sábado, 20 de janeiro de 2024

Livro de cabeceira nº1: Ocorrências na irrealidade imediata

Livros de cabeceira: notas sobre a forma do livro


Livros de cabeceira é uma série de pequenos textos escritos sobre o design de livros da minha biblioteca pessoal, desde os livros mais sofisticados da minha coleção até aos mais ingênuos, focando-se nos seus aspetos formais, a sua materialidade, a capa, a encadernação, a tipografia, etc. Com o objetivo de compreender o papel da sua forma física nos contextos culturais sob os quais foram criados. Este formato é inspirado no livro Notes on Book Design de Formal Settings editado pela Onomatopee em 2023.

 

Livro de cabeceira nº1: Ocorrências na irrealidade imediata


Escrito por Max Blecher e publicado pela Coleção Livro B nº64 (2021)

Tradução: Tanty Ungureanu

Editor: Hugo Xavier

Design: PaperTalk

Paginação: Aresta Criativa

Arte da capa: Alda Rosa

Impressão: Papelmunde

Editora: E-Primatur


Composto em tipos Korinna da fundição H. Berthold AG  e Woodblock da Monotype (capa)

  


  
 
Este é o livro nº 64 da coleção” Livro B”,  iniciada em 1970 até 1991 pela, agora extinta, Editorial Estampa dirigida pelo editor António Carlos Manso Pinheiro que terá lançado no mercado “aquela que foi, ao longo de mais de 20 anos, uma das poucas coleções de culto em Portugal”, reunindo gêneros e autores alternativos, desde o surrealismo ao fantástico e recuperada agora pela E-primatur em 2019. Em formato de bolso, estes livros prezam pela verticalidade com uma dimensão de 14 x 21 cm, com uma capa em cartolina preta, impressa com letras prateadas e folhas de papel azul claro fazem com que à primeira vista este livro fuja à norma, propondo um conteúdo também dissidente. A capa segue um modelo proposto por Alda Rosa, designer que desenhou os livros nº 1 a 3 entre 1970 e 1971, que se mantém até hoje como o modelo seguido com apenas algumas pequenas alterações, a ornamentação utilizada na versão inicial foi substituída por apenas um pequeno filete a separar o escritor do título e o logo da editora com um desenho alterado e uma dimensão muito mais reduzida. As tipografias utilizadas foram também alteradas, mas houve um cuidado de manter a mesma expressão.

Pela estampa foram publicados mais de 50 volumes, atividade que seria interrompida no ano de 1991 devido a um processo de insolvência que terminou a editora. Nestes volumes terão participado como tradutores, introdutores ou como meros consultores nomes como Luiza Neto Jorge, Aníbal Fernandes, Manuel João Gomes, Cesariny, José Saramago, Fernanda Barão, Silva Duarte, entre outros.

“A coleção não temia ser pop desde que esse pop não fosse reconhecido pela academia”, refere o editor da E-Primatur, Hugo Xavier, no verso da contracapa. 

É de notar também a estrutura de publicação desta nova encarnação da “livro B” resultando de uma estrutura de crowdfunding onde os leitores podem apoiar a edição do livro proposto pela editora e caso a meta não seja alcançada o leitor pode decidir a devolução da quantia monetária simbólica ou apoiar outro projeto em aberto. Este formato de distribuição e o baixo custo modular do design deste livro ajudam a manter a identidade marncomum desta coleção destinada a “colmatar lacunas literárias e culturais do mercado editorial portugês.”

“Se a maior parte das bem-sucedidas coleções de bolso portuguesas do século XX eram eminentemente coleções de consumo de massas, e isto independentemente da sua qualidade intrínseca, a coleção ‘Livro B’ esteve à altura do desígnio de ser alternativa”, tanto na sua forma como conteúdo. 


 

https://e-primatur.com/projectos/ocorrencias-na-irrealidade-imediata-max-blecher

https://observador.pt/2019/03/06/lembra-se-da-colecao-livro-b-esta-de-volta/

https://www.errata.design/media/Errata%20Catalogue%20WebVersion.pdf

https://unseenby.design/2022/11/24/alda-rosa-designer/

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