domingo, 28 de maio de 2023

DÒING! Mas com cuidado, meninos!

Para celebrar os 25 anos da Expo 98, a escola onde trabalho decidiu levar os alunos do 5º e 6º anos ao Pavilhão do Conhecimento. O plano foi visitar o museu todo, mas especialmente a nova Dòing Oficina Aumentada. As crianças adoraram os trinta minutos que lá estiveram, mas como professora fiquei um pouco desapontada com as funcionárias do serviço educativo do museu.

Para quem, como eu, cresceu com a Expo 98, com certeza conhece o Pavilhão do Conhecimento, também conhecido como Centro Ciência Viva, e que o relembram com afeto. É extraordinário como museu, já que foi construído especificamente para crianças. As suas exposições são interativas, informativas e existe algo para todas as idades. Quem não se lembra de rodar manivelas, apertar botões e puxar correntes neste espaço fantástico?


Fonte: autor

Com o intuito de apresentar os nossos alunos a esse espaço, foi marcada uma visita e uma sessão na Dòing Oficina Aumentada, um espaço interativo e criativo mais recente, onde as crianças podem ser inventivas e podem explorar vários conceitos científicos, como a gravidade, a resistência do ar e a eletricidade. O espaço é convidativo, com várias estações de atividades variadas, e as crianças são deixadas à sua mercê para serem livres para fazerem as suas próprias descobertas e para trabalharem em equipa.


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Existem sete desafios, cinco deles permanentes, e cada um deles apresenta uma atividade interativa. O desafio que chamou a atenção das crianças em primeiro lugar foi, claro, a Estação de Robótica. Ele consiste em uma área dividida em quatro partes, onde as crianças podem controlar dois robôs através de tablets e guiá-los através de obstáculos variados. É divertido, mas rapidamente se cansaram da atividade quando perceberam que não podiam fazer quaisquer mudanças aos labirintos ou mexer nas rampas e árvores feitas de cartão. Mal lhes tocaram, apareceu uma funcionária a exclamar “Não toquem! Não toquem!”. Os alunos mudaram rapidamente de área, mas eu fiquei desapontada. Afinal, o objetivo não é experimentar coisas diferentes?


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O segundo desafio mais popular foi a Máquina dos Berlindes. Num painel de madeira esburacado as crianças podem utilizar diversos tubos, funis e peças variadas para criar um percurso para um berlinde, trabalhando com conceitos como a gravidade, propulsão e fricção de materiais diferentes como a madeira e o plástico. Os alunos adoraram esta estação e foram realmente livres para criar as suas máquinas. No entanto, houve uma escassez de parafusos para segurar as peças e logo houve alguma fricção entre as crianças. Como o tempo foi escasso, muitas criações ficaram por acabar.


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Outro desafio muito popular foram os Tubos de Vento, onde as crianças tinham de criar “foguetões” que descolassem nos tubos, trabalhando conceitos como a resistência do ar. Tinham vários materiais à sua disposição e divertiram-se imenso. Exaltavam-se quando as suas máquinas descolavam a toda a velocidade e maravilhavam-se quando rodopiavam no ar. Infelizmente, não havia fita cola suficiente para todos os “foguetões” que foram criados, e as funcionárias do museu pareciam mais preocupadas com arrumar os materiais do que com ajudar as crianças a experimentar coisas diferentes.

Um desafio que me despertou especialmente a atenção foi a das Máquinas de Rabiscos, onde se podia construir robôs cujo objetivo era rabiscar a folha de papel providenciada. Havia exemplos e peças diferentes para utilizar. Notei que os únicos que prevaleceram nesta estação foram os mais interessados em mecânica, pois não havia quaisquer instruções e os alunos tiveram muitas dificuldades. As funcionárias ajudaram um pouco, mas rapidamente os abandonavam. Também não deixavam mexer muito nos exemplos dados, o que poderia ter ajudado a resolver este desafio.


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Outro desafio muito popular foi o dos Circuitos Elétricos. As crianças têm acesso a vários fios, baterias, campainhas, lâmpadas e buzinas e têm de investigar como é que a eletricidade funciona. Aqui as crianças não precisavam de assistência nenhuma, sendo os circuitos elétricos algo que podem descobrir de maneira intuitiva. Chamavam-me constantemente para me mostrar as suas criações e sorriam radiantes quando finalmente conseguiam acender uma lâmpada.


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Os últimos dois espaços não foram tão populares. O Maker, um espaço de costura, teve apenas uma aluna como participante. O objetivo era fazer um personagem com tecidos e fios, mas não percebe a sua conexão com ciências. A aluna gostou muito da experiência e mostrou o seu resultado com orgulho. O espaço de Porta-chaves de Robôs não teve qualquer aderente, ou por falta de interesse ou falta de instruções.

O meu grande desgosto foi realmente que as funcionárias do museu que estavam a auxiliar os alunos não pareciam ter paciência para a excitação natural que um grupo de crianças tem quando lhes é dito para experimentarem e fazerem o que quiserem. Fiquei especialmente desapontada com o facto de que não se podiam levar materiais de uma estação para outra, especialmente quando o objetivo do espaço é, de acordo com o seu website, “criar, fazer, experimentar, construir e partilhar, onde tentativa e erro se conjugam de forma divertida e inspiradora” (Pavilhão do Conhecimento, 2023). Como dizia Paulo Freire, “Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos” (Freire, 2001, p. 40). Estava à espera de algo mais aberto e com menos regras para encorajar essa experimentação.

São crianças! Queria eu exclamar às funcionárias. Vão desarrumar as coisas, vão querer tocar em tudo, fazer tudo, vão empurrar-se umas às outras, vão tirar materiais umas às outras, vão exaltar-se, vão aborrecer-se, vão cansar-se. Há que lhes dar a liberdade para serem elas mesmas e fazer erros para depois tirarem conclusões e aprenderem de maneira significativa.

Infelizmente, esta atitude dos funcionários dos serviços educativos não é rara. Foi a mesma situação quando se visitou o Museu Bordalo Pinheiro, onde a funcionária demonstrou pouca paciência para com os alunos. No entanto, já tive muitas experiências positivas, como no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota e no Palácio Nacional de Mafra, onde era óbvio o entusiasmo dos nossos guias. A melhor visita foi no Museu da Farmácia em Lisboa, onde o nosso guia tinha muitas estratégias de gestão de comportamento, identificando imediatamente os alunos mais problemáticos e dando-lhes tarefas para os ocupar.

Acredito que os serviços educativos têm de ser compostos, não só por especialistas nos assuntos do museu, mas também que saibam lidar com crianças e tenham a paciência e o entusiasmo necessários para despertar o seu interesse e aumentar a sua curiosidade. Temos necessidade de profissionais treinados em educação, não só em museologia, e atividades que mantenham os alunos entretidos ao mesmo tempo que ajudem a reter a informação oferecida. Claro que alguma dessa responsabilidade também pertence aos professores, mas sinto uma relutância e falta de paciência para com os visitantes entre os 10 e 14 anos de idade por parte dos funcionários.

No entanto, ao perguntar aos meus alunos se tinham gostado das atividades e das funcionárias, responderam logo que a experiência tinha sido muito positiva. A minha última crítica é que trinta minutos é uma duração muito curta para poderem explorar cada área a fundo, mas com certeza será muito apreciada por qualquer criança. É um espaço que estimula a curiosidade e o pensamento crítico, algo essencial e que parece estar em falta em muitas das crianças com as quais lido. Vale muito a pena marcar uma visita.


Dòing Oficina Aumentada
Necessita de marcação prévia.

Reservas: Telefone: (+351) 21 891 71 04 (chamada para a rede fixa nacional) - de segunda a sexta-feira das 9.30 às 18.30

Localização: Pavilhão do Conhecimento - Centro Ciência Viva, Largo José Mariano Gago, nº1 Parque das Nações 1990-073 Lisboa

Horários: De segunda a sexta-feira: das 10.00 às 18.00 (última entrada: 17.30; 16.30 para os grupos) | Fins-de-semana e feriados: das 10.00 às 19.00 (última entrada 18.30)

Preçário: Adulto - € 11 | Criança até 2 anos - GRÁTIS | Criança 3-11 anos (1) - € 8 | Jovens 12-17 anos (1) - € 9 | Sénior + 65 anos - € 8 | Bilhete família (família nuclear: 2 adultos com filhos até 17 anos) - € 28


Bibliografia

Pavilhão do Conhecimento. (2023). Dòing Oficina Aumentada. Recuperado a maio 28, 2023, de https://www.pavconhecimento.pt/

Freire, P. (2001). Política e Educação: ensaios (5th ed.). Cortez. https://drive.google.com/file/d/0B3GQrRvm4KXOSjctdkxnUHo1dTQ/view?resourcekey=0-7Y8K9Fz8ywkIRROAo0rJKg

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