Viajei em direção a Amarante para conhecer o Museu Municipal Amadeu de Sousa Cardoso. Na chegada ao destino, sob um clima húmido de uma primavera tímida, o Tâmega espelhava um quadro de paisagem, que parecia ter sido retirado de uma pintura inglesa do séc. XVIII e onde as janelas dos edifícios se debruçam sobre as águas calmas do rio.
Quem vem da rua paralela ao rio, por entre os edifícios históricos entre cafés e lojas de iguarias conventuais e após atravessar a conhecida velha ponte São Gonçalo, à direita, deparamos com o museu. Caminhei na sua direção com o desejo de conhecer o acervo que lá se encontra e descobrir mais sobre o trabalho deste artista que cede o seu nome ao museu. Instalado num antigo convento, desde os anos 60 podemos conhecer e explorar a obra de artistas amarantinos e não só.
Numa das salas estão expostos trabalhos dos vencedores do prémio Amadeo de Souza-Cardoso, como Julio Pomar, João Vieira, Nikias Skapinakis, Ana Vidigal ou Paula Rego; duas salas são dedicadas ao trabalho de Amadeo de Souza Cardoso, seguido de uma área exposta com a obra de Acácio Lino e Antonio Carneiro. Os corredores amplos são dedicados aos pintores modernistas e por fim a revelação da minha visita e motivo maior desta recensão, encontra-se numa pequena sala dedicada ao fotógrafo Eduardo Teixeira Pinto.
Ao observarmos o seu trabalho fotográfico, é de notar uma grande sensibilidade estética no modo como o seu olhar capta a quietude do momento. Em cada uma das suas imagens sente-se uma grandeza poética interior. Entre a natureza e a figura humana, Eduardo teve um percurso de instantes sobre o rio Tâmega, os seus barcos, os patos, os moinhos e açudes; a sua terra, Amarante, os seus monumentos, paisagens, encantos e recantos; as suas gentes, as crianças, os velhos e as figuras típicas, a vida dura de um quotidiano rural, as festas e outros olhares, dos anos 60 do século XX ao início do século XXI. Com inclinações para temas das madrugadas ou noites serradas, a névoa é o elemento mais captado nas suas visões.
Vivemos tempos em que a produção da imagem adquiriu um significado banal. É importante divulgar e valorizar a arte de fotografar realçando os artistas do passado que marcaram e contribuíram para que a fotografia fosse um ato singular e genuíno. Amarante deve um museu, para que as imagens de Eduardo Teixeira Pinto se perpetuem no olhar dos fotógrafos das gerações mais novas.
E se "o olhar é um ato de escolha" citando Berger, eu escolho a poesia das imagens deste fotografo amarantino.
Fotografias:
https://www.eduardoteixeirapinto.com
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