite Intensions”, 1983, 12x24 0n 20x24, Fotografia Cibachrome 

John Divola (n. 1949) é um artista que se divide entre a fotografia e o ensino. Nasceu em Los Angeles e cresceu no vale de São Fernando, na Califórnia. Completou o MFA na Universidade de Califórnia de Los Angeles, em 1974. Desde 1975 é professor de fotografia e arte em muitas instituições, nomeadamente na Universidade da Califórnia, em Riverside (desde 1988). Foi bolseiro por diversas vezes da National Endowment for the Arts,  John Simon Guggenheim Memorial Fellowship, City of Los Angeles Artist Grant e da California Arts Council Individual Artist Fellowship, entre outros prémios e distinções. Desde 1975 realizou mais de 70 exposições individuais nos EUA, Japão, Europa, México e Austrália, como também participou em mais de duzentas exposições coletivas, em diversos locais.

Trabalha principalmente em fotografia e imagem digital, em torno de uma gama de assuntos que varia amplamente, mas o rigor intelectual a partir do qual elas surgem é invariável. Desde os anos 70 o seu trabalho ultrapassa os limites técnicos de fotografia, permeando as suas imagens com gestos e intenções. Filho de um engenheiro aeronáutico e de uma escritora, fotógrafo que se mantém fiel à fotografia, continua a descrever o seu trabalho, as suas manipulações na imagem, não para mostrar como a máquina “mente”, mas sim como as coisas podem ser ativadas e mudadas na realidade, e registadas através da câmara fotográfica. A fotografia como índice da realidade e menos como representação. 

“Despite Intensions”, 1983, 12x24 0n 20x24, Fotografia Cibachrome 

O seu trabalho é caracterizado por uma relação entre a arte conceptual, a performance e a escultura. Ele parece ser capaz de recolher o espaço entre a fotografia e ao mundo que ele documenta, acentuando o seu próprio impacto sobre o espaço, ainda que pequeno. Interessa-lhe a visão da obra de arte como ação no mundo, como também a possibilidade desta ser fruto da sua própria existência. Considera a possibilidade de articular “o que está dentro com o que está fora de nós, o que vemos com o que sentimos, através da experiência”1.


Fotografia da exposição da Galeria Pedro Alfacinha, Lisboa

Divola tem muito em comum com artistas como Bruce Nauman e Robert Smithson, que usaram a fotografia para investigar outros tópicos. Descreve sua prática de forma sucinta: “os meus actos, a minha pintura, as minhas fotografias, são parte de um processo de evolução e mudança. A minha participação não é tanto uma consideração intelectual, mas um envolvimento visceral”2. Faz-nos questionar o meio fotográfico como mero registo do mundo e da sua relação de neutralidade, podendo este ser constituído como um meio privilegiado e potencial de registo da dinâmica presente.


Fotografia da exposição da Galeria Pedro Alfacinha, Lisboa

Em Despite Intentions podemos ver a imagem enquanto processo, processo de ação física e material, no espaço pictórico. A sua riqueza pictórica e conceptual faz-nos considerar ser esta, provavelmente, uma das melhores exposições de fotografia do ano.

1 e 2 Entrevista a John Divola realizada por Simon Baker, em Agosto de de 2012, gravação disponível no Museu de Arte de Santa Barbara.




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