Uma exposição permanente ao ar livre, inserida numa
paisagem verdejante de sete hectares, banhada pelo rio Tejo onde podemos
desfrutar de um passeio agradável e descontraído. Este é o Parque de Escultura Contemporânea
Almourol situado em Vila Nova da Barquinha, inaugurado em 2012, e premiado com
o Prémio Nacional de Arquitetura Paisagística 2007, na categoria de “Espaços
Exteriores de Uso Público”, da autoria dos arquitetos Hipólito Bettencourt e
Joana Sena Rego. Este espaço
transformou por completo a paisagem e constitui-se como um exemplo de projetos
apropriados e usufruídos pela comunidade barquinhense e região envolvente.
O parque reúne 11 grandes esculturas, de artistas
portugueses de gerações distintas onde podemos ver integrados os nomes de, Alberto
Carneiro, Ângela Ferreira, Carlos Nogueira, Cristina Ataíde, Fernanda
Fragateiro, Joana Vasconcelos, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes,
Xana e Zulmiro de Carvalho. Sendo este grupo de artistas tão diverso, podemos observar nitidamente
as várias diferenças em cada escultura exposta ao longo do parque. As cores, as
texturas, os materiais e também o apelo ao espectador de se aproximar e
interagir com as mesmas.
Caminhando pelo parque deparo-me primeiramente com a
obra de Cristina Ataíde, “Rotter”, assim é intitulada aquela enorme esfera oval,
onde os seus contornos se definem a tubo metálico pintado de vermelho vivo.
Inspirada nas murejonas utilizadas na pesca, esta cria a ligação com a
população ribeirinha do Tejo, promovendo um diálogo entre culturas. Mas, para
além de obra de arte esta é uma das mais famosas atrações para o público
infantil, pois estes conseguem trepar por ela, tornando-a por sua vez num
desafio de escalada até à prisão interior.
Mais adiante a obra de Xana, “Casa no Céu”, a grande
casa branca, com porta e janelas em azul-escuro e a parte cimeira vermelha
simulando as telhas do telhado. Com 657cm x 900cm x 640cm construída apenas com
caixas plásticas industriais, remete-me para a critica social. Será que esta
casa de plástico no meio de um jardim público não poderia ser verdadeiramente
habitável? Ser esta uma solução barata de casa pré-fabricada, visto o valor
habitacional em Portugal estar cada vez mais inacessível? Questões que surgem. De
momento a porta da casa encontra-se fechada não permitindo experienciar o
sentimento de estar dentro dela.
As obras de Zulmiro de Carvalho e José Pedro Croft surgem de seguida. “Linha da Terra e do Rio” é o nome da escultura de Zulmiro, dois cilindros metálicos de dimensões diferentes, sobrepostos um ao outro, dentro do registo que o artista já nos habituou. A obra de Croft presenciamos quatro enormes espelhos de ferro e aço polido, que refletem a vida quer do Homem, como da natureza e os seus ritmos e ciclos. Cada espelho reflete de forma diferente a imagem devido aos diferentes polimentos executados no aço.
“Rega”, a obra divertida de Ângela Ferreira
que encanta miúdos e graúdos. Esta peça cita de modo direto um dos objetos
relacionado com a prática da agricultura modernizada e automatizada. Um pivô de
rega em tubo metálico, pintado com tons alegres como amarelo, vermelho e verde,
onde a artista incluiu 4 baloiços, que ao serem utilizados como diversão, fazem
com que o pivô rode percorrendo uma circunferência em seu torno. Esta é com certeza
a obra mais experienciada no parque, pelos seus visitantes.
Pedro Cabrita Reis e Rui Chafes oferecem-nos
peças “fechadas”. Primeiramente “Castelo” de Cabrita Reis, um modelo de edifício
que sugere para a torre ou castelo em granito amarelo com pequenas janelas
quadradas a toda a sua volta por onde deixa atravessar a luz solar registando
as diferenças de cada momento do dia. Relembrando também o castelo de Almourol
que tão perto se encontra deste espaço magnifico. Já Rui Chafes, exibe o “Contramundo”,
uma espécie de bicho-de-conta que se enrola ficando protegido pela carapaça. Esta
obra pelo seu imponente tamanho em ferro metalizado com uma pintura preto mate
sugere uma incerteza para o que quis o artista representar, será esta uma memória
da vida perdida ou um animal ameaçador? Dobrado sobre si, junto do canavial,
escondido entre as árvores como um animal assustado ou aguardando pacientemente
colocando o outro em perigo?
Por fim, Fernanda Fragateiro com “Concrete
Poem” e Joana Vasconcelos com “Trianons”. Um conjunto de vigas em betão branco
e peças em aço inox, que nos convidam a sentar ou a exercitar, como se de uma
peça de imobiliário se tratasse. Nesta obra Fernanda Fragateiro conjuga a
poética e o concreto ao referir um movimento literário, (concret poem), e o próprio
material da peça (concret = cimento). Joana Vasconcelos leva-nos numa viagem
histórica entre a Revolução Francesa e a atualidade democrática. Duas estruturas
metálicas opostas com fitas plásticas, onde uma nos remete para uma redoma delicada
e preciosa ( com um formato arredondado e fitas plásticas brancas ) e a outra
para a simplificação e massificação de produção ( com o formato de um cubo e fitas plásticas de
várias cores). Este jogo de verdade e erro que se expande pelo excesso de corres
e escala escultórica, alargam os efeitos magníficos das suas obras.
Este é sem dúvida um espaço para revisitar e nos
deixarmos guiar pelo espírito artístico e criativo envolvente.
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