sábado, 28 de maio de 2022

O mundo sem sol

O mundo sem sol

 

Figura 1- cartaz do filme

Recentemente descobri que a plataforma YouTube, disponibiliza à distância de um clique, ( link-  https://www.youtube.com/watch?v=4mp0PA-O_4c ),o documentário francês, Le Monde sans soleil, de 1964, dirigido por Jacques -Yves Cousteau, com duração cerca de 90 minutos. 

É um filme visualmente belo e definitivamente intrigante, filmado totalmente debaixo de água, narra a “Conshelf Two”, a primeira tentativa ambiciosa de criar um ambiente no qual os homens ( sim, nem uma mulher a bordo), pudessem viver e trabalhar no fundo do mar. Trata-se de um género de colónia submarina, “auto-suficiente” de ar, água, comida, energia e todos os elementos essenciais da vida, embora tivesse todo o apoio por parte de uma equipa  que estava à superfície, acompanhando cada passo. Para contextualizar, Cousteau, foi um oficial da marinha francesa, oceanógrafo e inventor, mundialmente conhecido pelas suas viagens de pesquisa do fundo do mar. Considerado o pai do mergulho porque, nos anos 40,  inventou o fato de mergulho autónomo, permitia então ao mergulhador mover-se livremente enquanto mergulha com uma reserva de gás (ao contrário do que acontecia com o escafandro, que dependia um tubo que assegura a respiração) . 

 

 

Num reino onde o sol nunca brilha, esta equipa de mergulhadores, são os pioneiros de uma aventura histórica, a conquista da plataforma continental, um território gigantesco, maior que a África. É a primeira vez que um submarino de bolso, o 'disco de mergulho' de Cousteau, tem uma base submarina, no fundo do mar. Imagens incríveis, todas filmadas com uma câmara de bolso, nos trazem as sequências subaquáticas líricas e dramáticas, que também provavelmente,  contribuíram para o início de uma era de conservação dos oceanos, além de promover o mergulho recreativoCenas memoriáveis são reveladas, que envolvem homens a nadar com peixes, um jogo de xadrez subaquático e o disco de mergulho atingindo profundidades de 300 metros de profundidade, encontrando novas e únicas formas de vida.
    É um facto que através do filme documentado, o cineasta é capaz de tornar o mundo mais acessível, e a ideia de que a câmara se tornou o olho do mundo revelando a todos os seres, os novos lugares que até então não tinham tido destaque e nem tinham sido explorados. Graças às suas expedições, foi possível conhecer , descobrir os encantos e assistir à beleza da vida marinha e os seus ecossistemas.

A exposição individual do artista Hugo Canoilas, Moldada na Escuridão, que está patente na Gulbenkian, com a curadoria de Rita Fabiana, remeteu-me de imediato para o filme de Cousteau. Esta exposição dá corpo a uma investigação sobre os fundos marinhos iniciada pelo artista em 2020, um dos ambientes mais omnipresente do planeta Terra mas ainda que muito pouco explorados.

 

 

Trata-se de uma exposição que apresenta-se sob forma de uma instalação imersiva e multissensorial que invade toda a galeria de exposições temporárias.  Nesta única sala, perde-se a noção dos limites do espaço, e questiona-se o tempo, remete-nos a um tempo longínquo, ao período Cretáceo, num período em que a vida na Terra se fazia por outros seres gigantes. O autor apresenta-nos um mundo de formas, de outros seres, num misto de esculturas - pinturas, vão se revelando na penumbra e alguns rastos de luz, entre o conhecido e o nunca antes visto, pairam naquela escuridão, alguns aparente seres marinhos lumineos, medusas, entre outros organismos... 
Inspirados  na vida nos fundos marinhos e ambientes aquáticos de profundidade , a luz é escassa. No chão da galeria, esculturas em vidro e resina acrílica e objetos têxteis constroem camadas que se acumulam e se sobrepõem, como estratos sedimentados, abrigando um conjunto de ecossistemas em que “cada objeto-coisa-criatura age sobre o outro, perde a sua autonomia e identidade única”.

A publicação que acompanha a exposição abre com o texto «The Gray Beginnings», um dos capítulos da obra The Sea Around Us da autoria da bióloga marinha, ecologista e escritora Rachel Carson (1907-1964). Este texto seminal, de onde foi retirado o título da exposição, é um estudo científico que narra de modo poético a formação do oceano, berço da vida na Terra. Esta é também a primeira vez que é editado em Portugal.

Entre o filme e a exposição, compreende-se um espaço temporal de 58 anos, e o fundo do mar continua a ser um habitat muito pouco explorado. Estima-se que, hoje, mais de 80% dos oceanos ainda permaneçam inexplorados, e parte porque, é uma área muito extensa, aproximadamente 71% da superfície da Terra é coberta de água, e 97% é de água salgada. Assim, como a parte terrestre do nosso planeta possui uma grande complexidade e dinâmica geológicas, o fundo do mar também possui ilhas, vulcões extintos e ativos, cadeias de montanhas, ou  fossas oceânicas.



 

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