Em Outubro, assinalam-se as mais importantes datas para a história da Coreia:
O Chuseok (추석) - Festival de colheita de Outono (15º dia do 8º mês do calendário lunar), o Gaecheonjeol (개천절) - Dia Nacional da Fundação da Coreia (3 de Outubro) e o Dia do Hangul (한글), o alfabeto criado no século XV pelo Rei Sejong (세종), O Grande de cognome, por ter democratizado a escrita para o povo coreano.
No âmbito destas celebrações, o Museu do Oriente organiza um programa cultural que conta com o apoio da Embaixada da República da Coreia, bem como várias entidades dedicadas à divulgação da cultura coreana em Portugal.
Celebrar a Coreia: um programa de 7 dias, no qual é possível descobrir múltiplas expressões da cultura deste país, através de oficinas, cursos, conferências e demonstrações abertas ao público. Nesta altura também é possível visitar a exposição temporária, onde são expostas peças de acervo que habitualmente não estão acessíveis ao público.
O nosso interesse pela cultura e a curiosidade por experimentar e trazer novos materiais para a nossa prática artística fez-nos entrar numa das oficinas disponíveis: Marcadores em papel Hanji. Nesta oficina foi possível conhecer e explorar as várias utilidades deste material tão singular.
Criação do Papel
Antes da criação do papel, a Humanidade gravava a sua escrita em qualquer tipo de material. No entanto, com o passar do tempo e a acumulação de registos, foi necessária a criação de um meio mais conveniente para arquivo e transporte. A partir desta intenção, surge a invenção do papel, originalmente criado na China com a utilização de fibras vegetais como matéria prima, de modo a registar as ordens dadas pelo rei. Este método difundiu-se tanto para a Europa ocidental como para o sudoeste asiático, desenvolvendo-se e evoluindo a sua técnica de fabrico e impressão de formas distintas.
Na sua tradução literal Hanji (한- Coreia / 지- papel) significa “papel coreano", no entanto esta tradução também se pode conotar ao facto do papel Hanji de maior qualidade ser produzido no inverno (neste caso, Han significaria frio em Hanja). O Hanji também era comumente conhecido como Back-ji, (significa branco em Hanja), remetendo para o aspeto limpo e branco do papel, uma analogia ao povo coreano, que durante muitos anos tinha como tradição o uso de vestes brancas (símbolo de pureza e de identidade durante a invasão japonesa do início do século XX). A palavra Back (백) também era usada quando se referiam ao Hanji por significar 100 em coreano, já que implicava que o processo de produção do papel exigisse 100 vezes de esforço.
O papel Hanji é tradicionalmente feito com a casca da amoreira colhida durante os meses de inverno (Novembro - Fevereiro) e misturado com a água de hibisco. Para garantir a melhor qualidade do papel, a amoreira deve ser cortada especialmente no inverno, devido à estabilização da sua composição, permitindo um melhor corte. Além disso, como a temperatura é baixa, não diminui a viscosidade do hibisco (muito necessária para a composição da matéria e a aderência das camadas). Portanto, o Hanji feito nesta estação pode ser sustentado durante mais tempo devido ao entrelaçar das fibras, que resulta num papel robusto e de alta densidade.
Fundação Oriente - Oficina: Marcadores em Hanji
Na primeira parte desta oficina a coordenadora Jin Sun Lee, apaixonada pelo Hanji, falou-nos da extraordinária durabilidade e versatilidade deste material. Detentora de um certificado em artesanato Hanji e, agora ligada à Fundação Oriente, partilhou conosco um pouco desta herança da cultura coreana e da forma como é produzida. Numa breve apresentação podemos ver um pequeno documentário sobre a produção tradicional do Hanji enquanto nos eram apresentados os materiais para esta oficina.
Marcador em cartão para suporte, papel Hanji, cola natural à base de farinha, pincéis e cordel: estes são os materiais que nos permitiram criar diversas variantes de marcadores.
Na segunda parte, passamos para a parte plástica desta oficina, onde pudemos interagir diretamente com os materiais. Neste processo, a cola, feita à base de farinha de trigo e água, é colocada sob a face mais áspera do papel Hanji. Quando este amolece é possível rasgar com bastante facilidade, perfeito para criar padrões diferenciados. Um dos objetivos desta prática é não desperdiçar nenhuma parte do papel, os restos são sobrepostos ao papel já colado, criando uma espécie de patchwork, o material adere e entrelaça-se de modo a criar padrões impressionantes. Os padrões são ilimitados e a variedade de resultados obtidos é muito interessante.
Esta é uma prática simples mas que requer concentração, calma e respeito pelo material.
Neste caso fizemos marcadores, no entanto foram nos mostrados diversos objetos feitos com os mesmos materiais, tais como leques, taças, suportes para copos, entre outros.
O papel Hanji, tal como a cultura coreana, é o resultado de um processo lento e cuidadoso, que exige dedicação e respeito pelas tradições. A cultura coreana também é construída aos poucos através da preservação dos seus valores, costumes e artes.
Além disso, o hanji é durável e resistente, qualidades que refletem o espírito resiliente do povo coreano, capaz de manter viva a sua identidade mesmo perante as mudanças e desafios da história. Tanto o papel como a cultura demonstram uma harmonia entre delicadeza e força, mostrando que a verdadeira beleza nasce da paciência e da resistência.