Uma das obras em destaque na exposição “Xerazade, a Coleção Interminável do CAM” é o filme “H BOX”, que integra o ciclo de 14 filmes selecionados pela curadora Leonor Nazaré. Cada filme está relacionado com os núcleos temáticos da exposição, criando diálogos entre diferentes linguagens artísticas. Este é um exemplo claro de como a cultura visual contemporânea transforma a forma como consumimos e experienciamos a arte. Cada filme oferece uma reflexão sobre a narrativa visual e a forma como as imagens podem ser manipuladas para criar novas interpretações e significados distintos: seja entretenimento, exploração estética ou aprendizagem sobre linguagens visuais diversas, o visitante usufrui de utilidade direta na interação com a obra. Esta experiência imersiva permite que o espectador perceba a multiplicidade de abordagens visuais e narrativas, valorizando a contemplação e o engajamento com o conteúdo artístico.
Ao mesmo tempo, a coleção e a experiência que a “H BOX” proporciona podem ser valorizadas culturalmente: atrai visitantes ao museu, gera atenção mediática e posiciona o CAM como referência na promoção da video-arte contemporânea, transformando o olhar do público em capital simbólico e económico.
Esta abordagem remete diretamente, a meu ver, à trajetória de Nam June Paik, pioneiro da videoarte, que revolucionou a relação entre tecnologia e arte. Uma das suas obras que destaco é a obra “Electronic Superhighway: Continental U.S., Alaska, Hawaii” (1995), que exemplifica este princípio: utilizando monitores de televisão para criar um mapa interativo dos Estados Unidos, Paik conectou imagens e clipes culturais regionais numa experiência visual imersiva, refletindo a circulação rápida de informação e a integração social e cultural proporcionada pela tecnologia.
“Eletronic Superhighaway: Continental U.S., Alaska, Hawaii” (1995) – Nam June Paik
Tal como Nam June Paik, a “H BOX“ do CAM propõe uma experiência visual inovadora e dinâmica. Paik transformava televisões, vídeos e imagens em elementos de uma narrativa artística contínua, permitindo que o público interagisse de forma não linear com o conteúdo.
Esta comparação evidencia como a “H BOX” continua a tradição da videoarte experimental, mas coloca-a num contexto contemporâneo de cultura visual, transformando filmes em experiências culturais.
Esta obra fez-me refletir em como, no passado, filmes e imagens existiam como objetos físicos ou experiências isoladas. Hoje, são reorganizados e projetados dentro de um espaço móvel, criativo e curado, que transforma a experiência visual em cultura, mediando valor estético, educativo e simbólico. O objeto original (filme, registo visual) deixa de ser apenas material ou técnico para se tornar um elemento cultural cujo significado e valor dependem da interação do público e do contexto de exibição.
Webgrafia:
https://gulbenkian.pt/cam/agenda/h-box/
https://artemidiastec.wordpress.com/2022/12/05/nam-june-paik-4-obras-fundamentais-para-o-entendimento-da-pratica-que-pregou-a-convergencia-do-universo-artistico-com-as-novas-tecnologias-midiaticas/