“Quando os homens morrem, eles entram na
história, quando as estátuas morrem, elas entram na arte. Esta botânica da
morte é aquilo a que chamamos cultura.”
Durante a visualização deste ensaio, ponderei se existiria uma relação entre a instituição-museu, uma das estruturas que os europeus criaram para a preservação da memória dos acontecimentos que consideraram mais significativos, e o filme “Statues Also Die”. Deste modo, refleti sobre o lugar e a importância dos museus nos nossos dias, tendo em conta em como os mesmos podem, servem e como podemos reinventar e resinificar.
Se pensarmos bem, e refletirmos sobre o
que nos é apresentado, tudo depois da morte é mais valorizado do que em vida.
Neste caso, a arte só é considerada arte quando algo de errado acontece. É o
erro da humanidade, é o erro que muitos de nós comete, acreditar e dar por
garantido algo que na realidade não está. Vemos isso explicito na cultura, em
toda a arte presente no mundo. É inacreditável que o ser humano criou um local,
um sítio próprio, para se poder admirar a arte quando o próprio artista morre e
não está presente. Chamaram a esse local de Museu, um estranho nome, mas
estranho é o facto de terem criado algo para se admirar depois da abominável
morte chegar.
“Statues Also Die” é um filme-ensaio
criado por Chris Marker e Alain Resnais para exibir o devastador impacto do
colonismo francês na arte africana. O mesmo foi criado para mostrar que a arte
africana perdeu a ligação com a sua cultura, em que o próprio Chris Marker
revelou que:
“Queremos
ver o sofrimento, a serenidade e o humor mesmo que não saibamos nada acerca
deles”.
Ao longo do decorrer do filme, o espectador tem a perceção que a arte africana, em todas as esculturas e histórias apresentadas, perderam o seu simbolismo para com o colunismo europeu e morreram em museus. Mas, será que ao longo de 12 anos seguidos, o tempo em que o filme foi proibido em França, a população desacreditou na afluência que a arte africana tinha perante o mundo?
O espectador é submergido em arte a cada
imagem que passa. Conseguimos absorver a história por detrás de cada escultura,
de cada detalhe e de cada palavra que o narrador nos apresenta. É importante
referir que a cultura africana era muito mais que um povo, a cultura africana
era a arte em si, escondida atrás de máscaras com significados poderosos:
“Art here begins in the spoon and ends up
in the statue. And it is the same art. The wisdom in art and the ornament of a
useful object like a head rest, and the useless beauty of a statue, belong to
two diferente orders. Here this difference falls apart when we look closer. A
chalice is not an art object, it is a cult object.” - de Chris Marker e
Lauren Ashby, 2013, The Statues Also Die, Art in Translation.
Durante os nossos dias, existem diversos
museus com diversas artes e culturas, mas também com diferentes conceitos. Ao
refletir acerca da potencialidade de um museu, sabemos que os mesmos podem
querer atingir públicos alvos. No entanto, muitos dos museus não têm o devido
reconhecimento ou respeito à cultura através do humano. Mas, se ponderarmos em
todas as hipóteses e competências, existem variadas perguntas direcionadas ao
âmbito da criação dos museus desde os tempos antigos.
O que pode um museu? Para que servem os
museus? Como os podemos reinventar? Como os podemos resinificar?
Na verdade, um museu pode mudar a
mentalidade de uma pessoa no que toca à questão de absorção de conhecimentos e
matérias não faladas diariamente. Mas, a realidade, é que os mesmos servem para
desvendar culturas e mistérios, maioritariamente acontecidos em tempos
passados.
O mundo a cada passo que dá reinventa-se
por si próprio. À volta do mesmo, existem os criadores e os pensadores, que nos
enchem os dias com inovações e experiências, que um dia mais tarde ficaram na
memória. No entanto, no que diz respeito à reinvenção dos próprios museus, o
ser humano tem a capacidade de pensar mais além, deixando-nos assim colocados
na era da tecnologia e das artes media, criando programas artísticos e
revolucionários para os nossos tempos.
Mas, será que os museus podem ser resinificados? A meu ver, podem, porque cada ser humano pode dar um
significado a cada museu, não a nível artístico, mas a nível pessoal. Cada
pessoa pode dar rótulos e designações a coisas, espaços, seres e entre outros,
deixando no seu arquivo pessoal, a que eu designo de memória, o conceito
desejado ao espaço que visitou.
Filme-Ensaio: https://www.youtube.com/watch?v=jEsKZ_15nhs
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