sexta-feira, 3 de junho de 2022

Os limites do corpo e dos objetos - WORK - Claudio Stellato

22º Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas 

FIMFA LX22, uma produção da TARUMBA

São Luíz Teatro Municipal

13 e 14 de Maio 2022

 

A FIMFA realizava-se anualmente nesta altura do ano, mas devido à pandemia, este ano foi a primeira vez em dois anos. No dia da abertura o teatro estava repleto de espectadores que aguardavam ansiosamente o festival.

 

O espectáculo da abertura deste ano foi WORK, um performance-objeto com quatro pessoas. Uma peça onde a bricolagem se transforma em arte, entre dança, novo circo, escultura, teatro físico e teatro visual.

 


O diretor, Claudio Stellato é um artista italiano, que vive e trabalha em Bruxelas. Fez a sua formação musical na Scuola Civica Jazz di Milano, enquanto trabalhava em teatro na rua. Depois formou-se em circo e teatro em vários países, antes de entrar no Le Lido – Centre des Arts du Cirque de Toulouse, em 2001.

 

A sua primeira peça L‘AUTRE, foi o resultado de três anos de investigação sobre relação entre o corpo e os objetos. Em janeiro de 2014, tornou-se artista associado no Halles de Schaerbeek. Em 2015, estreou a sua segunda criação, La Cosa, o espetáculo recebeu o Prémio da Crítica de “Melhor Espectáculo de Circo” 2015-2016.

O trabalho mais recente dele, WORK recebeu o Prix du Jury Professionnel no Festival Momix 2020.

 




O espectáculo foi absolutamente fascinante. Em primeiro lugar, no luxuoso palco desta sala Luís Miguel Cintra do teatro, foi revelado o duro trabalho, às vezes  sentimos aquela fúria dos trabalhadores, da construção civil. Várias vezes duvidei do que estava a ver. “Num palco em obras” de madeira contraplacada, quatro homens (pensava que todos eram homens, mas depois percebi que havia uma mulher, tão forte.) espetam pregos, serram, lixam, manipulam uma betoneira e argila. Pregos, madeira, tinta, algumas ferramentas e gestos do quotidiano que parecem sem importância, são revisitados e transformados. As personagens –artesãos parecem seguir as instruções de montagem de um universo paralelo, trabalhando num espaço em construção onde cada um tem o seu papel.

 


Aqui, a marioneta contemporânea não está limitada, e expandiu a sua interação com outros campos da arte através da antropomorfização de materiais e aprofundamento dos significados de relação entre performer e objeto.

 


Não é apenas na singularidade do uso da DIY (bricolagem) com diversas formas de arte que o trabalho do Claudio é brilhante mas sim no trabalho físico: o corpo do artista e do interpretes ultrapassam os seus limites em relação aos objetos com os quais estão a trabalhar. Estes pontos de limite são dispostos num eixo temporal, e tudo é expresso de uma forma graciosa, tal como se estivessem a dançar. A peça é uma afirmação forte sobre os limites do corpo e dos objetos, Não é algo concebido na cabeça, mas derivado do corpo, da experiência, da prática de Claudio que o público pode realmente ver à sua frente, e ser convencido da plasticidade, talvez, máxima do corpo humano.

Esta peça não pode ser meramente apreciada como entretenimento, pois contém a verdade da experiência humana.

 

 

 



As imagens e pesquisas do site do próprio artista e o artigo do Circuscentrum:

https://www.work-claudiostellato.com/


https://www.circuscentrum.be/en/artikels/i-just-wait-till-something-happens-claudio-stellato-from-lautre-to-la-cosa/


Site de FIMFA LX22

https://tarumba.pt/2022/en/fimfa/

 




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