“Será que o tempo é linear? (…)
Será que uma árvore existe se ninguém estiver a vê-la? (…)
O que nos distingue dos outros seres vivos? (…)
Como é que as tecnologias, que vamos criando e dominando, dominam
e influenciam a nossa percepção e forma de ver e estar no mundo?”
– Excertos de conversas em sala
de aula.
Durante as primeiras aulas de ‘Estudos Avançados em Cultura Visual’ pensei em vários momentos num filme[1]. O filme questiona o nosso lugar na natureza, a nossa interacção com os outros, todos os seres vivos e a vida. E o tempo. E a comunicação, a escrita.
Será a escrita linear? E a percepção de tudo isto? E a consciência?
Enquanto ouço repetidamente a mesma música[2] que ontem escutei no filme que revi, ando para trás e para diante pensando nos códigos que ainda não decifrei, nas línguas que ainda não domino, nas inquietações que ainda não apaziguei. No que não fiz, no tempo perdido.
As mensagens são difusas, ou
o meu olhar desfocado, fazendo parecer que os dois sentidos da recta que percorro
são na verdade um percurso circular. Talvez o problema seja a minha
percepção e por isso as questões deambulem sempre em torno do tempo, do lugar e
da posição. O que me leva, ainda mais para trás, até ao vídeo promocional[3]
de que não interessa a quê.
Para vermos um fenómeno como
um eclipse temos de estar alinhados com a lua e o sol. O mesmo sol que ao final
das tardes de equinócio explode, invade e percorre todos os milímetros
quadrados da nave central do antigo convento, enquanto o professor avança até
ao fundo da sala de aula e recua de novo até ao quadro, como que para embalar
os discípulos na viagem que já começou, no início da vida na Terra, quando
ainda só havia ondas de água a lançarem-se sobre rochas de pedra.
Tempo. Natureza. Humanidade.
À medida que avanço e recuo, em rectas ou círculos, vou tendo visões do passado e do que parece ser o futuro. E cruzo-me com os meus eus que de aí vêm. Durante um segundo conversamos e trocamos ideias sobre toda(s) a(s) nossa(s) vida(s), enquanto me sinto a trespassar-me os corpos.
Inspiro fundo. Não que tivesse dúvidas sobre o meu percurso, mas, (expiro), agora sinto que sei que estou no caminho certo para chegar até ao tesouro que procuro e quero para mim.
“Se pudesses ver toda a tua vida do início ao fim, mudarias as
coisas?
(…)
A linguagem é a base da civilização. É a cola que mantém um povo
unido. É a primeira arma de um conflito.
(…)
Porque ao contrário da fala, um logograma é livre de tempo. A sua
linguagem escrita não tem forma nem direcção. Os linguistas chamam a isso ortografia
não linear. O que levanta a questão: ‘É assim que eles pensam?’.”
– Excertos de diálogos do filme Arrival.
[1]
Arrival (2016) é um filme sobre doze naves espaciais misteriosas que
aparecem na Terra e uma professora de linguística encarregada de interpretar a
linguagem dos aparentes visitantes alienígenas. Realizado por Denis Villeneuve,
escrito por Eric Heisserer e baseado em “Story of Your Life” de Ted Chiang.
[2]
On the Nature Of Daylight (2004), tema inserido
no álbum “The Blue Notebooks” do produtor e compositor clássico contemporâneo Max
Richter, aqui tocado pela The Symphony of the Kootenay, na Community
Forest of Cranbrook BC, integra a banda sonora do filme Arrival. https://www.youtube.com/watch?v=r4K999lNZ0E
[3] Orion House (2010). Neste curta-metragem para a LG, realizada por Chris Hewitt, duas vidas estranhas alinham-se num dia marcante. Tendo como pano de fundo o centro da cidade de Londres, Orion House conta a história da perda de duas perspectivas. O sol, círculos e ciclos desempenham o seu papel num evento que finalmente reunirá duas pessoas. https://vimeo.com/17403481
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