Eurico Gonçalves nasceu em 1932, em Abragão, Penafiel. Exercendo a sua atividade sobretudo na área da pintura, é também professor, poeta, ensaísta e crítico de arte. Aos noventa anos, no período de confinamento (2020-2021), na pandemia por Covid-19, realizou os trabalhos patentes na exposição Evocação de Percurso: Automatismo Psíquico e Exploração do Acaso, na Galeria Malangatana do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida.
Eurico Gonçalves na "pintura
gestual" por si desenvolvida é rápido, imediato e conciso, executando os
seus quadros em segundos. Os signos são codificados e inventados no momento. O
pintor gestual recupera o instinto da pintura infantil, voltando às origens,
mas com uma nova intencionalidade estética e consciencialização. Os signos, inteiramente inventados através da execução, não são letras nem
números, mas signos não codificados de uma pré-escrita espontânea, que revela
arquétipos do inconsciente coletivo. Desde há muitas décadas que desenvolve estes pressupostos plásticos e pictóricos automáticos.
Os signos de Eurico Gonçalves associam-se à colagem e pintura e outras técnicas «o que pretendo é experimentar a vocação expressiva da minha pintura-colagem e o sentido mágico que deriva de um “ritual”, que consiste em jogar com os valores cromáticos de formas imprevisíveis, obtidas através do ato de recortar, rasgar e colar».
Segundo Eurico Gonçalves, “voltar às origens”, significa questionar conceitos de progresso e de civilização, redescobrindo-se «curiosas analogias entre a arte dita primitiva e a arte contemporânea, entre a pintura infantil e a pintura moderna, entre a infância do homem e o instinto criador».
O gesto está na origem da linguagem. A linguagem gestual é universal, uma tendência inata do homem para se exprimir. A pintura gestual não ilude. É o que é, na sua expressividade imediata, revelando signos ou arquétipos do inconsciente coletivo, que fazemos instintivamente, desde a infância.
O automatismo é feito com a intenção de revelar o ser através do fazer, de uma forma espontânea e direta, sem retoque nem correção. Essa inocência primordial, que vem desde a infância, não se pode perder.
"Eu pinto porque estou preocupado com o lado desconhecido da vida, o lado oculto da vida. Com a exploração do acaso, o lado imprevisto da vida".
A sua obra está ainda longe de ser compreendida com a amplitude que merece e embora seja sobretudo reconhecido como pintor, também há quem veja nele o professor e o crítico. No seu percurso artístico, conta com uma fase inicial surrealista evoluindo para um abstracionismo não-geométrico e gestual, que valoriza a mancha e o traço livre e impulsivo. Esta pintura tem o intuito, como o próprio artista disse “reduzir-se a pouca coisa ou quase nada, em função do vazio libertador”.
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