quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Bild, oder

Bild, oder (Imagem, ou) surge enquanto catálogo da exposição Mit einem Fuss in der Realität (Com um pé na realidade) de Joëlle Tuerlinckx e Willem Oorebeek, em Karlsruhe, na Alemanha, em 2004.


Joëlle Tuerlinckx (1958, Bélgica) trabalha com materiais com o estatuto de arquivo, provenientes de diferentes meios: objetos encontrados, textos, jornais, obras suas anteriores e material cinematográfico. Tuerlinckx recorre a diferentes métodos de transformação e a um sistema infinito de referências e citações, onde as suas obras - variáveis e constantemente readaptáveis - permanecem um processo aberto.


Willem Oorebeek (1953, Holanda), na sua prática artística, aborda a “questão da imagem e da sua representação, explorando as noções de repetição, reprodução, autoria e originalidade”. O artista recolhe material impresso pelos meios de comunicação de massas, segundo os seus critérios de atracção, afeição ou afinidade, e manipula-o através de técnicas das artes gráficas.


O livro debruça-se  em torno das temáticas da mostra Com um pé na realidade, que agrupa fragmentos de posters, convites, páginas de catálogos, objetos encontrados e recortes de papel, num complexo sistema de referências, como é habitual no trabalho de Joëlle Tuerlinckx. Os dispositivos estabelecem entre si uma relação, em que a materialidade de uma superfície se reflete contra a outra. Ao reagrupar, reorganizar e re-classificar os elementos expostos, instituiu-se uma nova ordem que se alimenta da percepção espaço-temporal. 


Algo semelhante acontece no catálogo, que reúne colagens reproduzidas a preto e branco dispostas numa organização interna própria do objeto, como sugere a dupla numeração nas imagens (a da série, à direita, e a da peça no interior da série, à esquerda), para além dos números das páginas. 


Uma vez criados em paralelo, no estúdio dos artistas, o conteúdo do livro provém do material utilizado na exposição e vice-versa. Deste modo, os dispositivos contaminam-se e estão constantemente a citar-se um ao outro. Esta intercomunicação demonstra que os assuntos não se esgotam e podem ser desdobrados infinitamente. Numa lógica semelhante, a colaboração entre os artistas - que se interpelam através de sucessivas intervenções intuitivas - estabelece uma constante apropriação, por partes dos mesmos, do trabalho um do outro.


“Por vezes trabalhamos com material que eu recolhi. Outras vezes é material do Willem. No processo de construção do livro, as séries foram-se desenvolvendo de uma forma muito fluída e natural” - Joëlle Tuerlinckx.


A manipulação das imagens em Bild, oder acontece através do confronto com o próprio papel, que apenas pela sua presença física sugere ações por parte do sujeito que o observa. Deste modo, seria impossível uma abordagem digital por parte dos artistas para aferir este tipo de resultado, que, por sua vez, é muito manual e expontâneo.


O catálogo é produzido neste tom de diálogo entre Joëlle Tuerlinckx e Willem Oorebeek, que estendem a sua prática apresentada na exposição ao livro, não o diminuindo em instância alguma e devolvendo-lhe o valor merecido - de obra de arte. Neste sentido, é um objeto independente que fala por si só, apesar das interligações fortes que estabelece entre os artistas e as obras, que em nada o inviabilizam.















Referências:


WILLEM OOREBEEK. MONOLITH, Once or Many. Lisboa: Culturgest.

https://archive.schwarzwaelder.at/artist/joelle_tuerlinckx

https://www.quadradoazul.pt/pt/qa/artist/willem/

https://www.textem.de/index.php?id=612

https://www.objectif.co.uk/projects/bild-oder/

https://saint-martin-bookshop.com/products/bild-oder-joelle-tuerlinckx-willem-oorebeek-badische-kunstverein-2004


Sem comentários:

Enviar um comentário