No cinema contemporâneo, o title design deixou de ser uma necessidade meramente funcional para se afirmar como linguagem expressiva e narrativa própria. Longe de atuar como simples introdução tipográfica, tornou‑se um espaço de autoria, definindo tom, atmosfera e identidade antes de a primeira linha de diálogo ser dita.
“Graphic designers actually have a big impact on how people perceive a film. We have this responsibility to best communicate what people are meant to experience when they’re in the theater so that those expectations are aligned, which will make the whole experience more positive for them.” - Jessica Hische
O século XXI reacendeu o interesse por esta disciplina, com cineastas e designers a descobrirem nos títulos uma linguagem visual capaz de transmitir significado com a mesma força da imagem ou do som.
Poucos realizadores ilustram essa transformação de forma tão vívida como Yorgos Lanthimos. As suas colaborações com o designer Vasilis Marmatakis produziram algumas das sequências de títulos mais distintas e conceptualmente densas do cinema recente. Em filmes como The Favourite e Poor Things os designs de Marmatakis ampliam o mundo estético do filme em vez de o apenas rotular. Tipografia, ritmo e a própria colocação dos títulos tornam‑se em atos de narrativa.
Em Poor Things, as letras dos créditos têm proporções variadas, algumas altas e finas, outras largas e achatadas, que dispostas como uma moldura decorativa. Isso contribui para a sensação maximalista do filme. Os títulos não só anunciam o filme, como também dramatizam os seus temas centrais.
De modo semelhante, em The Favourite, o espaçamento largo e layout minimalista , traduzem os temas principais deste filme de época, dominando o enquadramento.
Apesar desta profundidade criativa, o title design continua a ser uma das artes mais subvalorizadas do cinema. Raramente recebe o reconhecimento concedido ao guarda‑roupa, à fotografia ou ao som, embora seja, com frequência, o primeiro contacto emocional e estético do público com um filme.
Num mundo em que a comunicação visual é mais imediata e poderosa do que nunca, o title design opera nas sombras, moldando a perceção do filme sem exigir protagonismo.
Quantas histórias começam a falar através dos seus títulos antes de uma única palavra ser ouvida? E quantos designers permanecem invisíveis, mesmo quando o seu trabalho determina o que sentimos?