sábado, 4 de junho de 2022

Olhares

    
    Viajei em direção a Amarante para conhecer o Museu Municipal Amadeu de Sousa Cardoso. Na chegada ao destino, sob um clima húmido de uma primavera tímida, o Tâmega espelhava um quadro de paisagem, que parecia ter sido retirado de uma pintura inglesa do séc. XVIII e onde as janelas dos edifícios se debruçam sobre as águas calmas do rio.


      Quem vem da rua paralela ao rio, por entre os edifícios históricos entre cafés e lojas de iguarias conventuais e após atravessar a conhecida velha ponte São Gonçalo, à direita, deparamos com o museu. Caminhei na sua direção com o desejo de conhecer o acervo que lá se encontra e descobrir mais sobre o trabalho deste artista que cede o seu nome ao museu. Instalado num antigo convento, desde os anos 60 podemos conhecer e explorar a obra de artistas amarantinos e não só. 



    Numa das salas estão expostos trabalhos dos vencedores do prémio Amadeo de Souza-Cardoso, como Julio Pomar, João Vieira, Nikias Skapinakis, Ana Vidigal ou Paula Rego; duas salas são dedicadas ao trabalho de Amadeo de Souza Cardoso, seguido de uma área exposta com a obra de Acácio Lino e Antonio Carneiro. Os corredores amplos são dedicados aos pintores modernistas e por fim a revelação da minha visita e motivo maior desta recensão, encontra-se numa pequena sala dedicada ao fotógrafo Eduardo Teixeira Pinto. 



   Eduardo Teixeira Pinto foi um fotografo que Amarante continua a perpetuar o impressionante espólio de fotografia analógica a preto e branco. Não só podemos ver um pouco do seu trabalho neste museu mas também procurar por outras exposições que se vão realizando em alguns centros culturais e bibliotecas principalmente do Norte. 
Nascido em 1933 na freguesia de São Gonçalo em Amarante, Eduardo Teixeira Pinto segue as pegadas do seu pai também ele fotografo. Em 1953 tornou-se expositor percorrendo vários salões de fotografia em Portugal e por todo o mundo - Espanha, Alemanha, Áustria, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Jugoslávia, Angola, Brasil, Bélgica, Moçambique, Cabo Verde, Macau, França, Itália e Austrália - sendo-lhe atribuído alguns prémios nacionais e internacionais pelas fotografias «Rodopio», «Igreja de S. Gonçalo», «De Regresso», «Tema de Pintores», «Matinal», «Quietude», entre outras. Em Portugal recebeu o Grande Prémio de Camões (1960) — uma das mais altas distinções a nível nacional.




      Ao observarmos o seu trabalho fotográfico, é de notar uma grande sensibilidade estética no modo como o seu olhar capta a quietude do momento. Em cada uma das suas imagens sente-se uma grandeza poética interior. Entre a natureza e a figura humana, Eduardo teve um percurso de instantes sobre o rio Tâmega, os seus barcos, os patos, os moinhos e açudes; a sua terra, Amarante, os seus monumentos, paisagens, encantos e recantos; as suas gentes, as crianças, os velhos e as figuras típicas, a vida dura de um quotidiano rural, as festas e outros olhares, dos anos 60 do século XX ao início do século XXI. Com inclinações para temas das madrugadas ou noites serradas, a névoa é o elemento mais captado nas suas visões.



"O Rio em Chamas"


"Os Últimos"


"Desfazer do Sonho"


"Tema de Pintores"


        Em 2009 viria a falecer, deixando além de um espólio de imagens de valor incalculável, Eduardo possuía também uma vasta colecção de máquinas fotográficas.


     É de louvar como este pequeno município Amarante possui tantas figuras ilustres nacionais da pintura e da escrita como: Amadeu de Souza Cardoso, Antonio Carneiro, Agustina Bessa-Luís ou o Teixeira de Páscoas e dedicar-se intensamente na dinamização de eventos e núcleos culturais para divulgação e fruição do trabalho de artistas conterrâneos. Um desses exemplos é a Casa de Granja, sendo mais um espaço cultural que além de acolher exposições permanentes e temporárias, existe também uma sala museológica dedicada ao fotógrafo. É neste espaço que se encontra sediada a Associação para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto. 
        Em 1855 a Casa de Granja foi adquirida pelo avô materno do pintor Amadeo de Souza-Cardoso, Francisco José Cardoso e sofreu transformações em 1915 pelo seu pai, José Emídio de Souza-Cardoso. Hoje, a Casa da Granja é um Espaço de grande dinâmica cultural vivo e impulsionador das artes.
       Enquanto ainda não existe um museu e para quem quer descobrir mais sobre o espólio fotográfico de Eduardo Teixeira Pinto, este é um dos locais que também merece ser visitado.
     
    Vivemos tempos em que a produção da imagem adquiriu um significado banal. É importante divulgar e valorizar a arte de fotografar realçando os artistas do passado que marcaram e contribuíram para que a fotografia fosse um ato singular e genuíno. 
Amarante deve um museu, para que as imagens de Eduardo Teixeira Pinto se perpetuem no olhar dos fotógrafos das gerações mais novas.

        E se "o olhar é um ato de escolha" citando Berger, eu escolho a poesia das imagens deste fotografo amarantino.




Fotografias:

https://www.eduardoteixeirapinto.com

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