sábado, 1 de junho de 2024

Há tanta gente como eu, tantos que pensam como eu

Concerto Sopa de Pedra

SMUP - Sociedade Musical União Paredense

27 de Abril de 2024

Cartaz: Madalena Matoso





Como celebração dos 50 anos do 25 de Abril, o grupo de investigação musical Sopa de Pedra proporcionou uma experiência de partilha e união a todos os presentes na SMUP, no dia 27 de abril de 2024.

Ao entrarmos no recinto, fomos recebidos por um palco decorado com cravos, já antecipando uma noite de celebração da música portuguesa e da história de luta e resistência que ela carrega. Este evento na SMUP foi o culminar de uma série de três concertos que passaram por Paris, no Theatre de la Ville - Festival la Place, e por Peniche, na inauguração do Museu Nacional Resistência e Liberdade. Os três P’s. Este último concerto, em Peniche, foi realizado no mesmo dia que o concerto na SMUP.

Apesar do desgaste que uma agenda tão intensa poderia causar, a energia emanada pelo grupo e pelo público era palpável, envolvendo-nos durante toda a atuação e revigorando-nos, tanto ao público (falo por mim) como aparentemente também a quem estava em palco.

No início do concerto, sete vozes entram em palco, faltando três para completar este grupo composto por dez mulheres. As vozes eram acompanhadas apenas por percussão e apenas em algumas músicas. O ambiente e as camadas que aquelas sete vozes criavam por si só, mesmo sem o elemento da percussão, transmitiam uma combinação única de doçura, inquietação e revolta. O repertório foi uma viagem pela música de intervenção e popular, com interpretações de canções de Amélia Muge, GAC - Vozes na Luta, Zeca e José Mário Branco, entre outros.

Um dos momentos que mudou a minha atenção durante o resto do espetáculo ocorreu durante uma interação com o público. Uma das artistas partilhou que aquela era a primeira vez que tocava em Lisboa com o grupo, mostrando surpresa pelo acolhimento caloroso e energia que estava a receber. A partir daí, prestei bastante atenção a este elemento do grupo, querendo captar as suas reações ao longo da atuação. Reações que faziam crer que o que estava a acontecer ali, naquela noite, era algo de novo. Algo que não costuma acontecer. Em palco, partilharam connosco o quanto estavam a precisar de um momento assim. Fez-me refletir sobre a dificuldade de ser artista em Portugal e a falta de valorização do nosso setor cultural. Acredito que quem corre por gosto também cansa. E se o cansaço nos impedir de correr, todos perdemos com isso.

A conexão entre quem estava no palco e quem estava na plateia era tão forte que, em muitos momentos, parecia que todos na sala partilhavam a mesma experiência. Como se aquele momento tivesse deixado de ser um concerto, transcendendo a tradicional separação entre artistas e audiência. Senti que não havia um entertainer e um espectador, apenas um grupo coeso, num momento de partilha. Se pudesse levar este sentimento para tantas outras esferas da nossa vida, se ele se materializasse noutros momentos. Mas por agora, existiu ali, de braços dados e a cantar em conjunto.

Já no final, com o palco vazio após a saída do grupo, a canção "Ó Minha Amora Madura" começa a ser cantada espontaneamente, no meio do público. De repente, toda a sala estava a cantar. As artistas regressaram e juntaram-se a este coro coletivo, mesmo na beira do palco, num dos momentos mais emotivos da noite.

Este concerto das Sopa de Pedra foi uma celebração da nossa cultura, da nossa história e da importância que temos uns para os outros.


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