domingo, 30 de outubro de 2022

“Statues Also Die” de Chris Marker e Alain Resnais, 1953

 

“Quando os homens morrem, eles entram na história, quando as estátuas morrem, elas entram na arte. Esta botânica da morte é aquilo a que chamamos cultura.”

     O filme criado por Chris Marker e Alain Resnais, “Statues Also Die”, é um filme-ensaio que toca num dos assuntos mais problematizados da humanidade, os efeitos do colonismo europeu. Ao longo da exibição do filme, o espectador é submetido à visualização de inúmeras esculturas, máscaras e variadas artes tradicionais africanas, em que os artistas se focam na emoção dos objetos apresentados e percecionam uma discussão em torno da história europeia e contemporânea a nível artístico.

 

    Durante a visualização deste ensaio, ponderei se existiria uma relação entre a instituição-museu, uma das estruturas que os europeus criaram para a preservação da memória dos acontecimentos que consideraram mais significativos, e o filme “Statues Also Die”. Deste modo, refleti sobre o lugar e a importância dos museus nos nossos dias, tendo em conta em como os mesmos podem, servem e como podemos reinventar e resinificar.

    Se pensarmos bem, e refletirmos sobre o que nos é apresentado, tudo depois da morte é mais valorizado do que em vida. Neste caso, a arte só é considerada arte quando algo de errado acontece. É o erro da humanidade, é o erro que muitos de nós comete, acreditar e dar por garantido algo que na realidade não está. Vemos isso explicito na cultura, em toda a arte presente no mundo. É inacreditável que o ser humano criou um local, um sítio próprio, para se poder admirar a arte quando o próprio artista morre e não está presente. Chamaram a esse local de Museu, um estranho nome, mas estranho é o facto de terem criado algo para se admirar depois da abominável morte chegar.

    “Statues Also Die” é um filme-ensaio criado por Chris Marker e Alain Resnais para exibir o devastador impacto do colonismo francês na arte africana. O mesmo foi criado para mostrar que a arte africana perdeu a ligação com a sua cultura, em que o próprio Chris Marker revelou que:

         “Queremos ver o sofrimento, a serenidade e o humor mesmo que não saibamos nada acerca deles”.

    Ao longo do decorrer do filme, o espectador tem a perceção que a arte africana, em todas as esculturas e histórias apresentadas, perderam o seu simbolismo para com o colunismo europeu e morreram em museus. Mas, será que ao longo de 12 anos seguidos, o tempo em que o filme foi proibido em França, a população desacreditou na afluência que a arte africana tinha perante o mundo?



    O espectador é submergido em arte a cada imagem que passa. Conseguimos absorver a história por detrás de cada escultura, de cada detalhe e de cada palavra que o narrador nos apresenta. É importante referir que a cultura africana era muito mais que um povo, a cultura africana era a arte em si, escondida atrás de máscaras com significados poderosos:

“Art here begins in the spoon and ends up in the statue. And it is the same art. The wisdom in art and the ornament of a useful object like a head rest, and the useless beauty of a statue, belong to two diferente orders. Here this difference falls apart when we look closer. A chalice is not an art object, it is a cult object.” - de Chris Marker e Lauren Ashby, 2013, The Statues Also Die, Art in Translation.

    Durante os nossos dias, existem diversos museus com diversas artes e culturas, mas também com diferentes conceitos. Ao refletir acerca da potencialidade de um museu, sabemos que os mesmos podem querer atingir públicos alvos. No entanto, muitos dos museus não têm o devido reconhecimento ou respeito à cultura através do humano. Mas, se ponderarmos em todas as hipóteses e competências, existem variadas perguntas direcionadas ao âmbito da criação dos museus desde os tempos antigos.

    O que pode um museu? Para que servem os museus? Como os podemos reinventar? Como os podemos resinificar?

    Na verdade, um museu pode mudar a mentalidade de uma pessoa no que toca à questão de absorção de conhecimentos e matérias não faladas diariamente. Mas, a realidade, é que os mesmos servem para desvendar culturas e mistérios, maioritariamente acontecidos em tempos passados.

    O mundo a cada passo que dá reinventa-se por si próprio. À volta do mesmo, existem os criadores e os pensadores, que nos enchem os dias com inovações e experiências, que um dia mais tarde ficaram na memória. No entanto, no que diz respeito à reinvenção dos próprios museus, o ser humano tem a capacidade de pensar mais além, deixando-nos assim colocados na era da tecnologia e das artes media, criando programas artísticos e revolucionários para os nossos tempos.

    Mas, será que os museus podem ser resinificados? A meu ver, podem, porque cada ser humano pode dar um significado a cada museu, não a nível artístico, mas a nível pessoal. Cada pessoa pode dar rótulos e designações a coisas, espaços, seres e entre outros, deixando no seu arquivo pessoal, a que eu designo de memória, o conceito desejado ao espaço que visitou.


Filme-Ensaio: https://www.youtube.com/watch?v=jEsKZ_15nhs


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