No último domingo terminou a exposição Brilha Rio em Marvila, uma coleção de letreiros comerciais que nos fazem viajar no tempo- não fosse o néon abundante prova suficiente de outros tempos.
O casal de designers, Rita Múrias e Paulo Barata, fundaram a meio da segunda década dos anos 2000 a Letreiro Galeria. Inicialmente, o projeto apenas guardava os letreiros numa coletânea de memórias fotográficas, mas fosse por falência do negócio em questão ou por desuso e falta de manutenção, o casal notou que os letreiros que fotografavam estavam a desaparecer de um dia para o outro e sentiram que tinham de intervir o quanto antes.
A missão do projeto consiste em salvaguardar e conservar estas peças únicas que conectam um lugar com a memória, sendo que tudo começou com um letreiro de ferro de uma sapataria dos anos 40, e hoje a coleção ultrapassa os duzentos e cinquenta exemplares, desde néones a portas corta-vento.
O espetáculo de luz e nostalgia, Brilha Rio, realizou-se aos fins de semana entre 4 de Dezembro 2021 a 29 de Maio de 2022, no estacionamento subterrâneo Prata Riverside Village em Marvila. A exposição inclui aproximadamente 70 elementos dos anos 40 e dos anos 50. Caixas de luz, neons, portas corta-vento, tabuletas de vidro/plástico e letras em metal, estando organizados por áreas comerciais: cabeleireiros, sapatarias, vestuário, restauração, automóveis, oculistas e hotelaria. Os letreiros são acompanhados de textos explicativos que contextualizam as peças e a época. Esta exposição não nos faz apenas viajar no tempo, também conta a evolução visual da baixa lisboeta.
Ao entrar, deparamo-nos imediatamente com tubos luminosos -néones-, talvez estranhos a olhares menos habituados, dos dois lados da parede, num longo e esguio corredor de betão.
O título da exposição, “Brilha Rio” surge-nos como o primeiro exemplar de néones como escrita. No entanto, os exemplares que se seguem, pelo seu contexto histórico e look inimitável -não fossem estes originais de época- são em si só uma outra experiência visual, que toca a memória de cada um de nós, com mais ou menos momentos de familiaridade para com os exemplares, mas sempre com um toque de nostalgia transversal a todos os que por ali passam.
Alguns exemplares famosos, como é o caso da fachada do hotel Ritz, são verdadeiras obras de arte, onde graças às descrições complementares ganhamos noção da sua criação, como é este caso em particular do hotel Ritz, criado no estúdio do artista plástico Pardal Monteiro, em 1959.
Não fosse esta apenas uma exposição de curiosidade visual, algo mais poderia saltar á vista de todos: o ruido inconfundível, único e constante do néon. Material primordial desta exposição, composto por gases rarefeitos que correm nestes tubos cilíndricos que após iluminados, revelam as suas cores.
Um espólio invejável, recolhido entre cidades como Lisboa, Porto, Almada ou Silves esta é uma exposição muito pertinente onde os traços de design gráfico e a tecnologia se cruzam, cruzando épocas e décadas pelo caminho até á “Brilha Rio”, em residência no Prata Riverside Village.
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