sábado, 25 de outubro de 2025

Vivienne Westwood: quando o design se encontra com a política

 Apesar da moda e do design serem frequentemente vistos como expressões puramente estéticas, estes são também espelhos culturais, políticos e históricos. Cada peça de design traduz um tempo, uma atitude e uma forma de pensar. Quando o design e a política se cruzam, a moda deixa de ser apenas aparência, tornando-se discurso. É nesse espaço entre estética e crítica que se revela o verdadeiro poder do design: comunicar ideias através da forma, do material e da imagem.





Um grande exemplo é Vivienne Westwood, uma das grandes responsáveis por transformar o vestuário em linguagem política. Nos anos 70, associada ao movimento punk, usou a roupa como ferramenta de provocação: t-shirts com frases políticas, imagens de anarquia ou referências à monarquia britânica, as quais criticavam o poder e a hipocrisia social; para além de alfinetes, correntes e tecidos rasgados que simbolizavam resistência e desobediência. Através do design, o corpo tornava-se palco de protesto.




Inspirando-se em séculos de história da moda, Westwood reinterpretou corpetes, armações de saias e trajes formais vitorianos, transformando símbolos de opressão em peças de empoderamento e ironia. Ao reformular estas silhuetas e materiais, a designer comentava o papel da mulher, o peso da tradição e as estruturas de poder, provando que o vestuário pode ser uma forma de pensamento político.




Esta visão está no centro da exposição Vivienne Westwood: O Salto da Tigresa, atualmente em exibição no MUDE – Museu do Design e da Moda, em Lisboa. Com cerca de cinquenta peças entre roupa, acessórios e imagens de arquivo, a mostra evidencia o diálogo entre tradição e rebeldia que define o seu trabalho.

A exposição sublinha o caráter político do trabalho da designer, os tecidos, cortes e proporções das peças não são apenas escolhas estéticas, mas também comentários sobre poder, género e sociedade. Ao revisitar o passado, a designer cria peças que questionam o presente e estimulam a reflexão crítica — mostrando que a moda, de facto, pode ser uma ferramenta de transformação social.

Mais do que uma retrospetiva, O Salto da Tigresa é um retrato da moda como ato de resistência, uma demonstração de que o design pode vestir a história, questionar o poder e, ao mesmo tempo, imaginar o futuro.