quinta-feira, 19 de maio de 2022

Parque de Escultura Contemporânea Almourol


Uma exposição permanente ao ar livre, inserida numa paisagem verdejante de sete hectares, banhada pelo rio Tejo onde podemos desfrutar de um passeio agradável e descontraído. Este é o Parque de Escultura Contemporânea Almourol situado em Vila Nova da Barquinha, inaugurado em 2012, e premiado com o Prémio Nacional de Arquitetura Paisagística 2007, na categoria de “Espaços Exteriores de Uso Público”, da autoria dos arquitetos Hipólito Bettencourt e Joana Sena Rego. Este espaço transformou por completo a paisagem e constitui-se como um exemplo de projetos apropriados e usufruídos pela comunidade barquinhense e região envolvente.

O parque reúne 11 grandes esculturas, de artistas portugueses de gerações distintas onde podemos ver integrados os nomes de, Alberto Carneiro, Ângela Ferreira, Carlos Nogueira, Cristina Ataíde, Fernanda Fragateiro, Joana Vasconcelos, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes, Xana e Zulmiro de Carvalho. Sendo este grupo de artistas tão diverso, podemos observar nitidamente as várias diferenças em cada escultura exposta ao longo do parque. As cores, as texturas, os materiais e também o apelo ao espectador de se aproximar e interagir com as mesmas.

Caminhando pelo parque deparo-me primeiramente com a obra de Cristina Ataíde, “Rotter”, assim é intitulada aquela enorme esfera oval, onde os seus contornos se definem a tubo metálico pintado de vermelho vivo. Inspirada nas murejonas utilizadas na pesca, esta cria a ligação com a população ribeirinha do Tejo, promovendo um diálogo entre culturas. Mas, para além de obra de arte esta é uma das mais famosas atrações para o público infantil, pois estes conseguem trepar por ela, tornando-a por sua vez num desafio de escalada até à prisão interior.



Mais adiante a obra de Xana, “Casa no Céu”, a grande casa branca, com porta e janelas em azul-escuro e a parte cimeira vermelha simulando as telhas do telhado. Com 657cm x 900cm x 640cm construída apenas com caixas plásticas industriais, remete-me para a critica social. Será que esta casa de plástico no meio de um jardim público não poderia ser verdadeiramente habitável? Ser esta uma solução barata de casa pré-fabricada, visto o valor habitacional em Portugal estar cada vez mais inacessível? Questões que surgem. De momento a porta da casa encontra-se fechada não permitindo experienciar o sentimento de estar dentro dela.

As obras de Zulmiro de Carvalho e José Pedro Croft surgem de seguida. “Linha da Terra e do Rio” é o nome da escultura de Zulmiro, dois cilindros metálicos de dimensões diferentes, sobrepostos um ao outro, dentro do registo que o artista já nos habituou. A obra de Croft presenciamos quatro enormes espelhos de ferro e aço polido, que refletem a vida quer do Homem, como da natureza e os seus ritmos e ciclos. Cada espelho reflete de forma diferente a imagem devido aos diferentes polimentos executados no aço.


“Rega”, a obra divertida de Ângela Ferreira que encanta miúdos e graúdos. Esta peça cita de modo direto um dos objetos relacionado com a prática da agricultura modernizada e automatizada. Um pivô de rega em tubo metálico, pintado com tons alegres como amarelo, vermelho e verde, onde a artista incluiu 4 baloiços, que ao serem utilizados como diversão, fazem com que o pivô rode percorrendo uma circunferência em seu torno. Esta é com certeza a obra mais experienciada no parque, pelos seus visitantes.

As árvores figurativas ou naturais são um ponto de encontro entre duas esculturas no parque. A “Casa Quadrada Com Árvore Dentro” de Carlos Nogueira, partindo da forma simples de abrigo a que estamos habituados (a caixa) e erguendo-a sobre pilastras esta obra remete-nos para as cheias do rio Tejo e as casas-palafitas das comunidades avieiras vizinhas. A casa conta com a ausência do telhado que por sua vez já é ocupado pela copa de uma arvore que cresce dentro dela, destacando a inevitável corrosão de todas as coisas e ao mesmo tempo destaca a força da natureza sobre a obra humana. Por sua vez, Alberto Carneiro, apresenta-nos uma obra intitulada de “Sobre a Floresta”. Esta conta com 33 elementos verticais em granito e bronze personificadas na forma de árvores e 33 pedras graníticas com palavras gravadas. Disposta em forma de mandala, onde os vários elementos se dispõem simetricamente em circunferências e raios concêntricos. Nas pedras foram inscritas realidades básicas do mundo, tais como, água, vida, arte, ar, fogo e terra por sua vez os pontos cardiais compõem um discurso de centralidade à peça.


Pedro Cabrita Reis e Rui Chafes oferecem-nos peças “fechadas”. Primeiramente “Castelo” de Cabrita Reis, um modelo de edifício que sugere para a torre ou castelo em granito amarelo com pequenas janelas quadradas a toda a sua volta por onde deixa atravessar a luz solar registando as diferenças de cada momento do dia. Relembrando também o castelo de Almourol que tão perto se encontra deste espaço magnifico. Já Rui Chafes, exibe o “Contramundo”, uma espécie de bicho-de-conta que se enrola ficando protegido pela carapaça. Esta obra pelo seu imponente tamanho em ferro metalizado com uma pintura preto mate sugere uma incerteza para o que quis o artista representar, será esta uma memória da vida perdida ou um animal ameaçador? Dobrado sobre si, junto do canavial, escondido entre as árvores como um animal assustado ou aguardando pacientemente colocando o outro em perigo?

Por fim, Fernanda Fragateiro com “Concrete Poem” e Joana Vasconcelos com “Trianons”. Um conjunto de vigas em betão branco e peças em aço inox, que nos convidam a sentar ou a exercitar, como se de uma peça de imobiliário se tratasse. Nesta obra Fernanda Fragateiro conjuga a poética e o concreto ao referir um movimento literário, (concret poem), e o próprio material da peça (concret = cimento). Joana Vasconcelos leva-nos numa viagem histórica entre a Revolução Francesa e a atualidade democrática. Duas estruturas metálicas opostas com fitas plásticas, onde uma nos remete para uma redoma delicada e preciosa ( com um formato arredondado e fitas plásticas brancas ) e a outra para a simplificação e massificação de produção (  com o formato de um cubo e fitas plásticas de várias cores). Este jogo de verdade e erro que se expande pelo excesso de corres e escala escultórica, alargam os efeitos magníficos das suas obras.




Este é sem dúvida um espaço para revisitar e nos deixarmos guiar pelo espírito artístico e criativo envolvente.

 

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