Wim Wenders à
descoberta de Portugal
Museu da Água Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras
Inserida na programação do Lisbon & Estoril Film
Festival – LEFFEST
Curadoras: Ana Duque y Gonzales e Laura Schimidt
Realizada pela Wenders Images e pela Fundação Wim Wenders em
colaboração com o LEFFEST e com o Museu da Água da EPAL
De 07 de novembro de 2015 até 02 de abril de 2016
Preço: 5 €
"No one will
doubt that, besides water, life is the best thing a human being has."
Georg
Christoph Lichtenberg (1742-1799)
A exposição se encontra no
Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras, depósito que recolhe as águas provenientes do aqueduto das Águas Livres, no distrito de Lisboa. A construção data de 1834 e sua arquitetura sóbria veste
a exibição perfeitamente, combinando com a nostalgia das 28 fotografias
escolhidas, assim como o som da cascata e da Arca d’Água que ditam o clima
presente no espaço.
Wim Wenders é um realizador de
renome alemão, importante figura integrante do Novo Cinema Alemão e, hoje, Presidente
da Academia de Cinema Europeu em Berlim. Wenders costuma misturar abordagens transitando entre ficções, documentários e séries
de televisão, marcados frequentemente pelo realismo fantástico. As fotografias
em exibição foram registradas pelo autor enquanto descobria Portugal em
preparação para as filmagens de suas obras O Estado das Coisas, Até o Fim do
Mundo e Lisbon Story. Isso se deu
entre 1980 e 1994, momento em que o país passava por mudanças políticas e
iniciava uma expansão econômica.
A frase de Fernando Pessoa “À luz do dia
até os sons brilham” é utilizada como título da exposição, utilizada pelo realizador em seu filme Lisbon Story, e nenhum outro título
cairia melhor aqui também. As imagens de Portugal surgiram com uma visita de
Wenders às instalações abandonadas do Hotel da Praia Grande, em Sintra.
Once
at the westernmost tip
of the European continent,
where Portugal has its pointed nose,
at least on the atlas,
I came across an abandoned hotel.
With every wave
the Atlantic asserted its claim on this piece
of land.
This place longed to became a movie,
I felt,
realizing at the same time
that I had already brought the story for it
with me,
and that only here I’d be able to get it off
my chest.
America was “opposite”,
just across the sea.
(Wim
Wenders, Once. Pictures and Stories.
Munique, Schirmer Art Books, 2015, p.26)
A paixão de Wenders por Portugal,
suas transformações e sua história foi instantânea. O clima nostálgico e malancólico de Lisboa
acabou em arte.
“e em Lisboa lembrei-me da Alemanha da minha infância.”
(texto: Wim
Wenders, Once. Pictures and Stories.
Munique, Schirmer Art Books, 2015, p.244)
Começamos a caminhar pelo caminho
cinzento e estreito que dá a volta ao espelho d’água no centro do prédio, o som
da água caindo e a música clássica ao fundo acentuam a nostalgia presente
nas imagens de Wim Wenders, não só como tema das fotos, mas em suas cores e
ângulos. O fato de não se poder tomar distância para observar as fotos, devido
ao caminho estreito, força-nos a quase fazer parte da imagem, percebendo cada
canto da composição. As fotografias de Wenders são carregadas de detalhes e
nuances que só uma boa observação pode captar.
Num ambiente nostálgico e
clássico, percorre-se o caminho de 27 obras postas às paredes, iluminadas
individualmente, mas também banhadas com a luz natural que entra pelas longas e
antigas janelas do edifício. O olhar de Wenders é emoldurado pelos detalhes do
local, mas também pela sua história, visto que o aqueduto que desagua neste
local é também assunto de imagens em questão. Há história nas imagens e nas
paredes que as vestem.
A última obra, que também pode
ser a primeira, já que o caminho é praticamente um círculo, de numero 28, é
enorme e colocada sob o espelho d’água, o chamariz da exposição, primeira e última
coisa que se vê.
Wim Wenders pousa seu olhar pelas
ruas, telhados, construções, trabalhadores e pelo abandono. Usa de cores e
preto e branco, contrastes marcantes entre luz e sombras. Suas composições são
recheadas de observação e curiosidade. O descobrimento de uma cidade em pleno
estado de transição, uma nostalgia quase palpável. As imagens de Wenders não
são apenas documentais, mas uma homenagem à Lisboa, à sua evolução, símbolos de
uma transformação que se manifesta no espaço.
A exibição fica até abril de 2016
e, sem dúvida, é uma visita que vale a pena, para quem conhece o trabalho de
Wim Wenders ou não.
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