A publicação IRGENDWO — ALGURES — surge enquanto catálogo da exposição com o mesmo nome de José Luís Neto (1966) realizada no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, em 1998.
A capa do livro forma um paralelepípedo negro com o título na parte da frente e o nome do autor atrás, impressos também a negro. No interior, as páginas são retângulos brancos com pequenas fotografias a preto e branco, excepto a penúltima, reproduzidas à escala 1/1 na metade mais alta da folha e não totalmente alinhadas.
As imagens são ambíguas e de difícil percepção. Elas apresentam-se como uma tentativa de agarrar algo que foge ou que já não existe: como uma memória que nos escapa. Folhear o livro é a possibilidade de imaginar o espaço-tempo destas imagens e das vidas que elas arrastam.
A grande moldura branca em torno das fotografias, por um lado, forma quase como uma barreira por onde se espreita pelo buraco o que existe do outro lado, como quem olha pela fechadura de uma porta; por outro, funciona como uma superfície imaculada que se oferece totalmente à imagem delicada e preciosa que nela se pousa. Este mundo para onde se entra em qualquer das situações é o das estórias nunca contadas e dos segredos por revelar.
Em IRGENDWO, as fotografias tornam-se valiosas pela sua disposição intimista e, a banalidade da coisa fotografada transforma-se em algo único nesta apresentação cuidada.
A publicação pretende, deste modo, mostrar e esconder ao mesmo tempo. Assim, pode-se dizer que, neste caso, tapar é dar a ver através da imaginação.
Bibliografia:
https://www.joseluisneto.pt/en/02-01-00.html
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