sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Can you rebrand a republic?

XXIII Portuguese Government Visual Identity System, Studio Eduardo Aires, 2023


Over the past weekend, I attended a lecture by designer Eduardo AiresThe conference evolved around typography and Aires discussed a recent rebranding done by his studio for of the Republic of Portugal.

The Government's visual identity was changed by António Costa's Executive in the first half of 2023. The objective, as explained in the brand manual, was to adapt the image to the digital environment, in which much of the communication takes place. The lecture provided a detailed description of the strategic and aesthetic choices made, keeping a clear focus on aligning with the spirit of the current era, emphasizing readability, legibility, and suitability for digital platforms.


XXIII Portuguese Government Visual Identity System, Studio Eduardo Aires, 2023


One of the significant elements featured in the new branding is a costume-made typeface, made in collaboration with Dino dos Santos (which attended the lecture as well). The design of the typeface for the Government of the Portuguese Republic involved a careful balance between tradition and contemporaneity, legibility and visual distinction. The resulting font, with its wide range of glyphs and attention to linguistic detail, is capable of representing the image of the Portuguese Republic in different contexts and in over 250 languages, offering a consistent and distinctive tool for Portugal’s communication in the world.


I felt that, although the outcome might be perceived as somewhat simplistic, the process was profound and thorough, with an emphasis on forward movement and modernization, both spiritual and practical. I found a great amount of grace in the way the complexed flag was abstracted in an elegant and playful manner, and I was pleased to discover that the Portuguese Republic had initiated and collaborated on such an endeavor.

As the lecture was over I was keen to know where, and as I ran I quick google search I was surprised to discover that the fresh new branding that just presented has already been shelved, after being at the center of a widely discussed public debate. Apparently the logo had reverted to the old former version. This not only reintroduced the detailed flag, but also added a three-dimensional depth that made the logo unit even more complex than the flag itself.

2023 / 2024

And here we have a worthy subject for discussion – isn't it fascinating how "good" is a subjective state of mind? How many process aimed to make a significant progress moves in a circular way (back and forth) and not necessarily "up" or "forward"? I never imagined that anyone might oppose a progress, especially such an aesthetically reasoned one. I had to dig a bit deeper.


The 24th government came into power on April 2, 2024. An article published on April 4, 2024, describes the following:

Official Government website restores previous logo

The logo change took place immediately after the inauguration of the Prime Minister and the new Government. It was a commitment that the Prime Minister made before the campaign. "Enough of plastic politics", said Luís Montenegro at the time.

Apparently, Luís Montenegro, as leader of the Social Democratic Party (PSD), was highly critical of this new logo prior to being elected. His main criticism was that the logo did not adequately reflect Portugal's history and tradition, particularly regarding the coat of arms and other national symbols. He argued that the government was trying to "rebrand" the nation in a way that downplayed important elements of Portugal's heritage and identity.

Some specific points raised by Montenegro and his party included:

  1. "Aesthetic and historical dissonance": He believed that the new logo, by simplifying and altering traditional elements, created a disconnection from Portugal's established symbols and values.
  2. Absence of key symbols: He pointed out that the official coat of arms (the "five shields" of Portugal) was reworked and was no longer displayed in a form that closely adhered to its historical design, which was an important national symbol.
  3. Political motives: Montenegro and others in his party suspected that the new logo was part of an effort by the Socialist government to create a more "modern" image of the Republic, potentially for political reasons rather than for the sake of national unity and tradition.


While the former government, led by António Costa and the Socialist Party, defended the design as a step toward modernization, this issue became part of a broader political debate about the balance between tradition and modernization in national symbols. Montenegro and the PSD viewed the government's push for the new logo as an example of left-wing political maneuvering, while the government argued that the new design was not about undermining tradition, but rather about making Portugal's identity more approachable and relevant in the modern era.


An article published on April 3, 2024, describes the following:

"The new logo of the Portuguese Republic, launched last year, has been shelved by Luís Montenegro. The decision has been praised by brand and communication experts."


I'll finish with a mesmerizing quote by Carlos Coelho, an outspoken critic of the rebranding (retrieved from the article mentioned above):

“Going back is always better than continuing down the wrong path"


Is it, though? 


quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Como é que as Cores Influenciam Emoções através de um objeto Gráfico

O uso estratégico de cores num objeto gráfico vai muito além da simples escolha agradável das cores. Ela baseia-se essencialmente num lado mais influenciado pela psicologia que a envolve. O espiritualismo das cores é um campo que investiga como diferentes tonalidades podem influenciar as emoções, o comportamento das pessoas em relação ao objeto e o impacto que o mesmo tem perante o público a que o objeto é destinado. Essa compreensão das cores permite aos designers criar comunicações visuais que não só chamam apenas a atenção, mas também se refletem emocionalmente com as pessoas. 

Por exemplo, o vermelho é uma cor poderosa, associada a sentimentos de energia, paixão e urgência. Ele é muito utilizado em campanhas de vendas e em chamadas de atenção, pois desperta uma resposta imediata e intensa. Um exemplo clássico é a utilização do vermelho em logotipos como o da Coca-Cola, que promove sensações de entusiasmo e dinamismo. Por outro lado, o azul é frequentemente escolhido por marcas que desejam transmitir segurança e confiabilidade. Empresas como Facebook e LinkedIn optam por essa cor para criar um ambiente de confiança e conexão, ressaltando a estabilidade e serenidade ao público. O azul tem um efeito calmante, que promove sentimentos de paz e lealdade.



O amarelo é a cor do otimismo e da alegria. Utilizado em projetos que desejam evocar sensações positivas, ele é vibrante e chama atenção, mas deve ser usado com moderação para não causar desconforto. Marcas como a IKEA usam o amarelo para transmitir entusiasmo e acessibilidade. Outro exemplo interessante é o verde, que simboliza a natureza, tranquilidade e crescimento. Frequentemente associado a produtos e marcas que promovem sustentabilidade e saúde, como a Whole Foods, o verde comunica um senso de bem-estar e equilíbrio.


Com isto surge-nos sempre perguntas como figurativamente: Como é que isso tem impacto no Design?

Bem parece um pouco óbvio para os mais observadores, é só associar uma coisa a outra. A verdade é que não é preto no branco. A escolha de uma paleta de cores adequada pode fazer toda a diferença na percepção de uma marca, um produto e até mesmo num simples objeto gráfico. O uso incorreto das cores pode causar danos colaterais como equivocar o ser humano devido ás diferentes percepções causadas, ou desviar a intenção inicial para outro público alvo indevido. Alguns exemplos dessa prática foram: o Logotipo das Olimpíadas de Londres em 2012, onde a paleta de cores do logotipo foi amplamente criticada por ser muito vibrante e confusa, causando um certo desconforto visual. Algumas combinações dessas mesmas cores chegaram a ser vistas como agressivas ou desarmônicas. 

Alguns sites e aplicativos com interfaces multicoloridas onde os designs de interfaces digitais têm sido bastante criticados por misturar cores que não criam contraste suficiente ou que cansam a visão do utilizador. O que acaba por dificultar a navegação e a compreensão do conteúdo. E até mesmo algumas marcas de fast-food com cores não tradicionais que tentaram diferenciar-se usando cores como azul ou verde em vez do vermelho e amarelo que são as mais comuns (porque dizem que estimulam o apetite). Essa abordagem, em alguns casos, resultou numa mensagem confusa ou desproporcional do conceito de comida rápida e prazerosa.

O que nos trás á conclusão que uma combinação que reforce as emoções desejadas tem o potencial de aumentar o envolvimento, melhorar a memória visual e gerar uma conexão emocional mais profunda com o público. 

Ainda por cima num mundo como o nosso que é tão saturado de informações visuais. Acho que podemos dizer que a compreensão da psicologia das cores permite aos designers criar experiências mais eficazes e impactantes. 


Por fim, o design é uma ferramenta de comunicação muito poderosa, e o uso inteligente das cores é essencial para transmitir a mensagem correta.


Pergunta para o público: Qual foi a cor que mais te chamou a atenção num item de design e como é que ela influencia a tua percepção sobre o produto ou marca?

Deixo aqui afixado a baixo algumas referências de alguns especialistas na psicologia das cores.


Johann Wolfgang von Goethe: Autor da obra Teoria das Cores, publicada em 1810. Goethe explorou como diferentes cores podem provocar sensações distintas e reações emocionais nos seres humanos. Ele dividiu as cores em categorias baseadas em como as mesmas impactam o humor e a percepção.

Faber Birren: Um dos principais especialistas do século XX na psicologia das cores e autor de livros como Color Psychology and Color Therapy. Birren investigou como as cores afetam o comportamento humano e como podem ser aplicadas para influenciar ambientes e produtos.

Angela Wright: Psicóloga das cores a nível contemporâneo e criadora do Color Affects System, que relaciona cores com traços de personalidade e como essas cores podem ser usadas estrategicamente no campo do design e do marketing.

Josef Albers: Artista e teórico que estudou como as cores interagem entre si. O seu trabalho Interaction of Color examina como a percepção das cores muda de acordo com os contextos adjacentes.

Como é que a Tipografia ajuda a criar uma Narrativa Visual na capa de um Livro?

Já reparas-te como a capa de um livro atrai ou afasta o teu interesse instantaneamente? Ou, qual foi a última vez que escolhes te um livro pela capa? 

Bem como todos nós sabemos, a capa de um livro é a primeira experiência visual que o leitor tem com o objeto. Dentro das inumeráveis escolhas de design a fazer no objeto gráfico, a tipografia desempenha um papel fundamental por ser um elemento que contribui para a mensagem, o tom e o tema do conteúdo do livro mesmo antes de o abrirmos e folhearmos as páginas. Este post é direcionado a abordar um pouco sobre esse tema em especifico. Por exemplo como é que a tipografia, e a escolha das fontes para os pormenores de posicionamento e cor, se torna uma ferramenta poderosa e narrativa visual na capa de um livro. 


A decisão do tipo de letra e do estilo tipográfico é muito importante para atribuir características próprias a cada livro. Por exemplo analisando com mais atenção, uma fonte serifada e clássica pode indicar que o livro se trata de um romance histórico ou uma obra literária enquanto que, por exemplo, se for uma fonte bold e sans-serifa pode sugerir um livro de temas contemporâneos ou técnicos.


Um excelente exemplo dessa prática é o livro “As Vantagens de Ser Invisível” de Stephen Chbosky. Na edição mais conhecida, a tipografia é manual e irregular, transmitindo uma sensação de autenticidade e imperfeição, que reflete o tema de crescimento e autodescoberta do livro. O estilo manuscrito e sóbrio da fonte combina com o tom jovem da narrativa, remetendo ao diário do protagonista. Da mesma forma podemos discutir o layout da tipografia em relação às imagens, cores ou outros elementos visuais da capa. A forma como o texto interage com a imagem pode sugerir movimento, hierarquia ou um ponto focal específico. 




Como no livro da "Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll. Algumas edições mostram o título em fontes lúdicas, quase "retorcidas" ou "derretidas", integrando-se nas ilustrações surrealistas de personagens como o Coelho Branco ou o Gato de Cheshire. A tipografia brincalhona e excêntrica complementa a natureza fantástica e absurda da história.







Agora a pergunta é: como é que o design pode servir como uma ferramenta de conexão com o leitor? Bem, é simples! O espaçamento, as cores e as letras afetam diretamente a percepção emocional. Uma tipografia arredondada dá uma sensação de suavidade e conforto, ideal para livros infantis ou de auto-ajuda. Por outro lado, letras mais retas e espaçadas em tons escuros podem sugerir suspense ou mistério. Essa escolha alinha o leitor ao conteúdo e provoca emoções que o envolvem na experiência antes mesmo de abrir o livro.


Para quem gosta de observar mais de perto como a tipografia conversa com o design da capa, existem algumas dicas rápidas:

Dica 1: Observe se a capa usa fontes serifadas ou sans-serif – isso pode indicar o tom da história. Fontes serifadas são geralmente usadas para livros clássicos e sérios, enquanto sans-serif sugere temas modernos e acessíveis.

Dica 2: Note o espaçamento e o estilo da fonte; letras apertadas podem indicar tensão ou complexidade, enquanto letras mais espaçadas sugerem leveza e ritmo lento.


Além disso, devemos observar também o layout da tipografia. A forma como o texto interage com a imagem pode sugerir movimento, hierarquia ou um ponto focal específico. Por exemplo, no caso do livro "On Earth We’re Briefly Gorgeous", de Ocean Vuong, a tipografia minimalista sobreposta a uma fotografia em preto e branco cria uma sensação de intimidade e profundidade, refletindo a natureza poética e introspectiva da narrativa.

A tecnologia digital também acrescentou novas possibilidades, especialmente com o uso de fontes personalizadas e digitais. Um ótimo exemplo é a série Harry Potter, cuja fonte personalizada é imediatamente reconhecível e ajuda a criar um vínculo emocional com o universo do livro. Além de estabelecer um “branding” icônico, a fonte faz parte da identidade visual da série, capturando a essência mágica da história.

Assim para concluir, podemos resumir que a tipografia é mais do que uma escolha estética. É uma maneira de contar a história do livro logo na primeira impressão. Daqui a diante experimente olhar para as capas dos livros ao seu redor e tente identificar como a tipografia complementa ou sugere a narrativa.

 Qual é a capa do livro que mais te marcou pela tipografia? 

Conta-nos nos comentários!

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Bruce Nauman's unsettling words

Bruce Nauman is a renowned contemporary artist whose work spans a wide range of media, including sculpture, performance, video, neon, and installation. One of the most intriguing aspects of Nauman's practice is his exploration of language, particularly how words and typography function as both formal elements and conceptual tools. His works often manipulate language to probe the limits of communication, the instability of meaning, and the relationship between language and perception. Typography in Nauman’s work serves as more than just a graphic design element; it becomes a medium for unsettling viewers, challenging them to reconsider how words are experienced and interpreted in the visual realm.


The True Artist Helps the World by Revealing Nature of Human Existence, 1967


In Nauman's neon works, such as The True Artist Helps the World by Revealing Nature of Human Existence (1967), the artist uses bold, direct text to confront the viewer with philosophical and existential inquiries. These neon signs transform the space they occupy, turning the words into physical objects that demand attention. The use of typography in these works is not just for legibility, but also for its ability to create an immersive experience. The glowing, often fragmented letters are rendered in a stark, mechanical font that emphasizes their materiality while also invoking a sense of alienation. By using neon, Nauman amplifies the tension between the ephemeral nature of light and the permanence associated with written language, forcing the viewer to confront the weight of the words themselves.


Human/Need/Desire, 1983


Human/Need/Desire (1983) is a striking neon installation that explores the fundamental aspects of human existence—our needs, desires, and the intrinsic nature of being. The work consists of a series of neon signs, each flashing one of the three words—“Human,” “Need,” and “Desire”—intermittently in bright, vivid colors. The pulsating lights draw attention to the tension between these basic human conditions, creating an intense, almost overwhelming experience for the viewer. The repetition of the words, combined with the raw, cold aesthetic of the neon medium, emphasizes the urgency and cyclical nature of these concepts, while also evoking a sense of isolation and introspection. Nauman’s use of neon, a medium often associated with advertising or commercial signs, here becomes an unsettling vehicle for philosophical inquiry, forcing the viewer to confront the emotional and existential weight of the words themselves. In this work, Nauman interrogates how language, light, and space can reflect the complexities of the human psyche and the paradoxes inherent in human life.


100 Live and Die, 1984


The conceptual weight of Nauman's work with words and typography can also be seen in his repeated explorations of wordplay and paradox. In pieces like One Hundred Live and Die (1984), Nauman uses language to evoke the cyclical and sometimes contradictory nature of existence. The repetition of simple yet profound phrases such as "Live and Die" reflects the constant loop of human experience, while the use of text as a rhythmic, almost meditative element emphasizes the tension between the fleeting and the permanent. Typography, in these cases, takes on an additional layer of meaning, where the visual representation of the words, their placement, and the rhythm of their repetition become part of the philosophical inquiry. Through these works, Nauman not only challenges the viewer’s understanding of language but also invites them to experience the material and conceptual weight that words carry in the context of art.


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

O Design Atemporal do Golden Record : Tipografia do Infinito

 O Golden Record – ou Disco de Ouro da Voyager – é um disco de áudio e dados enviado ao espaço nas sondas Voyager 1 e Voyager 2, lançadas pela NASA em 1977. Idealizado por uma equipa lidereada pelo astrónomo Carl Sagan, o objetivo do Golden Record é servir como uma espécie de “mensagem engarrafada” interestelar: uma introdução da Terra e da huminada a possíveis formas de vida extraterrestre que encontrem o mesmo. Apesar de terem sido criados para uma missão científica, os discos representam uma initicativa mais filosófica e cultural.

O Golden Record é um disco de cobre banhado a ouro, com uma capa de alumínio e um diagrama explicando como reproduzi-lo. Este contém 90 minutos de áudio e cerca de 120 imagens codificadas, projetadas para apresentar aspetos fundamentais da vida e da cultura humana. 


No seu conteúdo inclui saudações em 55 idiomas, uma seleção de sons naturais e urbanos, como trovões, vulcões, ondas do mar, canto de passáros e risos, para representar o ambiente sonoro da Terra. A música escolhida representa culturas e eras diferentes, entre as obras estão peças clássicas como a “Quinta Sinfonia” de Beethoven, músicas étnicas de diversas regiões do mundo, e também canções contemporâneas para a época, como “Johnny B. Goode” de Chuck Berry. Também incluiu diagramas anantômicos do corpo humano, sequência de DNA, mapas, estruturas químicas e informações matemáticas para oferecer uma visão científica e biológica da Terra. Fotografias de pessoas de diferentes partes do mundo e em atividades diversas. Além de imagens de planetas do sistema solar, representações de localização espacial e de fenômenos astronômicos.

A capa do Golden Record inclui instruções codificadas que explicam como decifrar as imagens e áudios. Usa diagramas que indicam a velocidade de rotação do disco e infromações técnicas para a decodificação, com base em referências universais, como a estrutura do hidrogênio.  



 



A estrutura do Golden Record é um exemplo notável de comunicação universal, onde o design e a tipografia assumem um papel crucial na transmissão de informações através de barreiras culturais, linguísticas e temporais. Na sua concepção, os criadores precisaram pensar além das convenções tipográficas conhecidas e se voltar a símbolos e padrões visuais com significado científico universal, como as representações de hidrogênio, sequências binárias e diagramação atemporal. O design minimalista e direto das instruções na capa do disco reflete uma estética tipográfica onde cada linha e símbolo tem função crítica, eliminando excessos e construindo uma "tipografia do desconhecido", na qual elementos gráficos se tornam a ponte entre a Terra e uma possível inteligência alienígena. Esta abordagem destaca o poder do design e da tipografia em transcender palavras, comunicando ideias complexas por meio de uma linguagem visual cuidadosamente elaborada e intrinsecamente conectada aos fundamentos da ciência e da percepção humana.

A essência do design do Golden Record também dialoga com o conceito tipográfico de clareza universal, buscando um equilíbrio entre simplicidade e profundidade para garantir compreensão além das fronteiras humanas. Cada elemento visual é meticulosamente planeado para facilitar a leitura e interpretação por uma inteligência que, possivelmente, não compartilhe nenhuma referência cultural ou sensorial com a nossa. A disposição dos símbolos, as linhas e os esquemas no Golden Record lembram os princípios do design funcionalista: uma estética limpa, sem ornamentos, onde a forma segue a função. É um exemplo potente de como o design e a tipografia podem construir pontes com o desconhecido.


É considerado um marco da exploração espacial e um símbolo da curiosidade e esperança da humanidade. Em 2012, a Voyager 1 tornou-se o primeiro objeto humano a entrar no espaço interestelar, levando o disco ainda mais longe de nós. A ideia do Golden Record inspirou outras iniciativas de mensagens interestelares e é constantemente referenciada na cultura popular, destacando a tentativa de comunicar com o universo em um nível universal.

As sondas Voyager estão atualmente na borda do sistema solar, no espaço interestelar, e continuarão a sua jornada por milhões de anos. Dado o tamanho do universo e a trajetória desconhecida de qualquer civilização alienígena, as chances de o Golden Record ser encontrado são extremamente pequenas.

Hoje, os Golden Records são reconhecidos como artefatos únicos, representando a ciência, arte e diversidade cultural da Terra, e continuam a inspirar curiosidade sobre a humanidade e o cosmos.




O Manuscrito de Voynich: Ficção Medieval ou Conhecimento Perdido?

O LIVRO INDECIFRÁVEL

O Manuscrito de Voynich é um dos textos mais misteoriosos do mundo. Do ínicio do século XV – entre 1404 e 1438 – é um livro manuscrito ilustrado, escrito em uma linguagem ou código desconhecido e é ilustrado com o que parecem ser plantas, diagramas astrológicos, figuras femininas e outros elementos enigmáticos. O nome do manuscrito vem de Wilfrid Voynich, um antiquário polonês que o descubriu em 1912, quando o comprou a um jesuíta antes que o mesmo o vende-se ao Vaticano. Desde então, ele tem sido objeto de especulação e estudo, mas até hoje ninguém conseguiu decifrá-lo ou determinar o seu propósito exato.


Os textos desta obra estão escritos num sistema de escrita não identificado, chamado de “voynichês”. Este apresenta um padrão de escrita coerente e estrutura, mas nenhuma língua conhecida corresponde ou se parece a esta. Vários linguistas e criptógrafos já tentaram decifrá-lo, sem sucesso. 

No campo das ilustrações, é possível identificar cerca de 113 plantas ilustradas espalhadas pelos livros, enquanto que algumas plantas têm elementos reconhecíveis, a maioria parece ser fictícia. O manuscrito possui diagramas celestiais, símbolos zodiacos e representações do que parece ser o ciclo lunar. Este conteúdo sugere um conhecimento de astronomia ou astrologia. Há também figuras de mulheres nuas, algumas envolvidas em tubos ou estruturas semelhantes a sistemas biológicos ou canais de àgua. Essas ilustrações têm sido interpretadas como representações simbólicas de processos biológicos ou médicos. É possível encontrar também desenhos de frascos e recipientes, além de uma seção com o que parece ser uma lista de plantas e substâncias, levando alguns estudiosos a acreditar que o manuscrito poderia ser um guia de ervas medicinais. 


Alguns pesquisadores acreditam que o manuscrito seja um herbário medieval com plantas medicinais e receitas terapêuticas. No entanto, as plantas não correspondem diretamente a espécies conhecidas. Devido à presença das figuras femininas e diagramas semelhantes a órgãos, outra teoria é que seja um livro sobre medicina medieval, talvez um tratado ginecológico ou de saúde feminina. Muitos estudiosos acreditam que o manuscrito esteja em código, criado para proteger conhecimento específico. Em alternativa, poderia ter sido escrito num idioma perdido ou inventado. Existe também a teoria de que o manuscrito seja uma invenção intencionalmente sem sentido, uma brincadeira ou mistificação, criada para confundir os leitores. Contudo, a complexidade do texto sugere que uma construção cuidadosa, pouco provável de ser apenas um enigma sem sentido. 

O Manuscrito Voynich já foi submetido a várias tentativas de decifração, usando técnicas desde criptografia clássica até análises de inteligência artificial. Em 2013, testes de carbono-14 foram realizados para determinar a idade do pergaminho, o que confirmou a sua origem no ínicio do século XV.

Criptógrafos da Primeira Grande Guerra, como William Friedman, e modernos estudiosos de inteligência artificial tentaram decifrar o texto, mas nenhum conseguiu. No entanto, através dessas análises, conclui-se que o “voynichês” possui padrões de repetição e frequência de palavras similares aos de linguagens naturais. Isso sugere uma gramática interna, mas até agora, sem correspondência com nenhum idioma conhecido.


Alguns linguistas notaram que certas palavras parecem ocorrer em àreas específicas do manuscrito, sugerindo temas relacionados com o conteúdo visual. Por exemplo, palavras específicas aparecem em seções botânicas e outras na seção artronômica, o que indica organização intencional.


O manuscrito possui marcas e inscrições adicionais que sugerem uma longa histórica de proprietários. Entre esses, Rudolf II da Germânia, que teria comprado o manuscrito no século XVII acreditanto que o seu conteúdo fosse valioso. Também Athanasius Kircher, um estudioso jesuíta e criptógrafo que também tentou decifrar o manuscrito. Chegando então Wilfrid Voynich, ao qual o manuscrito apropriou o seu nome.

O Manuscrito de Voynich é atualmente mantido na Biblioteca Beinecke de Manuscritos e Livros Raros da Universidade Yale, onde está catalogado como MS 408. O mesmo foi digitalizado e está disponível para ser consultado online.

O mistério do manuscrito permance até hoje, sem uma decifração definitiva, continuando a alimentar teorias e estudos. 

 




A Arte Déco: o Design e a Publicidade

“Designing a poster means solving a technical and commercial problem....in a language that can be understood by the common man.”

A.M. Cassandre

A década de 1910 representou um período de grandes progressos tanto a nível económico, como tecnológico e cultural. Numa época na qual o cinema e a publicidade ganham cada vez mais relevância, os meios de comunicação social são revolucionados e transformam-se numa ferramenta comercial. O design em particular, procurou acompanhar as mudanças que se estavam a registar, experimentando uma abordagem modernizada e uma linguagem visual representativa da sociedade atual.


Influenciado pela Revolução da Indústria, o início do século XX caracterizou-se pelas inúmeras inovações e avanços. Paris começou a ser afirmada como o centro da cultura e das artes e o conceito de “Loucos Anos 20” foi sendo propagado com uma referência aos novos gostos da comunidade. Posto isto, a necessidade de promover as ideias em vigor e desenvolver uma melhoria no mercado, possibilitou a priorização das artes gráficas enquanto recurso de comunicação.

Antecedida pelos movimentos Arts and Crafts e Art Noveau, a expressão Arte Déco teve origem na Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas. O surgimento deste novo estilo, veio apresentar uma abordagem renovada, tentando assim corromper com os princípios arcaicos que eram aplicados no design. Verificou-se uma evolução de uma imagem ligada às preferências filosóficas e políticas que geralmente eram definidas, para uma estética elegante e sofisticada. Existiu então uma geometrização e estilização das formas que levou os artistas a apostar nas Artes Decorativas como ilustração da beleza, da libertação e das artes do espetáculo.



Inicialmente, este movimento era praticado com o intuito de promover peças de teatro e apresentações de cabaré. No entanto, com o crescimento cada vez maior da economia e da indústria, existiu uma necessidade de investir na publicidade de modo a fazer progredir o mercado na sociedade. Por conseguinte, sendo característico da Arte Déco a criação de uma imagem chamativa e individual, o propósito do estilo foi expandido para a produção de anúncios atrativos e cativantes. Um dos designers que maior impacto teve nesta viragem foi A.M. Cassandre, que executou algumas das obras mais icónicas do século XX. Introduziu uma nova perspetiva ao elaborar os primeiros posters adaptados à visualização em movimento e adquire uma linguagem própria relativamente à composição da tipografia.  



Para além de um instrumento de divulgação, a Arte Déco manifestou-se ainda nas capas de livros que refletiam acerca das práticas quotidianas modernas adotadas e estendeu-se pela arquitetura, moda, pintura, etc… Apesar de ter entrado em decadência entre os anos 1935 e 1939, as influências acabaram por permanecer em alguns aspetos que mais tarde voltaram a ser explorados.        






quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Poluição Visual Urbana e Design: Um Diálogo Necessário

 Alguma vez reparas-te em cartazes sobrepostos nas paredes? Ou qual foi o lugar mais poluído visualmente que já viste?

Bem a prática de sobrepor cartazes uns sobre os outros em ambientes públicos gera um fenômeno que transcende a poluição visual e se transforma num problema de Design Urbano. O design, sendo uma área que procura organizar e comunicar informações de forma eficiente e estética, a cada dia que passa enfrenta um desafio maior com o aumento descontrolado de camadas de anúncios que acabam saturando o espaço visual. Esse acúmulo compromete a legibilidade dos próprios cartazes e, a longo prazo, cria uma interferência que desfavorece tanto os anunciantes quanto o público-alvo, além de degradar a estética urbana. Felizmente, em Portugal essa prática não é muito usual., observamos cartazes nas paredes mas nunca de forma irregular ou extraordinária. No entanto em outros países infelizmente é uma situação bastante comum. Como por exemplo, em cidades de países como o Brasil, a Argentina, o México, o Japão e os Estados Unidos. É especialmente evidente em áreas com intensa atividade cultural e uma tradição de publicidade "alternativa", onde as ruas são usadas como extensão da arte urbana.

Geralmente o que nos surge é perceber como é que estamos diante de poluição visual através da saturação de tantos cartazes na parede. Basta te questionares. Alguma já notas-te o impacto dos cartazes sobrepostos em algum espaço que frequentas ou frequentas-te em algum momento? Refletir sobre essa questão como exemplo ajuda a entender a importância do design na organização e preservação dos espaços urbanos.


Do ponto de vista do design gráfico, essa prática revela uma incoerência. Enquanto o design procura comunicar claramente uma mensagem, o excesso de camadas e a sobreposição das mesmas acabam por sufocar a informação, tornando o conteúdo visualmente caótico. Essa situação poderia ser evitada com soluções de design que organizem melhor os espaços de anúncios, como murais específicos, painéis de uso controlado e situações com prazos determinados onde os responsáveis pelos cartazes controlassem o tempo de exposição dos mesmos. 



   Algumas sugestões de Soluções Visuais 

Para incentivar o debate sobre soluções para a poluição visual, participa com a tua opinião sobre qual destas ideias de design urbano consideras mais eficiente.

1. Espaços dedicados para anúncios, evitando a sobreposição.

2. Painéis temporários que permitem apenas um certo número de anúncios simultaneamente. Ou, 

3.Painéis digitais que limitam a exibição de anúncios conforme necessário.

– Vota na tua Preferida!


Para conseguir ilustrar melhor esta questão, observe as imagens abaixo retiradas de um vídeo onde acontece este tipo de situações. Esta referência foi a que me chamou a atenção para questionar este assunto. Uma vez que, para pessoas como eu, que não moram em locais onde esta prática acontece e que assim como eu não tinham consciência da existência desta situação é uma chamada de atenção para estarmos mais atentos. Como podemos observar mostra o problema mais tangível e compromete-nos à travessia de mudanças que deveriam ser postas em prática.




Além de refletir, convido-te a compartilhar as tuas próprias sugestões! E a compartilhar esta situação com pessoas, que assim como eu desconheciam este cenário. 


Como exercício prático, proponho um desafio: procurar e observar um espaço público onde existam cartazes sobrepostos nas paredes ou uma enorme quantidade dos mesmos. Imagina que és a pessoa responsável, ou o criador deles. Que tipo de sentimento ou até mesmo visualmente com que olhos observarias o ambiente e emoções isso te traria? 


Deixo aqui o vídeo completo para quem deseja se aprofundar e visualizar o vídeo completo.




segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Bruno Munari: o Design e os Pré-Livros

 A evolução da comunicação visual tem vindo a progredir desde sempre. Partindo do período primitivo até à atualidade, as formas de representação, as técnicas e as abordagens utilizadas na história do design foram sendo expandidas criando uma linguagem cada vez mais desenvolvida e inclusiva. Através da inovação e da procura de um design acessível, o artista e designer italiano Bruno Munari, foi uma das figuras mais relevantes ao longo deste progresso.


Quando falamos de expressão multidisciplinar na arte, o trabalho deste artista sobressai na sua diversidade e ousadia. As suas obras refletem sobretudo uma preocupação e um interesse pelas circunstâncias e pela realidade que o rodeava. A arte e o design deviam incidir sobre a sociedade e a forma como era recebido por todo o tipo de público, desde os mais novos até aos mais velhos. Dentro das suas muitas criações e ideias progressistas, por volta da década que sucedeu a Segunda Guerra Mundial, Munari começou a explorar diferentes variações dentro do design do livro enquanto objeto. Inicialmente designados por “Livros Ilegíveis”, esta experimentação passou pelo desenvolvimento de uma peça que se afastasse dos ideais convencionais que definiam o livro. Geralmente, na composição de uma publicação incluímos uma série de “elementos base”, sendo que cada um desses componentes desempenha a sua função consoante foi inicialmente projetado. A tipografia, a imagem e o próprio suporte da obra seguem sempre um padrão estabelecido. Bruno Munari vem questionar este processo, apresentando uma solução empírica que pretende demonstrar uma nova abordagem na comunicação visual. Os Pré-Livros ou Livros Ilegíveis, ao contrário do livro comum, enaltecem os recursos gráficos que por norma têm um papel secundário. A cor, as texturas, os formatos e a encadernação são desenvolvidos e aplicados como uma mais-valia, proporcionando ao público uma perspetiva sensorial.

A presença da arte, o modo como as crianças interpretam o que as rodeia e a maneira como estimula a sua criatividade, sempre foi do interesse deste artista. Posto isto, mais uma vez a sua preocupação em tornar então o design inclusivo, reflete-se no conceito por detrás das suas criações. Munari acredita que a aprendizagem deve ultrapassar os métodos monótonos e tornar-se numa experiência dinâmica, explicando que a maioria dos adultos não apreciam a leitura por a considerarem um processo entediante. Assim sendo, um dos principais objetivos deste projeto seria começar por propor uma modificação no contacto com o livro e tornar o conhecimento uma possibilidade para qualquer um, começando pelos mais pequenos.


Com um percurso repleto de intervenções que vieram a contribuir para a evolução das artes e do design, Bruno Munari repensou a comunicação e comprovou que as possibilidades de reinvenção da visualidade podem ser inúmeras.

A Arte de (Sobre)Compensar: O Ensaio de Emily Keegin Sobre Trump

  Emily Keegin é uma editora e fotógrafa renomada, reconhecida pelo seu trabalho influente na fotografia editorial e direção criativa. É bastante conhecida pelo seu papel como Diretora de Fotografia na The FADER, onde ajudou a moldar a estética visual distintiva da publicação. Keegin tem um olhar aguçado para a fotografia contemporânea e pouco convencional, capturando emoções e personalidades genuínas. Frequentemente, desafia os limites da narrativa visual editorial.

Assim, não surpreendeu aqueles que acompanham o seu trabalho quando publicou um ensaio nas suas Histórias do Instagram, dissecando, do ponto de vista de uma editora e fotógrafa, o impacto visual do bronzeado de Trump e o seu significado.

Ela começa por dizer que, inicialmente, acreditava que o bronzeado artificial de Trump resultava de uma combinação de câmera e iluminação. Pensou que fosse feito para a audiência televisiva e que faria mais sentido sob luz azul. No entanto, agora parece-lhe que há uma razão mais psicológica por trás disso.

Em 2017, todos já achavam que Trump tinha um tom de pele alaranjado incomum, mas ninguém previu o quanto ele iria acentuar essa cor. À medida que o seu mandato avançava, mais bronzer era aplicado: quanto mais stress, mais maquilhagem. Depois de sair do cargo, a maquilhagem só aparecia nas câmaras, mas era geralmente mais discreta em comparação.


Em junho de 2024, após Trump debater com Joe Biden, a sua maquilhagem exagerada desapareceu. Ao analisar as fotos, é fácil ver que não há marcas de maquilhagem em torno do rosto. Em julho, o rosto já estava no mesmo tom das mãos. Agora, no presente, numa foto de 30 de outubro de 2024, no Madison Square Garden, vemos Trump com um bronzeado laranja muito escuro, como nunca antes.



Desde 2020 — quando a primeira foto do rosto intensamente bronzeado dele viralizou online, por volta do fim do seu mandato — a sua "máscara laranja" foi normalizada. Keegin argumenta que talvez devesse ser um foco de análise novamente. Porque, segundo ela, a máscara mudou: desapareceu e voltou. Desta vez, mais escura e brilhante, é mais gritante. A editora acredita que esta é uma forma importante de entender Trump e a forma como ele vê a sua realidade.

Então, a máscara fica mais escura no final das suas campanhas de imprensa; o que isto significa? Keegin compara com uma tendência da internet que começou neste verão — a "eyebrow blindness". Ela afirma que as nossas escolhas de maquilhagem não são feitas "às cegas", vemos os nossos defeitos de forma muito clara, e por isso tendemos a exagerar para tentar escondê-los o melhor que podemos. Algo peculiar que ela menciona na sua análise é que o bronzeado exagerado de Trump não combina com a sua estética de "big suits" e de “old money”.

Assim, Keegin conclui, com base na sua pesquisa, que a presença de uma máscara exagerada implica um ego em desespero, tentando esconder e sobrecompensar falhas e fraquezas. A intensidade crescente do seu bronzer, especialmente notória em fotos recentes, implica uma auto-apresentação ansiosa que pode sinalizar dúvida ou vulnerabilidade na atual corrida eleitoral.


Referência: https://www.instagram.com/emily_elsie/