Para quem, como eu, cresceu com a Expo 98, com certeza conhece o Pavilhão do Conhecimento, também conhecido como Centro Ciência Viva, e que o relembram com afeto. É extraordinário como museu, já que foi construído especificamente para crianças. As suas exposições são interativas, informativas e existe algo para todas as idades. Quem não se lembra de rodar manivelas, apertar botões e puxar correntes neste espaço fantástico?
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Com o intuito de apresentar os nossos alunos a esse espaço, foi marcada uma visita e uma sessão na Dòing Oficina Aumentada, um espaço interativo e criativo mais recente, onde as crianças podem ser inventivas e podem explorar vários conceitos científicos, como a gravidade, a resistência do ar e a eletricidade. O espaço é convidativo, com várias estações de atividades variadas, e as crianças são deixadas à sua mercê para serem livres para fazerem as suas próprias descobertas e para trabalharem em equipa.
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Existem sete desafios, cinco deles permanentes, e cada um deles apresenta uma atividade interativa. O desafio que chamou a atenção das crianças em primeiro lugar foi, claro, a Estação de Robótica. Ele consiste em uma área dividida em quatro partes, onde as crianças podem controlar dois robôs através de tablets e guiá-los através de obstáculos variados. É divertido, mas rapidamente se cansaram da atividade quando perceberam que não podiam fazer quaisquer mudanças aos labirintos ou mexer nas rampas e árvores feitas de cartão. Mal lhes tocaram, apareceu uma funcionária a exclamar “Não toquem! Não toquem!”. Os alunos mudaram rapidamente de área, mas eu fiquei desapontada. Afinal, o objetivo não é experimentar coisas diferentes?
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O segundo desafio mais popular foi a Máquina dos Berlindes. Num painel de madeira esburacado as crianças podem utilizar diversos tubos, funis e peças variadas para criar um percurso para um berlinde, trabalhando com conceitos como a gravidade, propulsão e fricção de materiais diferentes como a madeira e o plástico. Os alunos adoraram esta estação e foram realmente livres para criar as suas máquinas. No entanto, houve uma escassez de parafusos para segurar as peças e logo houve alguma fricção entre as crianças. Como o tempo foi escasso, muitas criações ficaram por acabar.
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Outro desafio muito popular foram os Tubos de Vento, onde as crianças tinham de criar “foguetões” que descolassem nos tubos, trabalhando conceitos como a resistência do ar. Tinham vários materiais à sua disposição e divertiram-se imenso. Exaltavam-se quando as suas máquinas descolavam a toda a velocidade e maravilhavam-se quando rodopiavam no ar. Infelizmente, não havia fita cola suficiente para todos os “foguetões” que foram criados, e as funcionárias do museu pareciam mais preocupadas com arrumar os materiais do que com ajudar as crianças a experimentar coisas diferentes.
Um desafio que me despertou especialmente a atenção foi a das Máquinas de Rabiscos, onde se podia construir robôs cujo objetivo era rabiscar a folha de papel providenciada. Havia exemplos e peças diferentes para utilizar. Notei que os únicos que prevaleceram nesta estação foram os mais interessados em mecânica, pois não havia quaisquer instruções e os alunos tiveram muitas dificuldades. As funcionárias ajudaram um pouco, mas rapidamente os abandonavam. Também não deixavam mexer muito nos exemplos dados, o que poderia ter ajudado a resolver este desafio.
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Outro desafio muito popular foi o dos Circuitos Elétricos. As crianças têm acesso a vários fios, baterias, campainhas, lâmpadas e buzinas e têm de investigar como é que a eletricidade funciona. Aqui as crianças não precisavam de assistência nenhuma, sendo os circuitos elétricos algo que podem descobrir de maneira intuitiva. Chamavam-me constantemente para me mostrar as suas criações e sorriam radiantes quando finalmente conseguiam acender uma lâmpada.
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Os últimos dois espaços não foram tão populares. O Maker, um espaço de costura, teve apenas uma aluna como participante. O objetivo era fazer um personagem com tecidos e fios, mas não percebe a sua conexão com ciências. A aluna gostou muito da experiência e mostrou o seu resultado com orgulho. O espaço de Porta-chaves de Robôs não teve qualquer aderente, ou por falta de interesse ou falta de instruções.
O meu grande desgosto foi realmente que as funcionárias do museu que estavam a auxiliar os alunos não pareciam ter paciência para a excitação natural que um grupo de crianças tem quando lhes é dito para experimentarem e fazerem o que quiserem. Fiquei especialmente desapontada com o facto de que não se podiam levar materiais de uma estação para outra, especialmente quando o objetivo do espaço é, de acordo com o seu website, “criar, fazer, experimentar, construir e partilhar, onde tentativa e erro se conjugam de forma divertida e inspiradora” (Pavilhão do Conhecimento, 2023). Como dizia Paulo Freire, “Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos” (Freire, 2001, p. 40). Estava à espera de algo mais aberto e com menos regras para encorajar essa experimentação.
São crianças! Queria eu exclamar às funcionárias. Vão desarrumar as coisas, vão querer tocar em tudo, fazer tudo, vão empurrar-se umas às outras, vão tirar materiais umas às outras, vão exaltar-se, vão aborrecer-se, vão cansar-se. Há que lhes dar a liberdade para serem elas mesmas e fazer erros para depois tirarem conclusões e aprenderem de maneira significativa.
Infelizmente, esta atitude dos funcionários dos serviços educativos não é rara. Foi a mesma situação quando se visitou o Museu Bordalo Pinheiro, onde a funcionária demonstrou pouca paciência para com os alunos. No entanto, já tive muitas experiências positivas, como no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota e no Palácio Nacional de Mafra, onde era óbvio o entusiasmo dos nossos guias. A melhor visita foi no Museu da Farmácia em Lisboa, onde o nosso guia tinha muitas estratégias de gestão de comportamento, identificando imediatamente os alunos mais problemáticos e dando-lhes tarefas para os ocupar.
Acredito que os serviços educativos têm de ser compostos, não só por especialistas nos assuntos do museu, mas também que saibam lidar com crianças e tenham a paciência e o entusiasmo necessários para despertar o seu interesse e aumentar a sua curiosidade. Temos necessidade de profissionais treinados em educação, não só em museologia, e atividades que mantenham os alunos entretidos ao mesmo tempo que ajudem a reter a informação oferecida. Claro que alguma dessa responsabilidade também pertence aos professores, mas sinto uma relutância e falta de paciência para com os visitantes entre os 10 e 14 anos de idade por parte dos funcionários.
No entanto, ao perguntar aos meus alunos se tinham gostado das atividades e das funcionárias, responderam logo que a experiência tinha sido muito positiva. A minha última crítica é que trinta minutos é uma duração muito curta para poderem explorar cada área a fundo, mas com certeza será muito apreciada por qualquer criança. É um espaço que estimula a curiosidade e o pensamento crítico, algo essencial e que parece estar em falta em muitas das crianças com as quais lido. Vale muito a pena marcar uma visita.
Dòing Oficina Aumentada
Necessita de marcação prévia.
Reservas: Telefone: (+351) 21 891 71 04 (chamada para a rede fixa nacional) - de segunda a sexta-feira das 9.30 às 18.30
Localização: Pavilhão do Conhecimento - Centro Ciência Viva, Largo José Mariano Gago, nº1 Parque das Nações 1990-073 Lisboa
Horários: De segunda a sexta-feira: das 10.00 às 18.00 (última entrada: 17.30; 16.30 para os grupos) | Fins-de-semana e feriados: das 10.00 às 19.00 (última entrada 18.30)
Preçário: Adulto - € 11 | Criança até 2 anos - GRÁTIS | Criança 3-11 anos (1) - € 8 | Jovens 12-17 anos (1) - € 9 | Sénior + 65 anos - € 8 | Bilhete família (família nuclear: 2 adultos com filhos até 17 anos) - € 28
Bibliografia
Pavilhão do Conhecimento. (2023). Dòing Oficina Aumentada. Recuperado a maio 28, 2023, de https://www.pavconhecimento.pt/
Freire, P. (2001). Política e Educação: ensaios (5th ed.). Cortez. https://drive.google.com/file/d/0B3GQrRvm4KXOSjctdkxnUHo1dTQ/view?resourcekey=0-7Y8K9Fz8ywkIRROAo0rJKg
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