Origem da sinalética: quando o ser humano começou a comunicar no espaço
Enquanto termino um trabalho de sinalética, comecei a pensar em quais terão sido as primeiras formas de o ser humano comunicar informação no espaço. A sinalética é o conjunto de sinais e sistemas visuais criados para informar e guiar pessoas e esta forma de comunicação pode ter surgido no Mesolítico ou até mesmo no Paleolítico.
Os povos nómadas provavelmente utilizavam, como principal meio de orientação, os elementos visuais da paisagem, claro que também podiam recorrer a pistas ambientais não visuais, como o vento, os cheiros, os sons, a temperatura, a humidade, exemplos como “segue junto ao rio e vira em direção à montanha quando sentires uma corrente de ar” ou “vai até ao vale e vira no carvalho grande em direção ao lago” ilustram bem essa forma intuitiva de orientação. Sabe-se que o nosso cérebro, mesmo sem recorrer à visão, consegue manter uma representação interna de um trajeto percorrido percebendo o movimento do corpo no espaço (subir, descer, virar, parar) e criando assim uma noção interna de como voltar para trás num percurso. Ainda assim, faz sentido pensar que a forma mais eficaz de melhorar a orientação seria através de sinais visuais. E modificar intencionalmente elementos da paisagem podem ter sido as primeiras maneiras de um humano comunicar no espaço com os outros. Atos tão simples como cortes em árvores, virar pedras numa determinada direção ou deixar ossos num caminho, podem ter sido as primeiras formas intencionais de demarcar caminhos ou territórios de maneira visível, podem ser os primeiros sinais de direção, de aviso e informação concebidos por seres humanos.
Um dos exemplos mais evidentes de comunicação no espaço são os cairns: montículos de pedras. Vários arqueólogos acreditam que já no Mesolítico (10.000 a.C.) estes montes podem ter tido uma função direcional, ajudando grupos nómadas a encontrar passagens ou trilhos. Estes foram utilizados por muitas culturas pré-históricas e serviam para marcar rotas em terrenos abertos. Além disso, podiam também assinalar sepulturas ou lugares sagrados.
Outra possível forma de comunicação espacial podem ser algumas gravuras rupestres. É possível que através de símbolos como círculos, linhas, pegadas ou setas estilizadas gravadas em árvores ou pedras tivessem o objetivo de comunicar no espaço. Algumas destas gravuras podiam sinalizar caminhos para fontes, caminhos de caça ou marcação de território de um clã.
Procurámos sempre comunicar através do ambiente. Quando a comunicação e orientação eram fundamentais para a sobrevivência, estes primeiros gestos eram atos de comunicação e de pertença, uma forma proteger e orientar os outros. Com o passar do tempo, estes gestos evoluíram para sistemas complexos de orientação e identidade visual que se tornaram essenciais na forma como nos movemos, entendemos e habitamos o espaço. E hoje, quando desenhamos ou seguimos uma seta, estamos a dar continuidade a uma das tradições e formas de comunicação mais ancestrais.


