“ARTISTS WHO DO BOOKS'' (1976) pertence à coleção de uma série de desenhos de frases do artista Edward Ruscha, que procura questionar a arte, os seus materiais e suportes.
Nesta série de trabalhos e nesta peça em específico, a palavra assume destaque e é vista como um statement, ocupando o lugar esperado de uma imagem visual. Tirando partido de um tipo de letra bold e sem serifa, em forma de display type, o artista obtém uma frase muito legível e impactante que denota uma certa presença e autoridade. A utilização de pastel de óleo no fundo e de stencil de acetato s/ papel nas palavras, demonstra o uso de técnicas tradicionais em relação ao desenho enquanto meio artístico.
Adicionalmente, o resultado obtido pelo artista a partir de um método manual poderá levar a uma semelhança de um resultado que poderia ser obtido através de outros suportes e ferramentas digitais. Como por exemplo, com técnicas utilizadas na produção de livros e de posters em design gráfico. O método mecânico, com a utilização do stencil, acaba por permitir uma reprodução que entra em confronto com a ideia da criação de uma peça única de arte. Surge assim este contraste entre o artista que cria uma peça de arte exclusiva e aquele que produz livros com inúmeras reproduções.
Em relação à frase em si, este nomear de um grupo específico de pessoas - os artistas - pelo próprio Edward Ruscha, poderá estar associado à necessidade de incluir-se e categorizar o seu trabalho. Nos anos 60, inúmeros artistas começaram a ver no livro uma possibilidade interessante para expandir e transformar o seu trabalho. Ruscha não foi exceção. Assim, este desenho poderá ser também uma referência ao seu percurso enquanto artista que produz livros. Livros estes, que na sua maioria caracterizam-se por apresentar fotografias a preto e branco e designs monocromáticos, tal como a peça. Um dos aspetos interessantes é que pela frase ser afirmativa é interpretada quase como um facto, uma verdade absoluta, embora seja uma posição do artista. Este trabalho leva à reflexão do papel do artista e do designer gráfico (ou outra designação dentro da área criativa) sobre quem faz livros ou quem poderá fazer. Apesar de ter sido criada nos anos 70 continua relevante nos dias de hoje, pois as distinções e os limites entre disciplinas artísticas são cada vez menos lineares, havendo possibilidade de um artista ser multidisciplinar.
Em suma, “ARTISTS WHO DO BOOKS'' permite uma reflexão sobre a criação e produção de livros enquanto prática artística e explora a arte concetual através do desenho.
Sem comentários:
Enviar um comentário