segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Paulo Lourenço (1965) - Livro de Artista




      A relação dos artistas com o livro é tão antiga como o próprio livro. O objeto livro pode muitas vezes ser apresentado apenas como um referente conceptual, mas podemos aproveitarmo-nos dele como suporte de um projeto artístico específico, explorando-o consoante a vontade do artista, incorporando todos os tipos de materiais que se desejar utilizar. Irei partilhar uma edição especial, acompanhada de gravuras e serigrafias, da autoria do Paulo Lourenço, um livro onde a “palavra” é a base da criação artística. Antes de mais, gostaria de fazer uma pequena introdução ao Paulo, o tão conhecido e afamado técnico de gravura da Faculdade de Belas-Artes. O Paulo foi um antigo aluno da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, mas continua ligado a esta instituição. Entrou para as Belas-Artes em 2004, para preencher uma vaga no lugar de técnico, na disciplina de gravura, de forma acompanhar os alunos e a desenvolver os seus projetos artísticos. A partir do concurso dos maiores de 23 anos conseguiu entrar no curso de Pintura. Em 2017 dava por terminada a licenciatura, junto de um mestrado também em Pintura.





     Seguindo um pouco a linha de raciocínio do Paulo Lourenço, a pintura é um universo multidisciplinar onde “vale quase tudo”, em que podemos cruzar vários médios e várias tecnologias. Foi através desta ideia que, o Paulo concebeu todo o seu projeto de mestrado, isto é, desenvolveu as suas obras no mestrado de Pintura, mas a partir de projetos feitos em serigrafia. A gravura é também trabalhada por ele através de um caracter instalativo, assumindo assim um corpo tridimensional.

                                                                                      




     Por outro lado, o Paulo desenvolveu um projeto através da serigrafia, em que a partir da multiplicação das impressões, a imagem começa-se a destacar do suporte que lhe serve de base, isto quer dizer que se consegue produzir uma serigrafia com carácter de baixo-relevo, conferindo assim aos trabalhos atributos e especificidades que os instalam no território da tridimensionalidade.

     Como resultado da técnica referida, Paulo Lourenço desenvolveu assim o seu livro de artista, que, e agora citando o artista, “faz parte de uma pesquisa que tem sido desenvolvida ao longo da última década. O entrosamento de imagens gráficas e a utilização da «palavra» como base para a criação de objetos artísticos, recorrendo a diferentes tecnologias para a sua materialização.” Denominado por Palavras Imprecisas, ele dá corpo ao seu livro de artista, tão rico no que toca ao mar de letras apresentado e que nos remete para o mundo tipográfico. Uma vez questionado ao próprio Paulo Lourenço acerca da fonte de texto utilizada, este respondeu sem certezas, mas apontou que deveria ser entre a fonte tipográfica Bodoni ou Times New Roman Bold. 





     Achei pertinente compartilhar este objeto/livro de artista, pois antes de mais pela composição das serigrafias, que nos aproxima do design gráfico, diria até mais da tipografia, e pela inovação do processo de concretização das mesmas. Há sempre espaço para inovar, mesmo quando algo parece apenas ter um caminho já traçado na maneira como deve ser realizado, neste caso a serigrafia, que apesar de se manter bidimensional (característica predominante), o Paulo consegue dar-lhe uma força maior, dando destaque à palavra, às letras que passam a ser o foco, transcendendo à simples técnica de gravura.

 

Para ver mais trabalhos do Paulo:

Instagram: @paulourencos

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